08/07/2011

Arte em processo (Catarse)

O admirável mundo novo onde o homem será perfeito ou  feliz.
Neste mundo, ficará para trás o nosso "eu primata"

A este respeito assista a esta parte do debate entre o neurocientista Nicolélis e o filósofo Pondé, na Flip 2011.


Hoje as máquinas já interagem conosco e há quem queira mais, que o diga o cientista Nicolélis, merecedor do nosso respeito, sua história de vida merece o nosso aplauso, as suas pesquisas para minorar o sofrimento de paraplégicos, idem. No entanto ele tende ao exagero quando preconiza um mundo onde não haverá espaço para sofrimentos psíquicos nem cartarses.

Engraçado, ao comentar sobre este assunto, a máquina me sugeriu a palavra "caterse" que, por sua vez, o Google traduziu como "catarse", tanto faz.

Como segunda opção a máquina me apresentou a palavra "GENTE".

Estou falando destas letras que o sistema pede que escrevamos para que saibam se somos ciborgues ou não. Num terceiro momento apareceu a palavra "MUNCARDS". Ah sim, entendi, o mundo dos cards. Isso.


Caterse ou catarse, tanto faz, falando em catarse, tenho que ficar quieto, a minha boca está com gosto de sangue, pode ser princípio de hemorragia, é que fui submetido a uma cirurgia para a extração de um dente, eu deveria ter tido mais cuidado com meu corpo
  1. Por conta de uma cirurgia para uma extração de um dente, tive que ficar quieto em casa, motivo pelo qual li com mais atenção seus textos. É que no corrre, nem sabia que alguns textos postados no Luis Nassif Online eram do editor do ótimo blog blog Cinegnose.

    Pela primeira vez leio um outro ponto de vista sobre Nicolélis, pois direita e esquerda tem o endeusado, aqui me incluo, até então pois, face a estes seus esclarecimentos, em especial por apontares o modelo perfeccionista e matemático cartesiano do neurocientista. Como dizem, não há mal que não traga um bem, a reclusão levou-se a alertar-me.

    Que fiquemos atentos e não percamos a noção das coisas. Que jamais deixemos de dar importância aos defeitos, imperfeições, acasos, ou seja, este andar por linhas tortas para se chegar à verdade, o caminho oposto do mundo cartesiano destes que juram que os ciborges melhorarão o mundo.


    "Ciborgues sociais. Mais amplamente, o termo "organismo cibernético" é usado para descrever redes de comunicação e controle. Por exemplo, cidades, redes de estradas, redes de software, corporações, mercados, governos. Uma corporação pode ser considerada uma inteligência artificial que emprega componentes humanos para seu funcionamento." (Wikipédia)
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    #6 by José Carlos Lima - 8 de julho de 2011 19:03
    Na FLIP 2011 houve um debate entre Pondé e Nicolelis.
    Pondé tem um ponto de vista no mesmo sentido do seu, Wilson.

    Ah sim, tive dificuldade em postar comentários aqui, primeiro apareceram as letras de confirmaçã. Apareceu a palavra "GENTE" mas sem o campo para escrevê-la como confirmação. Para continuar tive que clicar em editar, etc etc, nem todos saberão se virar.

    Quer dizer, GENTE eu sou, acho que sim.

    Sobre Pondé x Nicolélis:

    O debate Pondé-Nicolelis na Flip
    Enviado por luisnassif, sex, 08/07/2011 - 16:30
    Por alfredo machado

    Nassif:

    Este “duelo” entre a água e o vinho deve ter sido um espetáculo, ainda por cima naquela beleza que é Parati.

    Do iG

    Debate na Flip contrapõe ceticismo filosófico com ciência

    'O que humaniza o ser humano é o fracasso', disse Luiz Felipe Pondé, em conversa com o neurocientista Miguel Nicolelis

    Estevão Azevedo, especial para o iG Cultura | 07/07/2011 23:22

    Para o neurocientista Miguel Nicolelis, uma possibilidade. Para o filósofo Luiz Felipe Pondé, um risco. A última mesa da quinta-feira (dia 7) da Flip 2011 teve duas performances inspiradas e um público pronto a responder com palmas ou risadas às muitas frases de impacto.

