Dias atrás, no interior de um ônibus, vindo do Maranhão, vi pessoas sem informações básicas sobre tudo, sem cultura, sem nada, sem cidadania, como esta gente de Heliópolis/SP. Durante as 24 horas de viagem os filmes que eram exibidos para todos nós, sem solicitarmos, eram de porrada, aqueles horríveis enlatados americanos. Perguntei-me se o interesse por este tipo de conteúdo era causa ou consequência da ignorância que rola por aí.
Como resolver isso? O Eduardo colocou uma questão interessante em seu blog: levar cidadania para Heliópolis. Ele ficou assustado ao dar-se conta de que em Heliópolis, mais de cem mil habitantes, as pessoas são destituídas de cidadania, nem votar votam. Diante do quadro, ele propôs atuar de forma prática junto àquela comunidade. Como você poderia nos ajudar aí no lugar onde você mora?
Levar cidadania a estes "párias" da sociedade? Sim, apesar de brasileiríssimos, esta gente é tratada como escória, pária, lixo. Levar cidadania para esta gente? Onde já se viu isso?
Pela primeira vez na blogosfera estou vendo uma luz no fim do túnel. Levar cidadania a estas pessoas poderia ser feito Brasil afora, através de grupos organizados. O Eduardo deu o ponta-pé inicial. Precisamos sim, tirar a bunda do sofá e sairmos às ruas, participar. Bacana saber que isto saiu de um blog, um mundo onde imaginávamos apenas virtual, sem resultados práticos.
Quero participar deste projeto aqui onde moro. Será gratificante saber que nós da blogosfera estaremos agindo de forma concreta e não apenas pensando e/ou escrevendo. É o que vamos fazer a partir de agora. O governo federal tem um programa chamado Territórios da Cidadania, bom darmos uma olhada para traçarmos nossas ações.
Segue abaixo o texto do Eduardo Guimarães:
Quem não vota, dança! - Por Eduardo Guimarães, em seu blog
Eu sei qual é o problema do Brasil... É o conformismo. Sei disso há muito tempo, e cada vez tenho mais certeza. Foi por isso que me chocou tanto aquele caso horrendo envolvendo a morte da estudante Ana Cristina de Macedo (17) pela polícia na comunidade de Heliópolis na semana passada.
Eu sei qual é o problema do Brasil... É o conformismo. Sei disso há muito tempo, e cada vez tenho mais certeza. Foi por isso que me chocou tanto aquele caso horrendo envolvendo a morte da estudante Ana Cristina de Macedo (17) pela polícia na comunidade de Heliópolis na semana passada.
Quem matou Ana Cristina? Foi um policial mesmo? Não, não foi. Ele foi apenas o instrumento da morte extemporânea dessa criatura que tinha tanto pelo que viver. Quem matou a menina foi ele mesmo, o conformismo, essa doença que infecta esta sociedade e que tenho combatido da forma que me tem sido possível.
Vamos conferir, então, as informações sobre a favela de Heliópolis - e chamemos assim mesmo aquela cidade dentro da cidade, chamemos de “favela” para que fique bem clara a situação aqui.
A favela tem, apenas, 35 anos. Abriga cerca de 120 mil habitantes. Praticamente todos nordestinos que não votam em São Paulo e que, a cada eleição, certamente “justificam” o injustificável, o seu não-voto.
Ai ele volta à cena, o conformismo. A mídia, a serviço da elite de direita que concentra a renda e mantêm este povo levando essa vida dura, com suas campanhas contra “uspulíticu” gravou a fogo em grande parte da mente coletiva das classes empobrecidas que não adianta votar porque nada mudará através do voto.
O resultado está aí, na eliminação física da jovem Ana Cristina, no tiro que a reportagem de domingo na TV Record mostrou que pouco tempo antes também foi dado em Heliópolis no peito – no peito! – de uma criança de cinco anos, a menina Tainá, também por policial, ainda que esta vítima tenha tido melhor sorte do que a primeira que citei.
Esses pobres coitados não entendem que, ao abrirem mão de votar, deixam de interessar, agora sim, aos políticos, que não se preocupam em melhorar a vida deles, que deixam de ter medo de enfurecê-los simplesmente porque não têm votos a oferecer, de maneira que o Estado trata de segregá-los, de contê-los nos limites de seu gueto, inclusive a tiros.
Em todas essas favelas nas quais a polícia paulista vem “pondo pra quebrar”, o problema é o mesmo. Com tantos bairros pobres e miseráveis em São Paulo, você nunca se perguntou como é que a elite branca dos Jardins consegue, quase sempre, eleger seus prefeitos?
É bem simples. Simplesmente a maior parte desse eleitorado massacrado e segregado de São Paulo é composta de migrantes que jamais se preocuparam em usar o único instrumento que um cidadão pode usar para se fazer respeitar pelo poder do Estado: o voto.
