28/03/2018

O fascismo na Itália é irmão do fascismo do sul do Brasil. Por Lucia Helena Issa

Por

 Diario do Centro do Mundo



Professor Abel, alvo do ódio dos “filhos do Hitler”, como disse Lula

Publicado no Facebook de Lucia Helena Issa, jornalista
Morei em Roma durante seis anos, de onde colaborei como jornalista com dois grandes jornais brasileiros, e durante os meus anos em Roma, tentei entender o ódio que tomou conta dos jovens italianos nas décadas de 30 e 40 e como o ódio foi sendo alimentado por grupos poderosos e invisíveis até então, legitimando agressões contra todos os que pensassem de forma diferente, contra os jovens de esquerda, contra mulheres mais independentes, contra trabalhadores rurais etc, dando origem ao Fascismo. 
As milícias fascistas eram chamadas de “fascio”, uma espécie de feixe com vários gravetos de madeira que, juntos, podem fazer uma fogueira, segundo uma das metáforas usadas na época.
O movimento dos “fascio” passou a ganhar força quando a Milizia Volontaria per La Sicurezza passou a agredir as pessoas em passeatas. Os agressores eram chamados de Camicie Nere, Camisas Negras, em homenagem aos “arditi”, que usavam uniformes negros, e agiam em nome do anticomunismo, do antipacifismo e do ” nacionalismo”.
Os Camisas Negras atacavam mulheres, jovens, espancavam grevistas, intelectuais críticos ao fascismo, membros das ligas camponesas e de qualquer grupo que pensasse de forma diferente dos fascistas. Poucas pessoas sabem que bem antes da II Guerra, os “fascios” foram responsáveis pelo assassinato de 600 italianos, enquanto a polícia italiana se omitia ou se recusava a fazer algo.
Essas milícias, no início, usavam porretes e chicotes ao invés de armas, pois seu objetivo era humilhar seus inimigos e não matá-los. A semelhança entre o MBL e outros grupos como os que atacaram mulheres que estavam participando de uma caravana política, com os jovens fascistas italianos da década de 30 é assustadora. Os Camicie Nere queriam impedir as pessoas de circularem livremente pelo território italiano.
As milícias que atacam no Brasil também. Os Camicie Nere odiavam os trabalhadores rurais, os jovens de esquerda e os membros das Ligas Camponesas. Os que atacaram no sul do Brasil também. Os fascistas italianos tiveram o apoio de policiais e, mais tarde, do próprio Mussolini. Os que agrediram mulheres no sul do Brasil tiveram o apoio dos policiais e de uma senadora da República.
Vivendo em Roma, pude entrevistar pessoas que perderam seus pais durante o Fascismo e centenas de mulheres que lutam para que a história jamais se repita e o ódio não seja adubado. Recentemente, o Facebook fechou uma página italiana chamada “Giovani fascisti italini” (Jovens Fascistas Italianos), que tinha como objetivo alimentar o ódio e como membros jovens de extrema direita e dois senadores que os apoiavam.
Recentemente, o Facebook brasileiro fechou uma página ligada ao MBL, por criar notícias falsas sobre a vida de Marielle Franco e por alimentar o ódio.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-fascismo-na-italia-e-irmao-do-fascismo-do-sul-do-brasil-por-lucia-helena-issa/



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Papa no Domingo de Ramos parece falar ao Brasil: ''Crucifica-O!'. É a voz de quem manipula a realidade criando uma versão para seu próprio benefício'


Papa Francisco no Domingo de Ramos

Tempo estimado de leitura: 7 minutos e 30 segundos 

A homilia do Papa Francisco neste Domingo de Ramos está na íntegra aqui (em italiano) e a seguir na tradução do próprio Vaticano.

Parece escrita para o momento em que vive o Brasil. De ódio. Um ódio criado, manipulado e dirigido. Mas, como já escrevi aqui, a verdade é uma força da natureza.

Jesus entra em Jerusalém. A liturgia convidou-nos a intervir e participar na alegria e na festa do povo que é capaz de aclamar e louvar o seu Senhor; alegria que esmorece, dando lugar a um sabor amargo e doloroso depois que acabamos de ouvir a narração da Paixão. Nesta celebração, parecem cruzar-se histórias de alegria e sofrimento, de erros e sucessos que fazem parte da nossa vida diária como discípulos, porque consegue revelar sentimentos e contradições que hoje em dia, com frequência, aparecem também em nós, homens e mulheres deste tempo: capazes de amar muito... mas também de odiar (e muito!); capazes de sacrifícios heroicos mas também de saber «lavar-se as mãos» no momento oportuno; capazes de fidelidade, mas também de grandes abandonos e traições.

Vê-se claramente em toda a narração evangélica que, para alguns, a alegria suscitada por Jesus é motivo de fastídio e irritação.

Jesus entra na cidade rodeado pelos seus, rodeado por cânticos e gritos rumorosos. Podemos imaginar que são a voz do filho perdoado, a do leproso curado ou o balir da ovelha extraviada que ressoam, intensamente e todos juntos, nesta entrada. É o cântico do publicano e do impuro; é o grito da pessoa que vivia marginalizada da cidade. É o grito de homens e mulheres que O seguiram, porque experimentaram a sua compaixão à vista do sofrimento e miséria deles... É o cântico e a alegria espontânea de tantos marginalizados que, tocados por Jesus, podem gritar: «Bendito seja o que vem em nome do Senhor!» (Mc 11, 9). Como deixar de aclamar Aquele que lhes restituíra a dignidade e a esperança? É a alegria de tantos pecadores perdoados que reencontraram ousadia e esperança. E eles gritam. Rejubilam. É a alegria.

