Na Santa Inquisição a palavra "herege" foi usada para justificar atrocidades |
NOVILÍNGUA
Incrível como a elite tupiniquim chega a este ponto de usar a prisão injusta de um tetraplégico para justificar o "privilégio" de Genoíno e, o pior, grande parte da população acha normal uma vez que, por algum motivo, uns por ignorância não percebem, outros percebem mas apoiam por má fé mesmo ou por questão de classe. Só sei que, em se comparando com o golpe militar de 64, o script é o mesmo: Da mesma forma que achava normal caçar, prender, censurar, torturar e matar jovens que lutavam contra a ditadura militar. Para isso a repressão se valia da palavra mágica "terrorista". Para o mesmo objetivo, a mesma elite usa a palavra "mensaleiro", bem como "privilégio", "privilegiado".
Sabemos que privilégio, na real, regalias mesmo foram aquelas das quais usufruíram os réus do mensalão tucano, no STF, desde 2003, a maioria dos crimes já prescreveu, o processo foi desmembrado ficando no STF apenas os do foro privilegiado como manda a lei, e olhe lá que no mensalão tucano houve uso de recursos públicos, enriquecimento ilícito e até a morte de uma modelo, isso não é incrível. Estou citando apenas um exemplo, pois há tantos outros, que desde o Mensalão do DEM (o Roberto Arruda, com ficha limpa, será candidato a deputado federal), e uma dezena de Operações da PF que dormem em alguma gaveta do STF.
Não mexam no status quo, ai daquele que se atrever a mudar este país no sentido do combate à desigualdade social e a caça aos verdadeiramente corruptos, aqueles que roubam no atacado: talvez por isso tem carta branca por parte do sistema midiático-penal.
A resposta dos verdadeiros mandatários, que são o 1% que detém em suas mãos o poder econômico e a mídia, será implacável. O modus operandi da nossa secularmente perversa elite é a mesma, os golpes são dados de forma sutil, de forma que parte da população, levada pela mídia pelo matadouro, demora cair a ficha. Lamentável que o ministro Joaquim Barbosa tenha se prestado a este papel de auxiliar da Casa Grande.
A elite tupiniquim tem um antigo know-how golpista. Vejam que os personagem do Golpe do Judiciário são os mesmos do golpe militar: A mesma mídia levando para o matadouro parte da população, o mesmo Carlos Lacerda (UDN) e seu extremismo que, neste golpe, é encarnado por Joaquim Barbosa, ainda sem partido mas que, em questão de dias, no máximo até março, por exigência da lei eleitoral, ele(Barbosa) deve entrar na disputa eleitoral, é bem provável que use a vassourinha de Jânio Quadros. e o resultado todos nós sabemos, foram mais de duas décadas mergulhados numa sangrenta ditadura e agora, da mesma forma, vejo pessoas aplaudindo esse golpe do judiciário, parece-me que não percebem que os personagens são os mesmos, os presos políticos são os mesmos, a diferença é que, repito, ao invés da palavra "terrorista", o mote agora é "mensaleiro". Saiba mais sobre o processo da novilíngua.
Autor:
José Carlos Lima
Em recente artigo, Paulo Moreira Leite apontou o uso de palavras como "privilégio" e "privilegiado" ´pela superestrutura, sendo que tais palavras "mágicas" tem sido repetidas à exaustão para a criação de consensos perante a opinião publica(da) e assim justificar a barbárie, como se a maior barbárie fosse, por exemplo, o fato de que , no Brasil, 5 famílias abocanham mais da metade da riqueza nacional o que, de fato, é um privilégio criminosa.
Privilegiados e perseguidos, por Paulo Moreira Leite
Da Istoé
Privilegiados e perseguidos
No país da novilíngua, direito assegurado em lei é tratado como privilégio
Há muito tempo nós sabemos que o uso de palavras inadequadas é uma das formas menos inocentes e mais eficazes de manipulação política.
Permite esconder a realidade, confundir o cidadão comum e estimular reações que não têm apoio nos fatos.
Estudioso aplicado dos regimes stalinistas, a quem acusava de manipular uma ideologia igualitária criada pelo pensamento comunista para construir uma ditadura opressiva, George Orwell criou o termo novilíngua para explicar o fenômeno.
