04/04/2017

O Poder Verbalizador não pode perder o controle sobre corações e mentes

Por que ninguém pode ficar sem TV

Por Wilson Roberto Vieira Ferreira
Na época que a série “Família Dinossauros” (1991-1994) ia ao ar no início dos anos 1990 não existia a TV digital. Mas um episódio da série em 1993 explicava o porquê do atual esforço concentrado e inédito envolvendo Governo, emissoras, Federação de indústrias e ONGs para evitar que massas de telespectadores ficassem sem televisão com o desligamento do sinal analógico na Grande São Paulo. Praça responsável por 70% do faturamento das emissoras, apenas as possíveis consequências financeiras da perda de telespectadores não explicam esse esforço que até envolveu a entrega de Kits de TV digital gratuitos através do “assistencialista” e “populista” Bolsa Família.O humor ácido da “Família Dinossauros” dizia que jamais em uma crise econômica o Governo permitiria que cobradores tirassem a TV de pessoas endividadas: o sistema que as endivida precisa que a TV mantenha os endividados distraídos e confiantes. Conhecemos bem a função da TV em momentos de conflagração política (censura e manipulação das notícias) mas prestamos pouca atenção à sua função cotidiana e silenciosa: fazer as pessoas acreditarem que a força de vontade, o mérito e o trabalho são moralmente bons e que vale à pena acordar toda manhã confiantes e cheios de esperanças.
“Caravanas da TV Digital” organizadas às pressas para levar informações aos telespectadores sobre o desligamento do sinal analógico; uma oficina itinerante chamada “Sintonize-se” para orientar como instalar conversor e antena digital; seguidas reuniões em Brasília com o presidente da Anatel e as emissoras de TV; programas assistenciais do Governo como o Bolsa Família utilizados para a distribuição gratuita de kits de conversão para TV digital; um projeto chamado “Patrulha Digital” feito em parceria entre a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) e Fiesp (aquela federação de indústrias do gigantesco pato amarelo do Paulo Skaf) no qual alunos do SENAI orientaram a população e distribuíram kit digitais, entre outra série de iniciativas na Grande São Paulo para orientar as pessoas a ter a TV digital com o desligamento do sinal analógico.
A Grande São Paulo é a prova de fogo: “se vencermos aqui, implementaremos a TV digital no restante do País”, disse Paulo Tonet Camargo, presidente da Abert. Afinal, a região corresponde a 30% de audiência do PNT (Painel Nacional de Televisão) e é a praça de onde se origina 70% do faturamento.
A "Patrulha Digital" do SENAI: ninguém pode ficar sem TV Digital
Confesso que esse humilde blogueiro jamais viu tamanho esforço concentrado para “educar” as pessoas a lidar com uma novidade tecnológica em décadas de história das comunicações no Brasil – a introdução da TV em cores, o surgimento dos canais UHF, o videocassete, o controle-remoto, a chegada dos canais a cabo, os CD-ROM, a Internet etc.
Até os então criticados programas assistenciais dos governos lulo-petistas como o Bolsa Família (acusados de assistencialismo, populismo, de “estimular a preguiça”, de “somente dar o peixe e não ensinar a pescar” etc.) foram instrumentalizados para entrega gratuita de kits.

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