25/10/2009

Lampião

Lampião bordava, escrevia poesias, desenhava, pintava e bordava.

Tive o prazer de ver as obras de Lampião numa Bienal de Arte em SP, quando comecei a questionar o quanto a nossa arte popular é deixada de lado.
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Perfil de Lampião
Quanto ao físico e indumentária, Leonardo Motta, célebre folclorista cearense, assim o descreveu

Amulatado, estatura meã; magro e semi-corcunda; barba e nuca ordinariamente raspados e sempre que é possível perfumados; na perna esquerda encravada uma bala, com que o alvejou o sargento "Quelé", da polícia parahybana; o olho direito branco e cego, escondido pelos óculos pardacentos, de aros dourados; mãos compridas que se assemelham a garras; os dedos cheios de anéis de brilhantes falsos e verdadeiros; ao pescoço, vasto e vistoso de cor berrante, preso ao lado por valioso anel de doutor em direito; sobre o peito, medalhas do padre Cícero, escapulários e saquinhos de "rezas fortes", chapéu de cangaceiro, tipicamente adornado de correias e metal branco; ensimesmado toda vez que defronta uma turma de curiosos; folgazão quando entre poucos estranhos ou no meio de comparsas; não se esquecendo de um guarda costa à direita sempre que desconhecidos o rodeiam; paletó de camisa de riscado, claro, calças de brim escuro; alpercatas reluzentes de ilhozes amarelos; a tira-colo, 2 pesados embornaes de balas e bugingangas, protegidos por uma coberta e chales finos; tórax guarnecido por 3 cartucheiras; ágil como um felino mas aparentando constante estropiamento e exaustão; às mãos um fuzil; à cintura duas pistolas "parabellum" e um punhal de 78 centímetros de lâmina. (In: Araújo, 1982, p. 76)
Virgulino Ferreira da Silva

Por trás de sua face bárbara, o cangaceiro Lampião escondia um sensível dândi, devotado às questões estéticas e culturais de seu tempo (início do século) e espaço (agreste nordestino).
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A estética do cangaço
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“Em 1938, reportagem da revista norte-americana “Time Life” apontava Maria Bonita como uma mulher da moda”.
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Lampião também se interessava por cinema. Em Capela (PE), assistiu a cerca de dez filmes. Gostava da série norte-americana de aventura “Os perigos de Minhoca”. Também apreciava as histórias de amor. Mas, se o casal se separava, saía antes do fim.
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” Lampião tinha um lado feminino muito acentuado. Mas não se deve cair na armadilha de dizer que ele era gay”, afirma Lins, autor de uma tese de doutorado sobre Lampião, defendida na Universidade de Sorbonne (França) e está sendo traduzida para o português.
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“Quando ele estava calmo, era um doce de mel, mas depois virava uma cobra.” Para Lins, o cangaceiro era mais liberal que o sertanejo, porque permitia o chamego entre pessoas do mesmo sexo e a mancebia” (concubinato).
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Segundo ele, há registros de que Lampião recebia cafuné do cangaceiro Cascavel, mas nada além disso. Essas ocorrências teriam desaparecido com a chegada de mulheres ao bando, em 1929. Lins diz que era branda a discriminação contra supostos homossexuais. “Os efeminados apenas se tornavam cozinheiros e eram obrigados a casar com as mulheres feias.”
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Frederico Pernambucano de Melo, autor de “Quem Foi Lampião” e um dos maiores colecionadores e historiadores do cangaço, vê o movimento como um precursor do feminismo no Brasil.
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“Pela primeira vez na história, as mulheres dividiam as tarefas com os homens igualitariamente. E o comprimento da saia subiu para cima do joelho”, diz. Segundo ele, os acampamentos de cangaceiros se aproximavam das antigas cortes asiáticas, por sua opulência e moral sexual mais permissiva.
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Cangaço exportação:
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Daniel Lins aponta uma espécie de “boom” do cangaço no exterior. De acordo com suas contas, foram produzidas recentemente dez teses na Europa (três só na Sorbonne) e seis nos EUA relacionadas ao tema, em sua maioria realizadas por estrangeiros.
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Há menos de um mês, terminou em Aix-la-Chapelle (França) uma exposição sobre o cangaço promovida por uma instituição governamental da Suíça.
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Segundo Lins, vários fatores explicam esse interesse. Em primeiro lugar, o cinema, com “0 Cangaceiro” (l953), de Lima Barreto, e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (l964), de Glauber Rocha. Depois, a literatura, com as obras de Graciliano Ramos.
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Contribui também o caráter exótico e político do cangaceiro (que, pela ótica esquerdista, seria um revolucionário). “Lampião continua como uma máquina de sonho. E, além disso, a idéia do herói efêmero (morreu aos 41 anos, de forma violenta) o traz para a pós-modernidade, concluiu Lins.
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Tendências lançadas ou adotadas por Lampião e seu bando