    Performances enriquecidas pela oposição entre o ceticismo radical de Pondé – "o que caracteriza o ser humano é o sofrimento" – e a crença no poder da ciência de Nicolelis – "estamos próximos do instante em que o cérebro primata vai se libertar dos limites físicos do corpo". Ponto para a curadoria, que além de acertar na escolha dos nomes, reservou o horário mais nobre do dia para o encontro.

    Nicolelis começou sua apresentação – cheia de recursos audiovisuais – descrevendo o cérebro como "prisioneiro desse corpo de primata que tem ações limitadas" e suas pesquisam que buscam tornar o cérebro capaz de comandar máquinas robóticas.

    Proeza que pode significar a recuperação dos movimentos para pacientes com lesão medular. A meta, afirmou, é fazer a primeira demonstração pública de uma prótese de corpo inteiro, comandada por uma criança paraplégica, na Copa de 2014 – "um gol da ciência brasileira".

    A voz embargada e o conteúdo do anúncio – em tom de promessa – fizeram o público entusiasmar-se. Não à toa, a ótima mediadora, a jornalista Laura Greenhalgh, em sua próxima intervenção, questionou-o sobre o uso que faz de imagens religiosas para explicar conceitos científicos. Nicolelis defendeu o uso, por conta de sua eficácia na transmissão de conhecimentos complexos para leigos.

    Ciência versus religião

    O que para Nicolelis conduz a uma vida melhor, para Pondé significa um perigo. A necessidade do ser humano de ir além de si mesmo, explicou o professor de ciências da religião, casa-se com os projetos de uma engenharia político-social que, em última instância, tem muito a ver com eugenia.

    Baseado no pensamento do filósofo alemão contemporâneo Peter Sloterdijk de que a eugenia – na forma da busca contínua do ser humano de se superar e diminuir seu sofrimento – está no cerne do pensamento científico e filosófico ocidental, Pondé alertou: "os cérebros podem ser enormes máquinas de produção de crenças monstruosas".

    Em algo, no entanto, o cético e o otimista concordam: a ciência nunca será capaz de criar máquinas com consciência humana.

    http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-debate-ponde-nicolelis-na-flip

    O Delírio Digital de Nicolelis: O Brasil alinhado à agenda tecnognóstica internacional

A entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo" concedida pelo internacionalmente prestigiado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis é um flagrante exemplo das principais características da retórica do "delírio digital" que justifica a agenda tecnognóstica atual: o mix de messianismo, exterminismo e transcendentalismo para racionalizar os esforços das neurociências e ciências cognitivas em virtualizar a consciência.

Definitivamente, a pesquisa científica brasileira se alinha à agenda tecnognóstica desse início de século. Miguel Nicolelis, um dos pesquisadores brasileiros de maior prestígio mundial, na última quarta-feira foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, na qual já foi membro Galileu Galilei e tendo como um dos seus atuais membros o físico inglês Stephen Hawking.

Nicolelis é diretor do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (Rio Grande do Norte). Pioneiro nos estudos sobre a interface cérebro-máquina, suas descobertas apareceram na lista das dez tecnologias que devem mudar o mundo, divulgada em 2001 pelo MIT (Massachusets Institute of Technologie) e em 2009 foi o primeiro brasileiro a merecer uma capa da revista Science.

A entrevista concedida por Nicolelis a Alexandre Gonçalves do jornal “O Estado de São Paulo” (para lê-la clique aqui), pode ser considerada extremamente didática. Primeiro, porque, em poucas palavras, consegue resumir a utopia tecnognóstica que orienta a agenda científica das últimas décadas. E, segundo, por ser um ótimo exemplo da retórica dessa utopia que denomino como “delírio digital”: um misto de messianismo, exterminismo e transcendentalismo.

Delírio Digital

Lendo a entrevista, não saia da minha cabeça a lembrança daquele slogan que marcou os primeiros textos messiânicos dos anos 90 sobre as transformações que a tecnologia digital e a Internet trariam para o mundo: “Adapt or You´re Toast”, adapte-se ou você está frito!

O discurso de Nicolelis é dominado por expressões como “novidade explosiva”, “corpo deixar de ser o fator limitante”, “eficácia”, “evolução”, “o que definimos como ser mudará drasticamente”, “seleção natural rápida”, “criamos um sexto sentido”, “a evolução humana vai se acelerar”.