Com isso, explicava, era possível fazer uma coisa – e fingir que se praticava seu oposto.
Cinco décadas depois da morte de Josef Stalin, velhas técnicas stalinistas de propaganda foram despidas de sua origem primeira e servem a qualquer causa, a qualquer ideologia, mesmo a mais conservadora: esconder fatos desagradáveis, falhas humanas, gestos incoerentes, contradições e mesmo mentiras.
É tudo retórica. Seu método, no entanto, é o mesmo. Consiste em usar uma questão real para deformá-la ao sabor de propósitos e conveniências de momento.
No Brasil de 2013 a novilíngua está na primeira página dos jornais.
Empregar o termo “privilegiados” para se referir aos condenados na ação penal 470 e usar a expressão “privilégios” para se referir às condições no presídio da Papuda é prestar um favor desnecessário às autoridades comandadas por Joaquim Barbosa.
Um exame criterioso dos fatos mostra que, pelo contrário, desde o início o STF tomou um conjunto de medidas jurídicas que é adequado classificar como perseguição em vez de prestação de favor ou benefício indevido.
Já era absurdo falar em privilégio para cidadãos condenados num julgamento “exemplar” onde foram aceitas várias medidas excepcionais e nada exemplares. Para quem ainda fica surpreso quando lê isso, vamos recordar rapidamente. Quem já está cansado de ouvir os argumentos, pode pular para o final do ítem “F”.
A) Negou-se o direito a um duplo grau de jurisdição, garantia constitucional reservada a todo brasileiro que não tem foro privilegiado e assegurado aos mensaleiros PSDB-MG e também no DEM do Distrito Federal.
B) Na falta de provas capazes de demonstrar a culpa dos réus além de qualquer dúvida razoável, aceitou-se uma teoria exótica, do domínio do fato, que não tem a mais remota ligação com o caso em questão.
C) As penas foram agravadas artificialmente, em debates onde se disse, explicitamente, que a prioridade era garantir que os réus fossem encarcerados – e não que a justiça deveria ser feita.
D) Os réus foram acusados de desviar R$ 73,8 milhões do Banco do Brasil mas a própria instituição nega, oito anos depois da denúncia, que qualquer centavo tenha sido extraído indevidamente de seus cofres.
E) Os petistas foram acusados de encobrir o esquema através de contratos fictícios com o Banco Rural mas a Polícia Federal garante que foram verdadeiros e envolviam empréstimos reais.
F) investigações que poderiam ajudar na inocência de determinados réus até hoje se encontram sob segredo de justiça. O julgamento já acabou e o segredo continua.
Também é errado falar em privilégio na fase de execução das penas. Presos num feriado de 15 de novembro, até hoje réus com direito a cumprir pena em regime semiaberto são mantidos em regime fechado – a última novidade é avisar que mesmo quem tiver conseguido trabalho fora da prisão deverá, em nome da” igualdade,” aguardar no fim da fila pelo exame de seus pedidos. Sabemos o que isso significa, certo? Também sabemos que o fatiamento dos mandatos de prisão foi anunciado como uma medida que iria beneficiar os réus. Na prática, o que se vê é uma forma de garantir que fiquem em regime fechado – de qualquer maneira.
Os presos foram deslocados para a Papuda em dia de feriado nacional, num esforço obvio para usar seu infortúnio – a perda de liberdade é sempre um infortúnio para cidadãos convencidos de seu valor, certo? -- como ilustração para um evento de propaganda.
Um preso como José Genoíno está proibido de dar entrevistas, o que atenta contra a liberdade de expressão.
Que privilégios são estes?
Na realidade, o que se quer é negar o direito de uma pessoa pelo fato de que nem sempre ele se encontra ao alcance de todos.
Equivale a obrigar um cidadão a pagar, como indivíduo, pelas irresponsabilidades e omissões acumuladas por gerações e gerações que estiveram a frente do Estado.
Qualquer calouro de ciência política sabe que, num país onde a distribuição de renda e a desigualdade seguem uma tragédia, a luta pela igualdade é necessária e positiva.
Mas, na situação atual, basta que os meios de comunicação, que definem o que é a opinião publicada, que muitos confundem com a opinião pública, tenham disposição de dar crédito a novilíngua quando ela convém. Pela falta de um componente indispensável a seu trabalho, o espírito críticos, eles referendam a manipulação do “privilégio” e do “privilegiado.”
