31/10/2011

Os que preferem morrer sufocados em seus tumores sociais

Por Cláudio Ribeiro, em seu blog

A medicação que alimenta as esperanças de Lula: o reconhecimento de seu povo

A veiculação nacional da descoberta de um câncer na laringe de Lula, tornou possível descortinar um ódio de classe que alguns mantinham adormecido, aguardando o momento para liberar todo o sentimento desprezível de desejar o mal a outrem.

Lúcia Hipólito, da CBN, só não disse o aquilo que pensava em seu comentário nefasto e irônico sobre a doença de Lula: "bem feito".
Outros menos conhecidos comemoraram pelas redes sociais e vlogues que desejavam que o presidente piorasse e morresse.
A doença desses grupos é  um mal muito mais difícil de cura que o de Lula, que os médicos trataram de analisar com chances superiores a 80% de êxito no tratamento.  O que assola estas pessoas é o câncer do desrespeito, do menosprezo e do preconceito.
Mas de onde vem tanto rancor e fel contra o ex-metalúrgico?
Em 2002 quando venceu as eleições presidenciais, em sua quarta tentativa, Lula ascendeu ao governo central em uma missão das mais difíceis. Encontrou um país quebrado, com o patrimônio público dilapidado, desemprego em níveis assustadores, desconfiança global da capacidade do país honrar suas dívidas e uma inflação crescente.
Quando as urnas ecoaram a voz do povo, acreditavam aqueles que não votaram no petista que Lula fracassaria e, consequentemente, tal derrota no exercício de seu mandato significaria uma dura lição da elite pensante deste país sobre as pessoas comuns, que, bem aplicada, não permitiria, em muitas décadas, que um homem ou uma mulher vindo do povo e comprometidos com suas aspirações sociais, não conseguiriam ascender ao poder.
A certeza de FHC seria a redenção da elite quatro anos depois
Durante a campanha de 2002 comentava-se nos bastidores da política que FHC já não acreditava na vitória de seu candidato, Serra, devido a desaprovação de seu governo pela grande maioria da população, mas este sentimento vinha acompanhado de uma certeza, absoluta, de que a vitória de Lula significaria a sua redenção quatro anos mais tarde.  Um mal necessário.
Simples: Lula fracassaria e FHC retornaria para o colocar o país novamente nos trilhos, ou seja, a vitória de Lula não seria um derrota, tanto para FHC, quanto para a elite deste país, seria um razoável processo de espera para o retorno definitivo e consagrador nas urnas.
Ou em termos mais reais, a grande lição sobre "os atrevidos", gente como Lula, que, vindos de baixo, ousaram governar quem estava acostumado a mandar nesta terra.
A elite, política e econômica deste país, aguardou este momento.  Que não se confirmou.
Lula venceu, o medo, a desconfiança e promoveu o Brasil para todos que o mundo inteiro reconhece e respeita.
Ódio surgido do sucesso inesperado
O ódio como resultado do sucesso de quem não poderia ser bem sucedido.
O ódio contra quem deveria obedecer ordens e não ousar subverter as "velhas prioridades" de estado.
O ódio rancoroso e despeitado de quem foi desmascarado em sua histórica incapacidade de governar para quem mais precisava do estado brasileiro.  Assim como Getúlio e Juscelino, bem antes de Lula, também provaram ser possível ao presidente da república governar para a maioria.   Baseado nas escolhas políticas, por decisões de governo e apoio nas bases sociais.
A elite e sua certeza em 2002 simbolizam a frustração de quem achou que Lula fosse incapaz de contornar todas as adversidades deixadas para seu governo, que o seu naufrágio seria inevitável e que o povo clamaria pela volta daqueles que, travestidos de salvadores da pátria, condenaram o país ao retrocesso durante várias décadas.
O sucesso de Lula, acompanhado de reconhecimento interno e externo, fizeram crescer uma radical campanha midiática contra seu governo, muitas vezes ultrapassando os limites do respeito e da civilidade.
Não foi pouco comum observar manifestações preconceituosas contra o ex-presidente na mídia.
Os leitores deste tipo de imprensa se alimentaram de tais provocações e retroalimentaram seus articulistas preferidos com a identificação recíproca da ode ao desrespeito e ao preconceito contra tudo que Lula simbolizava: os mais pobres, os nordestinos, excluídos.
O que se tem lido estes dias, em comentários de leitores nestes espaços conservadores ou mesmo na tinta carregada de desprezo ao povo brasileiro de alguns colunistas e comentaristas políticos, é uma reação, cada vez mais doentia, contra o progresso de um Brasil que avança na direção que entendem errada e que, sob qualquer pretexto e oportunidade, como na descoberta do câncer de Lula, precisa ser atacada, desmerecida, ironizada, alterada o quanto antes, a qualquer custo, sem obedecer qualquer princípio ético ou regra de sociabilidade.
O sucesso do governo de Lula fez surgir um tumor, em uma pequena parcela da sociedade brasileira, cada vez mais resistente e agressivo.
Um pequeno grupo condenado as trevas do desgosto social e da descrença de um país que se mostra menos injusto e mais promissor, prefere morrer sufocado em seus tumores sociais.


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