Cotidiano/arte. Registro de vida, visões internas, pensamentos e anamneses. Resolver o problema de ANTARES, sigla para Análise das Tarefas da Elaboração SPIN, Sistema Poético Informativo Nato: poético ou patológico, tanto faz....
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15/02/2011
A confusa história moderna do Egito tem a ver com Cleópatra
Gente, esta aí da foto é a Cleópatra ou uma representação moderna
Fiquei em dúvida
Ela(Cleópatra) era o que mesmo, rainha, prostituta, artista...
Era de onde mesmo....
Era de que cor
Esta falta ou excesso de identidades de Cleópatra explica o Egito de hoje,
Cleópatra do ponto de vista da ciência:
Des-orientar Cleópatra: um tropo moderno da identidade*
Disorienting Cleopatra: a modern trope of identity
Ella Shohat
New York University, Nova Iorque, Estados Unidos. es100@nyu.edu
RESUMO
Este artigo propõe um estudo da representação de Cleópatra ao longo do século passado, situando o debate sobre sua aparência e origens no âmbito da dominação colonial, das lutas anti-coloniais e das fricções raciais pós-coloniais que, como se tenta mostrar, acrescenta uma outra dimensão para entender o investimento na identidade de Cleópatra.
Palavras-chave: Cleópatra, Gênero, Raça, Pós-Colonialismo.
(...)
Cleópatra entre o eurocentrismo e o afrocentrismo
A avó de Cleópatra era uma concubina; sua mãe não é conhecida. Dadas as incertezas de sua ascendência, um pesquisador estimou que seu sangue tinha 32 partes de grego, 27 partes de macedônio e 5 partes de persa. É uma estimativa razoável. Se era negra, ninguém o mencionou.2
Ao longo das últimas décadas, Cleópatra foi tema de aceso debate sobre sangue, raça e origens. Embora muitos textos reconheçam a impossibilidade de estabelecer plenamente suas origens, a maioria dos autores continua a fazer afirmações fortes. Investimentos científicos e artísticos numa particular aparência de Cleópatra sugerem que sua figura se transformou num lugar metafórico das lutas raciais contemporâneas, especialmente no "Ocidente" pós-colonial.
Dentro da geografia da modernidade, as cansadas dicotomias Oriente contra Ocidente, África contra Europa, e Negro contra Branco continuam a informar o modo como as civilizações antigas são diacriticamente construídas. Estabelecer que ela foi negra, africana e egípcia, de um lado, ou que foi branca, greco-macedônia e européia, de outro — é visto como um tento para cada um dos lados nas "guerras culturais". Visíveis nos meios de comunicação de massa, esses debates carregados misturaram-se muitas vezes com o enfrentamento relativo ao surgimento do afrocentrismo como campo acadêmico.
Em 1991, por exemplo, Newsweek dedicou algumas páginas à questão da negritude de Cleópatra como parte de sua revisão do destaque afrocêntrico das realizações africanas em termos de civilização. O projeto afrocêntrico re-situou o Egito no terreno da civilização africana, argumentando que o Egito fora "roubado" da África, e situado no oriente próximo por eruditos do século dezenove cujo racismo os impedia de creditar realizações monumentais como a construção das pirâmides aos africanos.
A posição geral da Newsweek deixava implícito que tais reivindicações afrocêntricas, e particularmente aquelas que afirmavam que a civilização européia em realidade derivava da África, eram ignoradas ou negadas pelos pesquisadores ocidentais. A revista concluía com um quadro de perguntas e respostas que perguntava se os egípcios eram negros e respondia que o Egito era o lar de negros, asiáticos e semitas, mas que Cleópatra "era provavelmente grega".
Embora aceitasse a negritude parcial do Egito, a matéria da Newsweek parece sugerir, à maneira eurocêntrica, que a civilização grega evita a questão negra, ou, mesmo, que "grego" implica automaticamente "brancura".3
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