Por Renato Rovai, em seu blog
Quando Dilma não foi ao segundo turno, algumas pessoas atribuíram o resultado ao poder da grande mídia e a força das igrejas. São duas instituições ainda com razoável poder de influência social, mas depois de ler a pesquisa Datafolha divulgada hoje arrisco dizer que a internet tem sido a bola da vez desta eleição.
Era uma suspeita que tinha já há alguns dias, mas que carecia de dados. Agora eles existem.
Segundo o Datafolha, 56% do eleitorado brasileiro costuma acessar a internet. Entre esses, 30% recebeu mensagens virtuais com críticas a algum dos presidenciáveis. Ou seja, 14% do total do eleitorado.
E quem era o alvo freqüente das mensagens desfavoráveis, principalmente Dilma. Quase a totalidade deste eleitorado de 30% recebeu mensagens atacando-a, 28%. Apenas 8% contra Serra e 2% contra Marina.
O Datafolha explica que a soma dos percentuais é superior a 30% porque alguns entrevistados receberam mensagens críticas a mais de um candidato.
O instituto também registra que a penetração dessas mensagens é menor entre aqueles que estudaram até o ensino fundamental, 3%. E que têm renda mensal familiar de até dois salários mínimos, 6%. Já entre os mais escolarizados, esse tipo de informação difundida na internet chegou a 45%.
Foi na internet que teve início a desconstrução da imagem de Dilma. Histórias foram sendo inventadas e difundidas a partir de listas. A narrativa era mais ou menos a mesma. A candidata petista era apresentada como uma mulher sem escrúpulos capaz de qualquer coisa.
É verdade que depois essas histórias ganharam as ruas, os bares, os templos. Mas elas já estavam na internet. E aqueles que se tornaram difusores espontâneos dessas histórias já tinham como “provar” que ela era verdadeira. Mostravam emails contando detalhes daquilo que tagarelavam.
Um dos últimos e mais abjetos ataques a Dilma que vi ser difundido por email ainda no primeiro turno foi divulgado hoje pelo blogueiro Josias de Souza. Sinceramente, não sei o que o motiva a fazê-lo agora, porque a história é velha. Mas não quero entrar nesta polêmica.
Trata-se de um email com cópia de um processo contra Dilma que estaria sendo movido por uma ex-empregada. O motivo do processo: Dilma teria tido uma relação de casal durante 15 anos com a tal empregada e a deixou sem nada. A pessoa exigia reparações. O email é repleto de detalhes. É assinado por um advogado e sua OAB inclusive é divulgada. Claro que tudo é falso. Nem OAB nem advogado existem.
Mas um email impresso correndo na sala de uma casa classe média, com OAB e nome do advogado à vista, tem um poder imenso. Da mesma forma numa casa de periferia. Com um agravante. As pessoas mais simples acham que o fato de o documento ter “vindo da internet” é uma garantia de idoneidade.
O curioso, porém, é que os “especialistas” imaginavam que a internet poderia ser usada como plataforma de mobilização de campanha, como foi no caso Obama.
Mas nesta eleição brasileira ela foi arma de guerrilha, de anti-campanha.
Mesmo assim tem gente ainda achando que ela teve um papel secundário nesta eleição. A pesquisa Datafolha, porém, soterrou essa hipótese.
Renato Rovai
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