E um emaranhado de páginas blogs sites
E uma página se chama PENSO
Ao acordar, reconfigurei uma das 116 páginas do spin verbo para penso
Notei que a foto de perfil do spin verbo está desfocada (clique aqui): talvez o excesso de velocidade tenha tornado informe a forma
Ontem encerrou-se a IV Semana da Amizade Sem Fronteira
Às vezes vejo as coisas de uma forma diferente daquilo que são ou está escrito: sei lá porque desde quando vi anunciado o IV Festival Fronteira, li como sendo IV Festival Sem Fronteira
Talvez seja um condicionamento ou lembranças do passado presentes: a amizade
Foi o que vi no festival: pessoas de vários países conversando
Ontem, tarde de domingo, assisti ao último filme: Diários de Classe
Pelo título e pela sinopse, pensei que fosse um filme dirigido a professores
Muito mais que isso, trata-se de uma interessante e bela abordagem sobre a nossa sociedade dividida em classes, representada por 3 categorias maltratadas no dia a dia: empregadas domésticas, presidiárias e trans
Geralmente pessoas pretas.
Autor: José Carlos Lima
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Diários de Classe, por Amanda Aouad,
Uma mulher trans, uma empregada doméstica e uma presidiária. Três mulheres, três realidades que se aproximam pela dificuldade de inclusão na sociedade e busca da sala de aula como forma de melhorar de vida.
O documentário Diários de Classe mergulha nesses três universos para discutir a educação no país e a falta de oportunidade para pessoas de periferia, negras e de baixa renda. Discute a herança escravocrata nas relações dos trabalhos domésticos, a arbitrariedade da justiça e o preconceito com transsexuais, utilizando o micro para falar do macro de uma maneira franca e direta.
Utilizando a técnica do cinema direto da câmera invisível, acompanhamos a rotina principalmente na sala de aula, ainda que em alguns momentos a linguagem mude e a câmera acabe sendo citada ou participando de alguma ação mais diretamente. A maneira como os diretores intercalam as três tramas, fazendo-as dialogar, eleva a questão universal, inclusive com um momento explícito em um evento quando uma palestrante fala que a justiça é diferente para os três "p" (preto, pobre e periferia). Ao mesmo tempo, a obra consegue a sensibilidade de abordar o particular de uma maneira envolvente ao destrinchar suas personagens.
Vânia Lúcia, acusada de envolvimento com tráfico de drogas, conversa sobre o drama do seu filho desaparecido e da prisão que julga indevida. A cena em que ela discute com uma colega sobre a dificuldade de lutar por seus direitos já evoca diversas questões delicadas. A falta de uma defesaadequada a ponto dela buscar o código penal para tentar estudar é um exemplo. A colega ainda fala sobre um estagiário que seria o único contato que elas tiveram até o momento com a defensoria pública.
Maria José é uma empregada doméstica que luta pelos seus direitos de trabalhadora. Vinda de Cachoeira, passou por dificuldade e hoje se diz estabelecida, com uma filha pequena, que carrega para as aulas. É o ponto de equilíbrio do trio, a mais politizada e que procura seu espaço no mundo. A cena em que aconselha uma colega que faltou aula para cuidar dos filhos da patroa é o ponto alto da sua curva.
Já Tifany é, das três, a personagem mais fragilizada. Com imensa dificuldade ainda para aprender a ler, sofre com o preconceito e, apesar de viver em um abrigo, não parece ter encontrado seu lugar no mundo. A parede escrita reforça: "ela não é tímida, ela foi silenciada".
Necessário em sua reflexão, Diários de Classe é daqueles filmes que nos tira da zona de conforto. Grita a necessidade de atitude urgente e nos deixa com um nó na garganta em diversos momentos. Um trabalho que vem coroar o bom trabalho da dupla de diretores ligada à educação e questões sociais como o projeto Lanterninha.
Filme visto no XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Diários de Classe (Diários de Classe, 2017 / Brasil)
Direção: Maria Carolina e Igor Souza
Roteiro: Maria Carolina e Igor Souza
Duração: 76 min.
Amanda Aouad Facebook Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutoranda em Comunicação e Cultura Contemporânea (Poscom / UFBA), especialista em Cinema pela UCSal, roteirista do núcleo TV Show e dos curtas "Ponto de Interrogação" e "Dia de Cão", além da equipe de roteiristas de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora de Audiovisual, tendo experiência como RTVC e Assistente de Direção.
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