FOLHA - As novas mídias, sobretudo a web, tiveram papel central na campanha. Após esta eleição, o que muda na relação da mídia tradicional (jornal, TV, rádio) e das novas mídias com a política?
BENTES - Os eleitores de Obama mobilizaram a blogosfera. O candidato teve recorde de doações pela internet para sua campanha, sendo financiado pelos próprios eleitores, fato inédito. Respondeu a acusações postando vídeos no YouTube, disseminando imagens no Flickr, mensagens diretas para os celulares dos eleitores e mensagens instantâneas no Twitter, seguidas por milhões na rede. A possibilidade de uma "democracia participativa" (apesar do caráter representativo e indireto do sistema de votação nos EUA) surge nessa forma potencial de uso das redes sociais, de relacionamento e compartilhamento. Por meio delas, o eleitor constrói a informação, intervém nos discursos, reage contra a mídia tradicional, repercute, interage e se mobiliza numa forma de ativismo que coloca em xeque a centralidade da mídia tradicional e da democracia representativa. TVs e jornais tiveram que se associar à internet, ao YouTube, fazer debates on-line com a participação dos internautas. Um dos primeiros fatos midiáticos na campanha de Obama surgiu quando uma eleitora escreveu o nome do candidato no traseiro, criou um jingle divertido e postou esse vídeo de "agitprop" no YouTube, obtendo milhões de cliques de atenção na mídia global. Num só ato, sublinhou a caretice do marketing político tradicional e apontou para uma questão decisiva: cultura política descentralizada, heterogênea e novas formas de ativismo.
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