1 Chapéu – inspirado no modelo francês adotado pelo imperador Napoleão Bonaparte, de quem
Lampião leu a biografia.
2 Lenços – de tafetá francês ou seda pura inglesa; geralmente estampados e coloridos, quebravam a monotonia do tom ocre da roupa.
3 Brincos – ao contrário de outros sertanejos, os cangaceiros usavam brincos e outras jóias.
4 Casaco – desenhado e costurado em algodão ou couro por Lampião, que carregava uma máquina de costura Singer para todos os seus acampamentos; tem também inspirações medievais.
5 Perfume – os cangaceiros costumavam ser reconhecidos pelo cheiro excessivo de perfume, inclusive pelas volantes; Lampião preferia o “Fleur d’Amour”, considerado um dos melhores perfumes franceses entre os anos 20 e 40.
6 Calça – o modelo mais usado era com culote e cintura bem alta; usavam até três no inverno devido ao frio à noite.
7 Cabelo – longo. Lampião deixou de cortar os cabelos como promessa, após a morte do irmão, sendo seguido pelos outros cangaceiros; s vezes, eles penduravam anéis no cabelo, depois de lotados todos os dedos das mãos.
8 Arma – como outros adereços, era cravejada de moedas de ouro, influência da marchetaria árabe no sertão nordestino; segundo o historiador Gilberto Freyre, os árabes são uma “eminência parda” na cultura nordestina.
9 Alpargatas – enfeitadas com desenhos costurados; tinham uma lingueta para proteger os dedos
10 Saia – sempre acima do joelho, desrespeitando a convenção da saia rendada até o tornozelo.
11 Anéis – mulheres e homens usavam até três anéis por dedo.
12 Alpargatas – desenhadas e confeccionadas em couro por Dadá, mulher de Corisco, estilista do grupo.
13 Colares – também usados em abundância.
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Olê mulher rendeira / Olê mulher rendá / Tu me ensina a fazer renda / Que eu te ensino a namorar." Esses versos, quando soavam no sertão nordestino dos anos 20 e 30, podiam ser prenúncio de muito sangue - ou de muita festa. Lampião e seu bando entravam nas vilas cantando. (...) Por isso, quando ouvia Mulher Rendeira, que aliás é de autoria de Lampião, a gente sertaneja oscilava entre o pavor e a curiosidade. Ou fugia ou ia espiar pelas frestas, para ver aquele cuja fama já fascinava o país.
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Para combater a Coluna Prestes, marcha de militares revoltosos comandados pelo Capitão Luís Carlos Prestes, que depois tomou-se líder comunista, o governo se aliou ao cangaceiro em 1926.
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Janeiro: o bandido é convocado.
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Com a coluna se aproximando do Ceará, Floro Bartolomeu, deputado federal do Estado, recruta uma força de defesa, os Batalhões Patrióticos, e vai com ela para Campos Sales (CE). Prepara uma carta convocando Lampião e a manda para o Padre Cícero endossar. Um mensageiro vai atrás de Lampião. Enquanto isso, Bartolomeu, adoentado, segue para o Rio.
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Lampião recebe a carta e segue para Juazeiro. Acampa com 49 homens perto da cidade e mais de 4 000 curiosos vão vê-lo. No dia 5, se encontra com o Padre Cícero e recebe uma patente de capitão dos Batalhões Patrióticos, assinada, acredite, por um funcionário do Ministério da Agricultura. Mais tarde esse homem diria que, naquelas circunstâncias, assinaria até exoneração do presidente. Todos os cangaceiros recebem uniformes e fuzis automáticos. No dia 8, Floro morre.
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Lampião parte decidido a cumprir o combinado, mas é perseguido em Pernambuco, o que o desaponta. Volta para falar com o Padre Cícero. Como este não o recebe, interrompe sua carreira de defensor público e retoma a rotina de crimes.
(….)
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Nos intervalos entre um crime e outro, os cangaceiros rezavam e se divertiam. Organizavam bailes, para os quais se perfumavam exageradamente. Antes da entrada das mulheres no bando, homens dançavam com homens mesmo.
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Em meio ao sangue, Lampião achava lugar para a religião. Nos acampamentos, rezava o ofício, espécie de missa. Carregava livros de orações e pregava fotos do Padre Cícero na roupa. Em várias das cidades que invadiu chegou a ir à igreja, onde deixava donativos fartos, exceto para São Benedito. “Onde já se viu negro ser santo?”, dizia, demonstrando seu racismo.
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Em tempos de calmaria, os cangaceiros dividiam o tempo entre a fé e o prazer. Jogavam cartas, bebiam, promoviam lutas de homens e de cachorros, faziam versos, cantavam, tocavam e organizavam bailes. Para essas ocasiões se perfumavam muito. Mello informa que Lampião tinha preferência pelo perfume francês Fleur d’Amour. Balão, que viveu os últimos anos do cangaço, contou antes de morrer que eles usavam mesmo era Madeira do Oriente, bem mais popular. Há relatos de que os bandoleiros perfumavam até os cavalos quando andavam montados .
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Rastros
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Uma forma de escondê-los era andar em fila indiana, todos pisando na mesma pegada. O último ia de costas, apagando-a com plantas, Mandavam também fazer alpercatas com o salto na frente e não atrás, como é normal. A pegada parecia apontar para o outro lado.…
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Apelidos
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Quando um integrante do grupo morria, seu apelido era adotado por um novato. Essa é uma das razões que faziam os cangaceiros parecer invencíveis, pois os nomes eram imortais.
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Em 1921, ele formou seu próprio grupo. No começo, matava os poderosos e distribuía o dinheiro dos saques aos pobres. Aos poucos, porém, abandonou essa prática e fez conluios com coronéis. Em 1927, o padre Cícero convocou o bando de Lampião para lutar contra o movimento comandado por Luís Carlos Prestes – a favor da democracia e contra o governo Vargas – em troca da anistia a seus crimes.
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Com a recusa do governo em conceder a anistia, o grupo fugiu com as armas cedidas por padre Cícero, tomando-se o mais temido bando entre os 46 que atuavam à época.
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Aglutinou diversos grupos menores sob seu comando, que se estendeu por até 300 cangaceiros. Depois de conhecer Maria Bonita, Lampião decidiu criar uma comunidade perto de Santa Brígida (BA) para aproximar casais e convencer o bando a aceitar mulheres.
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Com o aumento de seu poder, Lampião comprou fazendas, subdividiu seu grupo e criou um quartel em Angico (SE), onde se estabeleceu como traficante de armas. Lá, foi morto à traição por outro traficante em 1938.
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As cabeças de Lampião e seus cangaceiros foram cortadas e exibidas pelo Nordeste. Maria Bonita, além de ter a cabeça decepada, foi empalada. (Ricardo Calil)
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No interior do Pernambuco, o culto já exige monumentos. No dia 7 de julho, quando, segundo o Registro Civil, se comemoram 100 anos do nascimento de Lampião, o município de Triunfo lançará a pedra fundamental de uma estátua de 32 metros de altura para homenageá-lo. Com o apoio do povo. Triunfo segue o exemplo da vizinha Serra Talhada, ex-Vila Bela, terra natal do cangaceiro, que, em 1991, organizou um plebiscito para saber se ele merecia uma honraria dessas. O resultado foi sim e a estátua só não existe ainda por falta de verbas.
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Bem antes de morrer, Lampião já inspirava poemas, músicas e livros. (...) Em geral, ele era tratado como herói, um nobre salteador, que tomava dos ricos para dar aos pobres. Em 1931, o mais importante jornal americano, The New YorkTimes, divulgou essa versão caridosa do criminoso.
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"Baile Perfumado"
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Dos três filmes, "Baile Perfumado" se aproxima mais das teses sobre a estética do cangaço, principalmente as desenvolvidas por Frederico Pernambucano de Melo. "Lampião aparece bebendo uisque, importado, tomando banho de perfume francês, dançando e costurando", contam os diretores Lírio Ferreira e Paulo Caldas.