Saneamento básico, eletricidade, asfalto, hospitais públicos, segurança, educação... Para que se preocupar?, pensa o político, pois o dinheiro empregado numa obra para cidadãos sem votos poderá faltar na que ele poderia fazer em comunidades politizadas e que certamente irão cobrá-lo.
Conformismo é isso. Dá nisso. Por isso não me conformo. Por isso acredito em cada bola, toco o barco como posso para conciliar minha luta pela sobrevivência com o exercício da cidadania, porque abrir mão de votar, de fazer política, de se fazer ouvir debilita o cidadão e retira dele o respeito da classe política, que só pensa naquilo...
Não posso me conformar com a morte dessa moça, a Ana Cristina, ou com o tiro no peito da menina Tainá, ou com o fato de que não foram as primeiras e que não serão as últimas no meu país e, o que é pior, na minha cidade. Tenho vergonha dessa situação.
É preciso que se tome uma atitude. Por que não lançar uma campanha incentivando as comunidades carentes, essa gigantesca população de migrantes de outros Estados que vivem abandonados nas bordas das grandes cidades por abrirem mão de seu direito democrático de votar?
Pensei até num bordão: “Quem não vota, dança!”.
E sei até por onde começar. Durante anos a fio, eu e minha família contamos com os serviços de uma empregada doméstica, oriunda do Maranhão, que emigrou para São Paulo e veio residir justamente em Heliópolis no início da década passada. Essa mulher criou meus filhos.
Ela reside até hoje em Heliópolis. Entrei em contato com ela e pedi informações sobre como posso fazer ali, naquela comunidade, para conseguir falar a ela. Talvez pela rádio comunitária, talvez numa palestra. O fato é que tentarei.
Quem sabe, fazendo isso, outros possam decidir fazer o mesmo nas comunidades carentes próximas – ou conhecidas. Se cada um de nós se dispuser a prestar esse serviço à sociedade em várias partes do país, veremos as coisas mudarem em poucos anos.
Façamos o seguinte: farei um teste e reportarei para vocês aqui. Se funcionar, darei palestras em outras comunidades, inclusive a convite, e montaremos aqui um roteiro, uma palestra que qualquer um mais articulado poderá dar pelo país a fora, nas comunidades carentes.
Poucas pessoas podem fazer um grande trabalho de conscientização, de estímulo ao exercício da cidadania, de conscientização sobre o que o exercício do voto pode significar para essas comunidades carentes no sentido de fazer com que os políticos as respeitem.
Começarei com Heliópolis. Na semana que entra, irei até lá. Já tenho alguns contatos feitos. Se alguém souber de alguma coisa, se algum leitor puder me ajudar a conversar com aquela comunidade, peço que entre em contato. Vamos ver se funciona e, depois, quem sabe outros poderão fazer o mesmo que farei.
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Atualização - 09/09/2009
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Comentários à postagem do Eduardo
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[jose carlos lima] [goiania] [go] Quem já estudou metodologia científica sabe que há textos que são polêmicos e outros são consensuais. O investimento em educação, por exemplo, é consensual, todos concordam. A discriminalização das drogas é polêmico, pois divide opiniões. Estou dizendo isso porque ao ler este texto vi que se tratava de um assunto consensual. Só não entendi o motivo pelo qual levar cidadania a quem não tem isso, se tornou um tema polêmico, uma vez que os comentaristas de perfil de direita se opuseram. Não entendi o motivo pelo qual tais comentaristas se alvoçaram diante desta proposta. Não entendi o motivo da polêmica diante de um tema que, claro e evidente, é consensual. Será o medo da direita perder votos a partir do momento em que se leva educação e cidadania ao curral eleitoral de Heliópolis. Aliás, nem chega a ser um curral eleitoral, uma vez que quem mora lá nem vota. Um curral apenas.
[jose marcos] [resende-rj] [sociologo] Caro Eduardo, acho que não vale a pena responder as seguintes pessoas (os nomes com certeza são falsos): -Silvio Conradine- acha que pobre favelado não deve votar, só os iluminados da classe média; -Romanelli- Reacionário preconceituoso, que usa um pseudo discurso técnico,mais no fundo é mais um Serrista que acha que todo pobre e favelado é bandito; -verbo Demolidor- sem comentários, não tem imaginação nem para inventar um nome falso, e ainda tem a cara de pau de falar em zona de conforto; -Tomas- outro que não disse coisa com coisa, o que tem a vida do PHA a ver com a reportagem??? agora vou ter que fazer uma investigação da vida pregressa de todo locutor para saber se posso confiar na noticia???? Enfim , Eduardo , todas estas pessoas tem a mesma coisa em comum: são reacionarias, preconceituosas que repetem feito papagaio o discurso da grande midia e provavelmente se consideram bem informadas, porque assistem a globo news, leêm a veja e outras idiotices do genero.
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Atualização - 11/09/2009
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Realmente esta história do bilhete de traficantes para os moradores de Heliópolis não existiu
Que imprensa vagabunda esta nossa
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