O tom emergencial da retórica de Nocolelis sobre a inevitabilidade evolutiva humana determinada pelos avanços científicos tem um tom evidentemente exterminista: tudo o que é passado é um fator limitante (corpo, linguagem etc.). Deve ser superado num processo de seleção natural acelerado, dessa vez não mais comandado por genes ou processos biológicos, mas, agora, pela vontade do cérebro.

O elemento messiânico da sua retórica revela o elemento místico por trás da racionalidade científica: as ferramentas científicas deixam de ser meras extensões ou potencializadoras das ações do corpo humano. 

Mais do que isso, as ferramentas (exoesqueletos, nanotecnologias, neuroengenharia) transformarão a própria noção de “ser”. Uauuu! O que séculos de filosofia buscaram, agora, de uma só vez, será tudo resolvido e revelado: o problema é a linguagem, estúpido! Como Nicolelis afirma, corpo e linguagem serão eliminados para uma conexão direta entre o cérebro e as máquinas.

Para além dos óbvios problemas filosóficos dessa afirmação (mais abaixo trataremos disso), o messianismo é evidente: descobertas tecnocientíficas levadas a cabo por uma elite do conhecimento anunciam transformações radicais no próprio ser humano. Os dois lados da equação (elite e ser humano) são tomados num sentido abstrato, sem determinação histórica ou política (“ser humano” quem, cara pálida?). Se pesquisadores como o francês Paul Virilio e o canadense Arthur Kroker já demostraram que toda agenda científica ou tecnológica atende, em primeiro lugar, a interesses táticos e bélicos (as aplicações militares do “exoesqueleto” é um exemplo explícito) para, mais tarde, seus subprodutos serem comercializados para a população civil, temos motivos suficientes para desconfiarmos dessa retórica messiânica.

Do exterminismo e messianismo a retórica do “delírio digital” converge para o transcendentalismo. É a revelação do seu conteúdo místico ou tecnognóstico: a necessidade de abandonarmos os nossos corpos. É a concepção do “Pós-humano”, um novo ser que não necessitaria mais do corpo ou da linguagem. A tecnologia criaria um atalho para o espírito transcender como pura “vontade”.

Como Nicolelis afirma:
“criamos um sexto sentido. Vai ser uma novidade explosiva, mas não posso dar mais detalhes, pois o artigo ainda não foi publicado. A internet como conhecemos vai desaparecer. Teremos uma verdadeira rede cerebral. A comunicação não será mediada pela linguagem, que deixará de ser o principal canal de comunicação. Para entender isso, basta pensar que toda linguagem é um comportamento motor – como mexer o braço. Esse comportamento motor também poderá ser decodificado e transmitido. Grandes empresas – como Google, Intel, Microsoft – já tem suas divisões de interface cérebro-máquina.”
Dentro da concepção exterminista, corpo e linguagem são problemáticos. Finitude, existência e limitação definem o corpo; e diferenças de idiomas, incompreensão, entrelinhas e conotações são atributos da linguagem. Tudo isso atrapalham as potencialidades da vontade pura. São “ruídos” que atrapalham a livre manifestação. A vontade é inequívoca, reta. Transcende a torre de babel da linguagem e a falibilidade da carne.
Para Nicolelis a Neuroengenharia libertará o homem
não só do corpo mas da torre de babel da linguagem. 

O elemento transcendentalista é evidente na retórica do delírio digital: se Deus puniu o homem com a pluralidade de idiomas (como narra o episódio bíblico da Torre de Babel) para condená-lo à prisão do espírito na incomunicabilidade da linguagem, agora a neuroengenharia vai trazer a solução através do atalho tecnocientífico. Exterminando corpo e linguagem, o potencial do espírito (a Vontade) se libertará.

É claro que esses elementos retóricos do delírio digital são encobertos pelas aplicações médicas imediatas: pesquisas em torno do Mal de Parkinson e os benefícios do exoesqueleto para pessoas com paralisia física. 

A divulgação midiática desses resultados confere uma imagem utilitária e altruísta à neuroengenharia e ciências cognitivas. De certa forma, laicizam (encobre os propósitos místicos ou transcendentalistas) e popularizam uma tecnociência conduzida por uma nova elite (a “classe virtual”, como chama Arthur Krooker).

Mas quem controlará o Hardware?