Este vídeo registra o encontro de Lampião com o fotógrafo e cineasta libanês Benjamin Abraão, autor das únicas imagens do cangaceiro. Benjamin conviveu por 6 meses com o bando de Lampião. Neste vídeo fica visível também a relação de Lampião com a imprensa, a preocupação com a forma como a imprensa da época o descrevia, bem como a percepção, por parte do narrador, que Lampião seria outro se tivesse ido oportunidades, ou seja, se tivesse nascido noutro país.

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Lampião ou Virgulino Ferreira da Silva foi mais uma vitima da má distribuição de renda e das injustiças cometidas no sertão nordestino brasileiro. Ainda, muito cedo convive com os desmandos dos coronéis que tinham o habito de confiscarem as terras alheias.

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Lampião tornou-se um mito para muitos sertanejos, para quem o cangaço representava uma alternativa de ascensão social, o personagem criado em cima de suapessoa está ligado aos interesses dos poderosos que temiam pela reforma agrária e pela distribuição de seus bens aos pobres de riqueza e de espírito.

Resposta de Lampião a uma pergunta que teria sido feita por um jornalista:
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- Tive um combate com os revoltosos da coluna Prestes, entre São Miguel e Alto de Areias. Informado de que eles passavam por ali, e sendo eu um legalista, fui atacá-los, havendo forte tiroteio. Depois de grande luta, e estando com apenas dezoito companheiros, vi-me forçado a recuar, deixando diversos inimigos feridos.
FONTE: http://www.lampiao.sertaonet.com.br/
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Comentário meu
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"Há registros de que Lampião recebia cafuné do cangaceiro Cascavel, mas nada além disso.(...)"
Agora fiquei em dúvida.
Lampião era homoafetivo?
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