08/07/2010

Nesta noite sonhei com Villegaignon..,,,não sabia do que se tratava..,,,achei isso na internet

VILLEGAIGNON, Nicolau Durand

Por FERNANDO KITZINGER DANNEMANN - no Recanto das Letras

Diante da oposição que por volta de 1550 se fazia na França aos chamados huguenotes (apelido dado pelos católicos franceses aos protestantes, especialmente os calvinistas), o almirante francês Nicolau Durand de Villegaignon (1510-1571), decidiu fundar uma colônia na América (França Antártica) para dar refúgio aos seus companheiros de credo religioso. Seu projeto resultara da declaração “Jamais vi a cláusula do testamento de Adão que concede todo o mundo aos seus primos, os reis de Portugal e Espanha”, feita por Francisco I, rei que governou a França de 1515 a 1547, quando se referia ao Tratado de Tordesilhas, documento pelo qual os reis português e espanhol, donos dos mares de então, repartiam entre si as novas terras descobertas.



Apoiado por Gaspar II de Coligny, que desfrutava de grande prestígio na corte de Francisco II, ele partiu de seu país em 1555, com dois navios, desembarcando em uma ilha da baía do Rio de Janeiro (hoje conhecida como baía da Guanabara). Ali ele construiu um forte na ilha de Serigipe, ao qual deu o nome de Coligny, recebendo, cerca de dois anos após a sua chegada, uma expedição comandada por Bois-le-Comte, que trazia mulheres, crianças, colonos e pastores protestantes. Mas o difícil convívio de todas essas pessoas em uma terra que lhes era estranha acabou provocando o surgimento de ambições insatisfeitas, rivalidades crescentes e disputas teológicas cada vez mais acirradas, razão pela qual Villegaignon resolveu retornar à França pouco tempo depois, onde passou a manter com Calvino, criador da nova seita, controvérsias sem nenhum proveito prático.



Não são muitos os registros da presença do almirante francês no Brasil, tanto que na universidade de Brasília existe apenas um livro sobre ele. Sabe-se, porém, que ele temia pelo futuro da França Antártica, o que é comprovado pelo teor de uma carta sua datada de 30 de novembro de 1557, e endereçada a Francisco de Lorena, segundo duque de Guise, que com seu irmão, cardeal de Lorena, era quem realmente exercia o poder no reino. Essa mensagem dizia o seguinte:



A meu senhor, monsenhor Duque de Guise, Par de França. Monsenhor, Deus, por sua graça, favoreceu tanto nossos trabalhos que terminei minha fortaleza, e a pus
num estado tal que não penso ter visto uma outra tão fácil de guardar. Desse
modo, posso colocar em terra sessenta pessoas em um forte de madeira que fiz à
vista de meu castelo, ao alcance de minha artilharia, onde eles se empenham em
plantar e semear para viver de sua colheita. Recolhi uma quarentena de escravos
de uma aldeia de nossos inimigos que venci. Mandei rever todas as nossas
fronteiras, desde a partida de nossos navios, e mandei saber o que desejam fazer
os amigos de nossos vizinhos. Tive muito boa resposta. Eles me prometeram
rebelarem-se e expulsá-los quando eu desejar. Nossos selvagens formam um
exército de mais de três mil homens para ir vingar o prejuízo que aqueles nossos
vizinhos nos causaram no ano passado. Enviei um navio muito bem preparado para
costear todo nosso país até 36 graus, aproximando de nosso pólo, onde soube que
os castelhanos vêm por terra, do Peru, procurar metais. Espero enviar-vos
notícias pelo primeiro de nossos navios. Eu vos suplico, Monsenhor, intercedei
por mim junto ao rei, a fim de que ele não me abandone, mas que lhe seja
agradável vir em meu socorro, com algum dinheiro, para ajudar a trazer de volta
meus navios, e espero não decepcioná-lo de maneira que ele não se arrependerá de
me ter ajudado. Suplico ao Criador, Monsenhor, dar-vos, em uma muito feliz e
longa vida, a realização de vossos nobres desejos. De nossa fortaleza de
Coligny, na...




Villegaignon era extremamente rigoroso com os seus compatriotas, impondo-lhes férrea disciplina em um ambiente onde as privações materiais e morais não eram poucas. Mas o que precipitou o fim do seu sonho foi o desentendimento religioso surgido a partir de março de 1557, quando três navios franceses chegaram à baía de Guanabara trazendo 120 huguenotes, os protestantes franceses, e mais cinco mulheres, cuidadas por uma governanta solteirona. As moças logo se uniram aos colonos nos primeiros matrimônios de brancos em terra brasileira, mas os calvinistas entraram em conflito com o almirante, que havia retornado à fé católica, o que transformou a pequena ilha numa réplica de Paris, na época amargando as guerras religiosas da Reforma.



Sobre esse desentendimento, diz-se que em 1557 o católico Villegaignon sustentava que a eucaristia não era antropofagia, que ao comungar não se estava comendo o corpo de Cristo e sim, realizando o mistério da eucaristia. Enquanto os protestantes, discípulos de Calvino, acreditavam que a hóstia e o vinho eram símbolos do corpo do Senhor. A polêmica foi tão séria que em junho daquele ano um navio saiu do Brasil e foi até a França pedir o parecer de eclesiásticos sobre o tema, embora não haja registro de que alguma resposta tenha sido dada. O certo é que a tensão entre o almirante e os huguenotes tornou-se tão grande, que em 4 de janeiro de 1558 Villegaignon despachou os calvinistas para Paris, e estes, lá chegando, passaram a difundir a versão de que o comandante vivia entre trair o protestantismo e escravizar seus compatriotas. . . “Ele é o Caim da América. .” , escrevera Jean de Lèry, principal rival de Villegaignon nesta polêmica.



Em 1559, Villegaignon decidiu retornar à França em busca de apoio, deixando seu sobrinho, Bois Le Comte, como comandante. E não mais voltou ao Brasil. Em 1568 ele representou a Ordem de Malta - uma organização com características religiosas e militares e que hoje subsiste apenas como instituição honorífica - na corte da França, dedicando-se também a publicar, em latim, obras sobre as guerras das quais partilhara. A ilha por ele ocupada no Rio de Janeiro recebeu posteriormente o nome de Villegaignon, e nela hoje se encontra instalada a Escola Naval, instituição de ensino dedicada à preparação e formação de oficiais da marinha de guerra brasileira.

http://recantodasletras.uol.com.br/biografias/931864

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