Estas aclamações de alegria aparecem incómodas e tornam-se absurdas e escandalosas para aqueles que se consideram justos e «fiéis» à lei e aos preceitos rituais [cf. R. Guardini, Il Signore (Brescia-Milão 2005), 344-345]. Uma alegria insuportável para quantos reprimiram a sensibilidade face à angústia, ao sofrimento e à miséria. Mas, destes, muitos pensam: «Olha que povo mal educado!» Uma alegria intolerável para quantos perderam a memória e se esqueceram das inúmeras oportunidades por eles usufruídas. Como é difícil, para quem procura justificar-se e salvar-se a si mesmo, compreender a alegria e a festa da misericórdia de Deus! Como é difícil, para quantos confiam apenas nas suas próprias forças e se sentem superiores aos outros, poder compartilhar esta alegria! (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 94).

E daqui nasce o grito da pessoa a quem não treme a voz para bradar: «Crucifica-O!» (Mc 15, 13). Não é um grito espontâneo, mas grito pilotado, construído, que se forma com o desprezo, a calúnia, a emissão de testemunhos falsos. É o grito que nasce na passagem dos factos à sua narração, nasce da narração. É a voz de quem manipula a realidade criando uma versão favorável a si próprio e não tem problemas em «tramar» os outros para ele mesmo se ver livre. Trata-se duma [falsa] narração. O grito de quem não tem escrúpulos em procurar os meios para reforçar a sua posição e silenciar as vozes dissonantes. É o grito que nasce de «maquilhar» a realidade, pintando-a de tal maneira que acabe por desfigurar o rosto de Jesus fazendo-O aparecer como um «malfeitor». É a voz de quem deseja defender a sua posição, desacreditando especialmente quem não se pode defender. É o grito produzido pelas «intrigas» da autossuficiência, do orgulho e da soberba, que proclama sem problemas: «crucifica-O, crucifica-O!»

E deste modo, no fim, silencia-se a festa do povo, destrói-se a esperança, matam-se os sonhos, suprime-se a alegria; deste modo, no fim, blinda-se o coração, resfria-se a caridade. É o grito do «salva-te a ti mesmo» que pretende adormecer a solidariedade, apagar os ideais, tornar insensível o olhar... O grito que pretende cancelar a compaixão, aquele «padecer com», a compaixão, que é o «ponto fraco» de Deus.

Perante todas estas vozes que gritam, o melhor antídoto é olhar a cruz de Cristo e deixar-se interpelar pelo seu último grito. Cristo morreu, gritando o seu amor por cada um de nós: por jovens e idosos, santos e pecadores, amor pelos do seu tempo e pelos do nosso tempo. Na sua cruz, fomos salvos para que ninguém apague a alegria do Evangelho; para que ninguém, na própria situação em que se encontra, permaneça longe do olhar misericordioso do Pai. Olhar a cruz significa deixar-nos interpelar nas nossas prioridades, escolhas e ações. Significa deixar-nos interrogar sobre a nossa sensibilidade face a quem está a passar ou a viver momentos de dificuldade. Irmãos e irmãs, que vê o nosso coração? Jesus continua a ser motivo de alegria e louvor no nosso coração ou envergonhamo-nos das suas prioridades para com os pecadores, os últimos, os abandonados?

E no vosso caso, queridos jovens, a alegria que Jesus suscita em vós é, para alguns, motivo de fastídio e também irritação, porque um jovem alegre é difícil de manipular. Um jovem alegre é difícil de manipular.

Neste dia, porém, existe a possibilidade de um terceiro grito: «Alguns fariseus disseram-Lhe, do meio da multidão: “Mestre, repreende os teus discípulos”. Jesus retorquiu: “Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras”» (Lc 19, 39-40).

Calar os jovens é uma tentação que sempre existiu. Os próprios fariseus inculpam Jesus, pedindo-Lhe que os acalme e faça estar calados.

Há muitas maneiras de tornar os jovens silenciosos e invisíveis. Muitas maneiras de os anestesiar e adormecer para que não façam «barulho», para que não se interroguem nem ponham em discussão. «Vós… calai-vos!» Há muitas maneiras de os fazer estar tranquilos, para que não se envolvam, e os seus sonhos percam altura tornando-se fantastiquices rasteiras, mesquinhas, tristes.

Neste Domingo de Ramos, em que celebramos o Dia Mundial da Juventude, faz-nos bem ouvir a resposta de Jesus aos fariseus de ontem e de todos os tempos (também os de hoje): «Se eles se calarem, gritarão as pedras» (Lc 19, 40).

Queridos jovens, cabe a vós a decisão de gritar, cabe a vós decidir-vos pelo Hossana do domingo para não cair no «crucifica-O» de sexta-feira... E cabe a vós não ficar calados. Se os outros calam, se nós, idosos e responsáveis (tantas vezes corruptos), silenciamos, se o mundo se cala e perde a alegria, pergunto-vos: vós gritareis?

Por favor, decidi-vos antes que gritem as pedras...


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