Na ficção de Orwell, a função do ministério da Verdade era divulgar mentiras, não é mesmo?
Só quem nunca abriu um gibi de sociologia acredita que a vida real é um simples decalque das planilhas de renda do IBGE.
A experiência demonstra que uma pessoa pode ser privilegiada, do ponto de vista econômico e social, mas perseguida – até com violência -- do ponto de vista político.
Milionário, o empresário Rubens Paiva foi preso, torturado e massacrado num ritual animalesco sob o regime militar.
Mortos com um tiro na nunca, na guerrilha do Araguaia, quando estavam desarmados e dominados, dezenas de militantes do PC do B haviam saído de famílias de classe média, tinham diplomas universitários e seriam, em comparação aos demais brasileiros, cidadãos privilegiados.
E até hoje o Estado brasileiro não foi capaz de dar qualquer notícia sobre o paradeiro de Rubens Paiva nem desses estudantes do Araguaia, situação que transforma a dor de seus familiares num sofrimento idêntico ao dos parentes de Amarildo, o humilde pedreiro torturado e morto pela PM numa favela do Rio de Janeiro em 2013.
Nenhum torturador de Rubens Paiva foi preso, nem julgado nem condenado. Idem para os estudantes do PC do B. Idem, possivelmente, para os carrascos de Amarildo.
Centenas de milhares de brasileiros são vítimas, todos os dias, da incompetência da policia para prender e controlar a violência de criminosos comuns. Milhões de mandados de prisão destinados a prender ladrões de automóvel, assaltantes de resistência, quadrilhas de sequestradores, não são cumpridos.
Vítimas de assalto e de roubo muitas vezes sequer se animam a fazer qualquer denúncia porque tem certeza de que será inútil – ou mesmo arriscado, caso tenham de identificar suspeitos.
Estrutura de classe? Privilégio?
Do playboy Doca Street ao doutor Osmany Ramos, sem falar em vários casos de médicos-monstro de nossos consultórios, e até banqueiros especialmente inescrupulosos, o inferno de nosso sistema prisional possui exemplos de habitantes dos degraus superiores que foram colocados atrás das grades. Embora a impunidade seja grande, vez por outra até figurões do judiciário são apanhados e denunciados.
O discurso contra o privilégio dos prisioneiros da ação penal 470 também alimenta uma operação de marketing político. É uma arma eleitoral, na realidade.
Procura associar a condição de riqueza e privilégio econômico a lideranças de um governo que tem um histórico reconhecido de combate a desigualdade na renda e na ampliação das oportunidades para os mais pobres. A tentativa é mostrar que todos os governos são iguais e que nenhum político tem valor.
É aquilo que os estudiosos chamam de desconstrução.
E assim voltamos ao período em que nasceu a novilíngua. Foi o tempo dos Grandes Expurgos, quando, através da violência e da ditadura, Josef Stalin eliminou uma geração inteira de combatentes e lideranças da vida política da antiga União Soviética e consolidou um poder absoluto que manteve até a morte, quase vinte anos depois.
“Morte aos cães!” gritava o procurador geral, Andrey Vichinsky. Aos condenados, punidos com a pena de morte, exigia-se que aceitassem suas penas, admitissem suas falhas, confessassem erros e, em especial, traições. Sim, esta palavra, traição, era essencial. O importante, de qualquer modo, era que morressem depois de confessar. Não podia haver ilusão quanto a seu destino na história. Estavam condenados e precisavam admitir sua culpa, sua falha, sua fraqueza.
É assim que, 80 anos depois, em outro país, em outro contexto, sob outro regime, se fala em privilégios e privilegiados. É uma parte importante dos combatentes da ditadura, onde se encontram, e eu duvido que seja pura coincidência, os mais decididos, mais resolutos, mais corajosos, aqueles que mais estiveram comprometidos com mudanças reais e com a construção de uma democracia de conteúdo social, aliada dos mais pobres, dos excluídos, dos negros, que devem ser silenciados.
Um quarto de século depois da democratização do país, os brasileiros convivem, pela primeira vez, com um sistema plítico onde a polarização política reflete, menos remotamente do que gostariam nossos sociólogos da aristocracia, uma certa divisão de interesses de classe na sociedade. Não vamos criar fantasias nem caricaturas. Todos sabemos dos limites e falhas inesquecíveis do governo Lula-Dilma desde 2003.