Depois que as tecnologias digitais decretaram a morte das mídias tradicionais, agora a retórica exterminista decreta o fim da última mídia, o próprio corpo. Esse desejo por virtualização é o que define a ideologia da nova elite, segundo Kroker:
“Isso não tem a ver com ser pró ou anti tecnologia, mas em considerar as consequências da realidade virtual quando tão profundamente se fala na linguagem do exterminismo. Na era da classe virtual, tecnologia digital funciona para desmerecer a experiência corporal, para nos fazer sentir humilhados e inferiores diante da renderização do corpo em diferentes formas eletrônicas, de computadores a televisão no brilho e vampirismo do mundo da propaganda. A atitude em considerar o corpo como um projeto que não deu certo nos conduz a uma cultura dominada por um niilismo suicida” (Kroker, Arthur & Marilouise, Hacking the Future. New York, St. Matin’s Press, 1996, p. 80.)
Se misticamente falando esse discurso é tecnognóstico, politicamente representa um projeto político maior: a endocolonização. Se historicamente a evolução das mídias e da publicidade se basearam na sistematicamente desvalorização do julgamento individual para mais facilmente serem aceitos os conteúdos midiáticos e publicitários, agora temos o estágio final desse movimento: a endocolonização através da desvalorização da experiência corporal individual de tal forma que a mente esteja livre para se integrar a um banco de dados mundial e o monitoramento de fluxos de informações.

Não mais interfaces ou periféricos. O cérebro diretamente integrado e sem resistências.

O Neuromarketing e a Memética de Richard Dawkins já havia iniciado esse movimento de endocolonização por meio do mapeamento dos estímulos neuronais para a eficaz fixação das mensagens de propaganda. Agora, com a neuroengenharia e a busca da interface final (cérebro/máquina, biológico/eletrônico) teremos a possibilidade da quebra da resistência final: o espírito, agora traduzido como “vontade”.

Mas quem controlará o Hardware? O discurso despolitizado de Nicolelis parece ignorar essa questão fundamental. Embora fale em “democratização da ciência”, tranquilamente fala de que Google, Intel e Microsoft possuem seus departamentos de neuroengenharia. Partindo dos fatos históricos envolvendo complexo militar e a tecnociência apontados por Kroker e Virilio, quem controlará o hardware que pavimentará essas infovias onde circularão indivíduos com o seu ego imerso nas redes digitais?

As problematizações sócio-políticas sobre Engenharia social, monitoramento e controle são temas que passam longe dessa retórica messiânica e tecnoutópica.

Onde está a consciência?

Para René Descartes a consciência estava em uma
glândula localizada no cérebro
Embora toda a discussão das ciências cognitivas e neuroengenharia ter ares high tech e de ultra-modernidade, seu pressuposto é cartesiano. Assim como o filósofo francês René Descartes, no século XVII, procurava localizar a consciência (para ele estaria localizado num glândula no cérebro), agora, ao descrever a consciência dentro dos modelos computacionais, procura-se localizá-la no cérebro, desprezando o resto do corpo (para Nicolelis, a única função do corpo será a de manter o cérebro vivo).

Isso vai contra todos os avanços da recente história da Filosofia e da Psicologia.

Por exemplo, a grande contribuição da fenomenologia do francês Merleau-Ponty no século XX foi estabelecer as bases cinestésicas da consciência e da percepção. Partindo de um princípio holístico, corpo e consciência estão relacionados e mutuamente engajados. A própria percepção de si mesmo e do ambiente depende do posicionamento corporal e da sua ação sobre os objetos. Consciência e experiência estão em um mesmo fenômeno e não são excludentes como encara o cogito cartesiano.

De forma regressiva as neurociências retomam a essa concepção cartesiana de consciência como algo que sobrevoa a existência e que, portanto, deve ser libertada por meio de uma intervenção da neuroengenharia.

Portanto, a retórica do celebrado neurocientista brasileiro Nicodelis definitivamente se alinha à agenda tecnognóstica da comunidade científica internacional. Uma agenda marcada pela convergência das neurociências e ciências cognitivas criando uma verdadeira “religião da tecnologia” (a tecnognose) cuja utopia transcendentalista encobre projetos políticos e sociais bem materialistas: engenharia social, controle e monitoramento a partir de verdadeiras cartografias futuras da mente.

