Mauro Santayana
Os teóricos da moeda e os operadores das privatizações fecharam o círculo para o assalto ao Estado, com apoio decisivo do então presidente FHC, aquele que se definiu como "mais inteligente do que vaidoso."
A privatização do Estado era coisa de amadores. Passou a ser negócio organizado, com planejamento técnico e jurídico, quando alguns jovens "gênios" das finanças foram convocados pelo senhor Fernando Henrique Cardoso, a fim de criar o Plano Real, a partir do Plano Schacht, da Alemanha dos anos 20. Eles perceberam, na reforma monetária, a sua oportunidade de ascensão ao mundo dos grandes negócios. E se uniram a Daniel Dantas, protegido do senhor Antonio Carlos Magalhães – o poderoso e temido senador –, que criaria, no mesmo ano de 1994, o instrumento adequado: o Fundo Opportunity. Contavam com forte bancada no Congresso constituída dos representantes dos bancos, do agronegócio e das multinacionais, todos interessados nas reformas constitucionais que favorecessem as privatizações. Ao mesmo tempo criaram outras instituições para atuar no mercado de capitais e no programa de privatizações, que cresceram em meses, graças às informações privilegiadas de que dispunham como mentores da política econômica e financeira.
Os teóricos da moeda e os operadores das privatizações fecharam, dessa forma, o círculo para o assalto ao Estado. Os dois grupos contavam com o apoio decidido do então presidente da República. Alguns que o conhecem de perto acham que se deixou perder pela vaidade. Uma das gravações divulgadas pelos meios de comunicação – e não desmentidas – mostra como eles sabiam envolvê-lo. O consórcio comprador que pretendiam favorecer – em que se encontrava Daniel Dantas e seu Opportunity – dependia da Previ, o fundo de pensões dos funcionários do Banco do Brasil. Mas a Previ tinha as suas razões para desconfiar do grupo.
A privatização do Estado era coisa de amadores. Passou a ser negócio organizado, com planejamento técnico e jurídico, quando alguns jovens "gênios" das finanças foram convocados pelo senhor Fernando Henrique Cardoso, a fim de criar o Plano Real, a partir do Plano Schacht, da Alemanha dos anos 20. Eles perceberam, na reforma monetária, a sua oportunidade de ascensão ao mundo dos grandes negócios. E se uniram a Daniel Dantas, protegido do senhor Antonio Carlos Magalhães – o poderoso e temido senador –, que criaria, no mesmo ano de 1994, o instrumento adequado: o Fundo Opportunity. Contavam com forte bancada no Congresso constituída dos representantes dos bancos, do agronegócio e das multinacionais, todos interessados nas reformas constitucionais que favorecessem as privatizações. Ao mesmo tempo criaram outras instituições para atuar no mercado de capitais e no programa de privatizações, que cresceram em meses, graças às informações privilegiadas de que dispunham como mentores da política econômica e financeira.
Os teóricos da moeda e os operadores das privatizações fecharam, dessa forma, o círculo para o assalto ao Estado. Os dois grupos contavam com o apoio decidido do então presidente da República. Alguns que o conhecem de perto acham que se deixou perder pela vaidade. Uma das gravações divulgadas pelos meios de comunicação – e não desmentidas – mostra como eles sabiam envolvê-lo. O consórcio comprador que pretendiam favorecer – em que se encontrava Daniel Dantas e seu Opportunity – dependia da Previ, o fundo de pensões dos funcionários do Banco do Brasil. Mas a Previ tinha as suas razões para desconfiar do grupo.
Era preciso quebrar as resistências. O então presidente do BNDES, André Lara Resende, telefona a Fernando Henrique: ALR – Então, o que nós precisaríamos é o seguinte: com o grupo do Opportunity, nós até poderíamos turbiná-lo, via BNDES-Par. Mas o ideal é que a Previ entre com eles lá./ FHC – Com o Opportunity?/ ALR – Com o Opportunity e os italianos./ FHC – Certo./ ALR – Perfeito? Porque aí esse grupo está perfeito./ FHC – Mas e por que não faz isso?/ ALR – Porque a Previ tá, tá do outro lado./ FHC – A Previ?/ ALR – Exatamente. Inclusive com o Banco do Brasil, que ia entrar com a seguradora etc., que diz 'não, isso aí é uma seguradora privada porque...'/ FHC – Não./ ALR – Então, é muito chato./ FHC – Muito chato./ ALR – Olha, quase.../ FHC – Cheira a manobra perigosa./ ALR – Mas é quase explícito./ FHC – Eu acho./ ALR – Quase explícito./ FHC – Eu acho./ ALR – Então, nós vamos ter uma reunião aqui, estive falando com o Luiz Carlos, tem uma reunião hoje aqui às 6h30. Vem aqui aquele pessoal do Banco do Brasil, o Luiz Carlos etc. Agora, se precisarmos de uma certa pressão.../ FHC – Não tenha dúvida./ ALR – A idéia é que podemos usá-lo aí para isso./ FHC – Não tenha dúvida.
Não tiveram dúvida. Iniciou-se a partir daí, com a aprovação do presidente, a liquidação dos bens do Estado, sem levar em conta as leis anteriores nem as regras elementares de licitude administrativa e de ética. Ao falar no Senado sobre o processo de privatizações, o ministro encarregado Luiz Carlos Mendonça de Barros disse que a situação era sui generis e, portanto, não estava sujeita a regras anteriores. O grande negócio de Daniel Dantas – o da participação na telefonia, com menos de 1% dos capitais envolvidos – só foi possível com o dinheiro dos fundos de pensão das empresas estatais. Segundo as investigações da Polícia Federal, o Opportunity conseguiu envolver nas teias de seus interesses homens com respeitáveis biografias, como ex-militantes de esquerda e conhecidos acadêmicos. Entre esses, contratou, como seu advogado nos Estados Unidos, por US$ 2 milhões, o senhor Mangabeira Unger. Além disso, montou seu sistema de espionagem, ao contratar a Kroll, que chegou a monitorar até mesmo o gabinete presidencial. Enfim, como todos deviam saber, o mundo se divide entre os capitalistas e os trabalhadores. Os capitalistas sempre se unem. Os trabalhadores, nem sempre.
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