O resultado de uma experiência de blog coletivo continua rendendo frutos.
E olhe lá que este foi só o primeiro de uma série.
Com certeza isso resultará num belo livro.
A seguir, dois textos sobre o Sarau, extraídos do blog do Luis Nassif
Rescaldos do Sarau
Por Chico Bento
Tenho lido sistematicamente este blog. Não apenas os posts, mas, sobretudo, os comentários. É um exercício diário de compreensão do que pensa um conjunto grande de pessoas, e isso é inédito. Às vezes, quando confronto o que leio por aqui com o que escuto dos que convivo fico preocupado: será que vivemos na (ou seria nesta?) blogosfera um mundo paralelo? Será que o que achamos aqui tem equivalência no mundo real? O consenso que aqui se dá (nem sempre) repete-se no mundo tridimensional?
Quem, antes dessa emergência digital, poderia conversar com tantas pessoas ao mesmo tempo e, principalmente, sobre tantos assuntos e de forma tão séria e fundamentada?
Pensei nessas coisas depois de escutar o discurso-saudação do Nassif no sarau de sábado passado. Me pareceu que ele disse o que acho e, certamente, o que pensam muitos de nós: o que estamos fazendo aqui é, sim, revolucionário. Estamos na crista incerta de uma onda de mudança do modo como nos apropriamos da informação. Os meios de comunicação não serão mais, em breve, o que são hoje.
Fui àquele encontro com curiosidade: quem seriam aquelas pessoas que leio no meu dia a dia? Não estava preocupado em saber sobre os indivíduos. Rai, Burburinho, Yoshio, Weden, Romaneli, NaMaria. Meu interesse era o conjunto, o coletivo. Queria ver se havia algo aparente que pudesse unir esse povo todo. Era quase uma dúvida estética.
Fiquei ali observando as pessoas e pensando: o que há de identidade naquele grupo?
Faixa etária não era: havia gente de todas as idades. Não era como entrar num bar da Vila Madalena com sua quase uniformidade. Havia diversidade e isso me garantiu alguma certeza de que somos representativos. Somos tribos, e não tribo, e isso é bom. Somos um novo tipo de formadores de opinião, mais amplo que aqueles tradicionais que pontificam nos meios tradicionais de informação.
Somos algo novo, mas o que somos e para onde vamos?
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Política e Afeto
Por Weden
Conversando com um dos muitos amigos na festa, nos veio a questão: o que nos move nesta comunidade? E o que nos moveu até aquele local, naquele sábado á noite, Doze de Dezembro, para a confraternização? Um posicionamento político ou uma relação de afeto?
Acredito que dizer que são as duas coisas – reservadas aos seus âmbitos – é um pouco simplista. Como a gente não está aqui – bem disse o filósofo Chacrinha – para simplificar, vou tentar uma outra explicação: o que nos une nesta empreeitada é o afeto da política e a política do afeto.
Ser afetado pela política (o afeto da política) da Comunidade neste momento é saber que os velhos guardiães da informação e da liberdade de expressão há muito transcenderam o limite da hipocrisia.
São poderosos que hoje representam muitas vezes o oposto do ideário da imprensa no mundo pós Revolução Francesa.
Tentando monopolizar a informação, a liberdade de expressão, mantêm relações de poder esdrúxulas, servem a compadrios inimigináveis, permitem a difamação e a calúnia de pessoas de bem, agem em pró de poucos, sacrificando a grande maioria dos cidadãos.
Grandes grupos de empresas comunicacionais, dos Murdoch aos Civitas, representam oligarquias decrépitas da informação, e da financeirização da cultura.
Ser afetado politicamente significa vislumbrar saídas, e reunir forças para que este quadro, com a graça divinamente humana do surgimento da sociedade em rede, seja ultrapassado urgentemente.
E é aí que entra a política do afeto. O que representa o Blog-Comunidade se não uma legião de homens e mulheres que, apesar de suas divergências, reunem-se por identificação e interesses comuns.
O Blog/Comunidade representa a frutificação de um novo tempo histórico, de um novo marco (re) fundador das relações mediadas na sociedade, mas também a aliança entre o querer bem e a luta; entre a força política e o jeito de quem pode mudar as coisas ao som de um chorinho.
Recupera, de uma maneira surpreedente, aqueles momentos lá de trás (anos 20? anos 60?) quando a estética e a política eram indissociáveis.
Ensina que lutar não é jamais esquecer a canção.
Vida longa ao Blog-Comunidade? Nem precisamos desse voto.
É que estamos apenas começando.
Avante, queridos..
Leia os comentários aqui
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