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FONTE: http://cinegnose.blogspot.com/2011/01/o-delirio-digital-de-nicolelis-o-brasil.html

" (...) Magistralmente, “Fonte da Vida” desenvolve esses aspectos. E, mais do que isso, o filme trabalha o profundo significado do personagem gnóstico de Sophia. Contraponde-se ao conhecimento da Religião e da Ciência (que estruturam o cosmos material que aprisiona o protagonista) Sophia/Rainha Isabel/Izzy oferece um outro conhecimento: a gnose. O protagonista aprenderá que a matéria/corpo não deve ser negada ou descartada (como quer a Religião – corpo como grilhão – ou como quer a Ciência – corpo que necessita de uma cura para escapar da morte). A verdadeira elevação espiritual está no aprendizado com o corpo e a matéria, tanto no caos, prazer e morte. A elevação através de experiências que somente a existencial material pode proporcionar. (...)" Wilson Vieira sobre o filme "Fonte da Vida" 

19:00 - Não sei como será daqui prá frente.
Usar o sistema Visão - Forma - Conhecimento.
Nesta postagem há visão (código 1), Forma(código 2) e Conhecimento (código 3). Conhecimento ou profissão ou vocação, como por exemplo o spin neurocientista(Nicolélis), spin filósofo(Pondé), spin escritor (Wilson)...

A minha dúvida decorre do fato de que eu havia pensado que  após a postagem a imperfeição (Arte em Processo: Assimetria) começaria a falar das leis ou lógica ou realidade a partir do INTEGRAL PERFEITO que, repito,  não tem nada a ver com perfeccionismo ou cartesianismo.

20:00 - Nicolélis, do qual sou admirador, esteve na luta junto com todos nós para impedir a vitória da direita, ou melhor dizendo, do esgoto, o que não me impede de discordar do seu projeto de homem feliz num "admirável mundo novo":

“Neste livro, eu proponho que, assim como o universo que tanto nos fascina, o cérebro humano também é um escultor relativístico; um habilidoso artesão que delicadamente funde espaço e tempo neuronais num continuum em> orgânico capaz de criar tudo que somos capazes de ver e sentir como realidade, incluindo nosso próprio senso de ser e existir. Nos capítulos que se seguem, eu defendo a tese de que, nas próximas décadas, ao combinar essa visão relativística do cérebro com nossa crescente capacidade tecnológica de ouvir e decodificar sinfonias neuronais cada vez mais complexas, a neurociência acabará expandindo a limites quase inimagináveis a capacidade humana, que passará a se expressar muito além das fronteiras e limitações impostas tanto por nosso frágil corpo de primatas como por nosso senso de eu.

Eu posso imaginar esse mundo futuro com alguma segurança baseado nas pesquisas conduzidas em meu laboratório, nas quais macacos aprenderam a utilizar um paradigma neurofisiológico revolucionário que batizamos de interfaces cérebro-máquina (ICM). Usando várias dessas ICMs, fomos capazes de demonstrar que macacos podem aprender a controlar, voluntariamente, os movimentos de artefatos artificiais, como braços e pernas robóticos, localizados próximo ou longe deles, usando apenas a atividade elétrica de seus cérebros de primatas. Essa demonstração experimental provocou uma vasta reação em cadeia que, a longo prazo, pode mudar completamente a maneira pela qual vivemos nossas vidas.

Nesse admirável mundo novo, centrado apenas no poder dos relâmpagos cerebrais, nossas habilidades motoras, perceptuais e cognitivas se estenderão ao ponto em que pensamentos humanos poderão ser traduzidos eficiente e acuradamente em comandos motores capazes de controlar tanto a precisa operação de uma nanoferramenta como manobras complexas de um sofisticado robô industrial. Nesse futuro, enquanto sentado na varanda de sua casa de praia, de frente para seu oceano favorito, você um dia poderá conversar com uma multidão de pessoas, fisicamente localizadas em qualquer parte do planeta, por meio de uma nova versão da internet (a “brainet”) sem a necessidade de digitar ou pronunciar uma única palavra. Nenhuma contração muscular envolvida. Somente por meio de seu pensamento.

A perspectiva dessa maravilhosa alforria, que hoje ainda pode soar para alguns como magia, milagre ou alquimia, não mais pertence ao domínio da ficção científica. Esse mundo do futuro está começando a se delinear, diante de nossos olhos, aqui e agora.”

Texto na íntegra:  http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12715



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