Mas eu acho difícil negar que, apesar disso, os brasileiros vivem uma situação nova na sociedade, onde as camadas inferiores obtiveram direitos e conquistas.
Deixo para os historiadores e os eruditos verdadeiros e independentes, que não estão na folha de pagamentos da novilingua industrial, nem usam uma bola de cristal de uma cigana sobrancelhuda que só faz profecias para anunciar desastres, a tarefa de encontrar um outro governo, em nossa história, que tenha demonstrado um empenho tão profundo com a preservação do emprego, a melhoria do consumo e a distribuição de renda. Num período de capitalismo de abismo, este é o grande diferencial, a primeira fronteira, o ponto de partida, a luta inicial. É a resistência, num universo onde economistas do Estado mínimo dizem que comer bife todo dia é extravagância.
É por causa disso que palavras fora do lugar, como “privilégio” e “privilegiados” têm tanta importância. É ali que está o alvo a ser atingido pela novilíngua.
Não são os prisioneiros, alguns competentes, outros trapalhões, outros as duas coisas. Talvez até haja corruptos entre eles, vamos admitir, até porque sabemos que podemos encontrar essas pessoas em todos os cantos de nosso universo político, em casos até mais cínicos e escancarados. Mas nós sabemos que, sem provas, isso é igual a nada.
O que se quer, muito simplesmente, é impedir o debate sereno de fatos e provas que podem mostrar o que houve – e não aquilo que se quer fazer acreditar que aconteceu no julgamento da AP 470.
(http://www.jornalggn.com.br/noticia/privilegiados-e-perseguidos-por-paulo-moreira-leite)
Ainda sobre o uso da novilíngua pela superestrutura para justificar a prática da tortura, outro artigo:
O tetraplégico e a mídia carrasca, por Miguel do Rosário, em O Cafezinho
Publico abaixo dois textos sobre o mesmo tema. A tentativa escroque da Folha e de toda a mídia de usar o caso do tetraplégico preso na Papuda, que teve negado o seu pedido de prisão domiciliar, para humilhar ainda mais José Genoíno. O caso do tetraplégico é um escândalo judiciário e midiático. Do judiciário por condenar um tetraplégico a regime fechado por causa de ridículos 60 gramas de maconha e algumas pedrinhas de crack; e depois por negar a prisão domicilar. Essa juíza é um monstro, e como assim deveria ser retratada pela imprensa.
É também um escândalo midiático porque a imprensa tinha a obrigação moral de protestar contra uma arbitrariedade tão gritante contra os direitos humanos. Prender um tetraplégico na Papuda por causa de 60 gramas de maconha? Onde está o Conselho Nacional de Justiça a essa hora? Cadê o Joaquim Barbosa? Ah, está na mídia, recebendo aplausos…
Por fim, usar esse caso para prejudicar José Genoíno é o cúmulo do mau caratismo. É sadismo em dose dupla! Pelo menos agora, a nossa mídia deixou claro que ela não está ao lado dos direitos humanos, da civilização e da democracia. Como sempre, alinha-se aos torturadores e à ditadura!
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O sadismo em dose dupla da Folha
Por Miguel do Rosário, no Tijolaço
O sadismo da mídia brasileira revela-se, dia a dia, de forma cada vez mais descarada. Confira essa notícia, publicada em página nobre da Folha de hoje. Fala que um tetraplégico teve prisão domiciliar negada. Ao invés de ser uma notícia em formato de denúncia, pois é óbvio que se trata de mais uma arbitrariedade odiosa do judiciário, a Folha usa a informação para atacar e humilhar Genoíno. Afinal, ele não é tetraplégico, certo?
A arbitrariedade do caso do tetraplégico é espantosa. Em primeiro lugar, ele nem deveria ter sido preso por tráfico: a polícia encontrou nove pedras de crack e 60 gramas de maconha em seu poder. É óbvio que não é um traficante, ainda mais sendo tetraplégico. Não tinha nem que ser preso, e se pede prisão domiciliar, tinha que recebê-la imediatamente!
