26/05/2008

Parada menos

Xoxa
Por André Fischer
Em 12 anos de existência essa é a primeira Parada menos. Menos gente também, mas nem tanto. E esse nem seria um problema. A super lotação do ano passado é algo que ninguém desejava mais.Mas na rua havia menos carros, menos montadas, menos gente bonita. Menos violência e mais bem organizada também, é verdade. Mas certamente menos vibe.
E nem venha dizer que é meu ponto de vista, pois tivemos um lounge mais lindo, mais bem produzido, com mais gente bonita, mais amigos, mais celebridades, mais parceiros e mais patrocinadores do que no ano passado. Delícia de festa. Só que lá na rua, onde no final das contas é o que importa, estava diferente. Era isso que se via, era isso que quem chegava compartilhava. Ouvi a palavra "xoxa" várias vezes.
Quem foi pela primeira vez achou o máximo. A Parada Gay de São Paulo realmente é o máximo, vai ser difícil acabarem com ela.
Mas esse ano veio burocrática, corrida, sem glamour. Em menos de 4 horas a festa na Paulista começou, terminou e já tinha virado xepa. O último carro, anunciado como surpresa, resumiu o espírito da coisa: um carro vazio, sem ninguém nem nada escrito. Segundo a organização representava as vítimas da aids e da homofobia. Terminar uma Parada com uma derradeira ducha fria? Para quê mesmo? A ausência de casas noturnas também foi determinante. Afastaram deliberadamente os clubes gays, que sempre foram sinônimo de boa festa. A militância é fundamental, é a mensagem que ela elabora a função disso tudo. Só que o que se viu foi uma sucessão de trios desanimados. Dos três únicos carros do setor privado, todos de sites de relacionamentos e que eram os menos caídos, dois já declararam que não voltam. Afirmam que é caro demais e que seu público alvo já não está mais lá. Nada contra quererem transformar a Parada em uma Marcha, pode ser um caminho. Só avisem antes, e abandonem o formato micareta pelo qual se consolidou.
As ruas paralelas estiveram mais lotadas do que nunca. Os Jardins e a Frei Caneca cheios evidenciam que boa parte do público estava ali apenas pelo fervo, à margem da manifestação.Na coletiva de imprensa o poder público falou bonito sobre a importância para a causa glbt, o impacto na construção da imagem e nas contas da cidade. Precisamos traduzir cada vez mais a Parada em direitos civis, mostrar o lugar de São Paulo no mundo e faturar. Mas faturar deve ser objetivo do comércio, do estado, das empresas. Não da militância. Porque essa não sabe fazer festa.

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