Mas não. A mídia prefere que o tetraplégico fique preso na Papuda, porque isso justificaria a estadia também de Genoíno. É o sadismo em dose dupla! No caso de Genoíno, ao sadismo físico é acrescido o sadismo midiático, que é humilhá-lo diariamente, com exemplos matreiros como esse, para minar sua imagem junto à opinião pública.
E a reportagem, ao final, ainda traz um trecho descontextualizado da junta médica escolhida por Barbosa, sempre com a intenção de humilhar e massacrar José Genoíno.
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Genoino e o tetraplégico preso em Papuda
Por Luis Nassif, em seu blog.
O preso não tem nome. O advogado pediu que não fosse divulgado e o jornal acatou. Não por respeito – e desde quando um jornal acata pedidos dessa ordem. Mas pela única razão de que é um anônimo, talvez um José de sobrenome da Silva. Não é celebridade para aguçar a curiosidade, nem classe média com o qual o leitor se identificar, nem ativista político, para despertar paixão e ódio, nem intelectual que possa ser romanceado.
É apenas um tetraplégico preso no presídio de Papuda.
Em sua casa, na periferia de Brasília, a polícia encontrou nove pedras de crack, mais de 60 gramas de maconha e R$ 900 em dinheiro. Pelas cotações de mercado, no máximo R$ 90 reais em crack, R$ 120 em maconha. O suspeito alegou que não estava sozinho em casa, que a droga não era dele, apenas parte dela, para consumo próprio.
A reportagem não detalha como um tetraplégico morava sozinho em casa e ainda tinha disponibilidade para traficar drogas. Mas informa que, mesmo antes da condenação definitiva, foi trancafiado em regime fechado na Papuda, sem direito à prisão domiciliar. Reincidente, foi condenado a 7 anos de prisão fechada.
Devido ao seu estado, o advogado pediu prisão domiciliar. O Ministério Público opinou pela aceitação. Aí a direção da Papuda garantiu que tinha condições de trata-lo e o MP voltou atrás, assim como a juíza Rejane Teixeira, da Terceira Vara de Entorpecentes, que anotou na sentença que “relatório enviado pelo presídio informou que o requerente está obtendo tratamento médico, realizando curativos nas úlceras, com bom estado geral”.
Segundo a reportagem, o tetraplégico depende de colegas para comer e se limpar. Usa fraldas e a urina fica armazenada em uma sonda que ele carrega consigo.
Mas ganhou uma relevância insuspeita. Nem se imagine o jornal, procuradores, juízes, ativistas de direita ou esquerda preocupados com as condições de um tetraplégico preso. Nem se imagine os bravos procuradores do DF envergonhando um poder que se gaba – com razão – da defesa dos direitos dos anônimos. Ou ONGs de direitos humanos levando seu caso para as cortes internacionais.
O tetraplégico anônimo ganhou a condição de álibi. Para o jornal, tornou-se álibi para destacar os “privilégios” de José Genoíno. Se um tetraplégico que precisa ser carregado pelos próprios colegas de cela permanece preso, porque um cardíaco em estado grave tem direito a prisão domiciliar?
Quando os holofotes da mídia acenderam, tornou-se álibi também para os procuradores exigirem imediatamente a isonomia, de presos políticos e presos comuns irmanados no desrespeito aos direitos individuais.
Para a direita, é álibi para desancar os “privilégios” de Genoíno; para a esquerda, o tetraplégico deve ser esquecido por não ter ficha de filiação partidária e nem uma história pregressa nobre para ser incensada.
Quando os médicos de Joaquim Barbosa admitiram que o quadro de Genoíno era sério, mas aceitaram as explicações da Papuda, de que poderia dar o atendimento necessário, os jornais celebraram. Circularam informações esparsas, de que o presídio não dispunha sequer de ambulância, ou de atendimento médico 24 horas.
Mas ninguém se habilitou a dissecar o que é o presídio. Os jornais, para não darem razão a Genoíno; os procuradores, para não expor sua falta de cuidados para com os direitos dos presos; o PT, porque o foco de interesse é apenas a cela que abriga Genoíno, Dirceu e Delúbio.
Nesses tempos de bestificação, de exacerbação do ódio e de falta de generosidade, a lembrança do tetraplégico anônimo, preso em Papuda, ainda se constituirá na prova maior de uma opinião pública que perdeu o sentimento de humanidade.