Se Michel Temer é o chefe da mais perigosa organização criminosa do Brasil, na definição do criminoso confesso Joesley Batista, quem são os membros da quadrilha?
Aqui, uma tentativa de identificar a tropa do Michel, que governa o Brasil desde maio do ano passado.
Eliseu Padilha – é secretário da Casa Civil e tem uma forte ligação com Michel Temer desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. Logo depois que a Câmara dos Deputados, então presidida por Michel barrou a instalação da CPI que investigaria a denúncia de compra de votos para a emenda da reeleição, foi nomeado ministro dos Transportes. A nomeação foi o resultado da pressão exercida por Michel Temer sobre Fernando Henrique Cardoso, conforme este narra em seu Diários da Presidência.
Geddel Vieira Lima – era o braço direito de Michel Temer na Câmara dos Deputados, primeiro quando este foi líder da bancada e depois presidente da casa. Num dos episódios narrados por Fernando Henrique, quando houve impasse na nomeação de Padilha para o Ministério dos Transportes, Temer engoliu seco. No mesmo dia, Geddel foi à imprensa e detonou o governo, por causa das denúncias da compra de votos. Resultado: Padilha foi nomeado, Geddel parou de criticar e Temer seguiu com tranquilidade na Presidência da Câmara dos Deputados. “O PMDB chegou ao nível da chantagem”, registou Fernando Henrique. Nos governos Lula e Dilma, Geddel ocupou ministérios e a diretoria da Caixa Econômica Federal, de onde Joesley Batista e outros empresários conseguiam empréstimos a juros baixos, pagando propina. Nos primeiros meses do governo Temer, chegou a ministro da Secretaria de Governo, mas caiu depois que pressionou o ministro da Cultura a liberar a construção de um prédio em área tombada de Salvador. Segundo o ministro, Marcelo Calero, Temer tentou ajudar Geddel e também o pressionou. Ontem, pelo Twiter, Calero se vingou: “Bangu neles”.
Moreira Franco – Ex-governador do Rio de Janeiro, era um político decadente em 1998, quando perdeu a eleição para o Senado. Mas encontrou refúgio na assessoria especial de Fernando Henrique Cardoso, por indicação de Michel Temer. Deixou de disputar votos em eleições majoritárias e continuou na área onde sempre se deu bem: bastidores, principalmente no contato com empresários. Foi quem coordenou o Programa Ponte para o Futuro, que deu as diretrizes para os corte dos gastos sociais e as reformas trabalhistas e da Previdência. Genro de um antigo chefe político do Rio, Amaral Peixoto, é sogro de Rodrigo Maia, eleito duas vezes no governo de Michel Temer para presidir a Câmara dos Deputados.
Eduardo Cunha – Quando Temer se elegeu vice-presidente, na chapa de Dilma Rousseff, assumiu as operações da dupla Temer Geddel na Câmara. Negociava emendas e projetos de lei e ameaçava com requerimentos de informações e CPIs empresários de quem queria arrancar dinheiro. Respondia a Temer, conforme Joesley Batista, mas era dois em um se comparado a Temer/Geddel. Tinha conhecimento legislativo e, ao mesmo tempo, agia com truculência.
Todos os coronéis têm subesquemas – Lúcio Funaro, por exemplo, é ligado a Eduardo Cunha –, mas no topo da pirâmide se encontra Michel.
Capitães
Wagner Rossi – já foi coronel, mas perdeu a patente depois que foi demitido do Ministério da Agricultura, no governo de Dilma Rousseff, onde estava por indicação de Michel Temer. Na gestão de Rossi, a revista Veja publicou reportagem que mostrava a ação de um lobista no interior do Ministério da Agricultura – ele chegou até a distribuir dinheiro vivo a assessores da comissão de licitação (ver tópico Júlio Froes, franco atirador). Foi o responsável por aproximar Temer de Joesley Batista, cliente do Ministério da Agricultura. Por intermédio de Rossi, Michel usou o jatinho de Joesley para férias da família, em janeiro de 2011. Rossi tem um grande trunfo: é pai de Baleia Rossi, deputado federal, líder da bancada do PMDB, posto que pertenceu a Michel Temer 22 anos atrás, no governo Fernando Henrique Cardoso.
Rodrigo Rocha Loures – chegaria rapidamente a coronel não fosse o flagrante que o mostra correndo com uma mala de dinheiro de propina destinada a Michel Temer. Era assessor de Temer quando este, vice-presidente, assumiu a articulação política no governo Dilma e chegou à Câmara logo depois do golpe. Com poderes plenos, Temer tirou Osmar Serraglio da Câmara e abriu vaga para Rocha Loures, primeiro suplente do Paraná, assumir. Isso mostra que Serraglio, um peba segundo Aécio Neves (chefe de outra organização), não chegou a ministro por méritos próprios. Era o único jeito de ajeitar Loures na Câmara, onde Michel Temer tem poderes de imperador.
Sandro Mabel – foi deputado federal sob Temer presidente da Câmara. Ex-empresário, tem ligação com industriais e agricultores do centro-oeste. Trabalhava no Palácio do Planalto, em sala próxima de Temer, mas desertou depois que o cerco da Procuradoria da República ao Palácio do Planalto se fechou.
José Yunes – Foi deputado estadual quando Temer era procurador geral do Estado no governo Montoro e depois secretário de Segurança, nos anos 80. Era assessor de Temer quando confessou ter servido de mula para receber 4 milhões de reais de propina da Odebrecht . Segundo ele, a encomenda era para Eliseu Padilha, um coronel da tropa. Ele teria sido apenas o transportador. Yunes tem outras ligações com Temer. O jornalista Luís Nassif revelou que sua família é proprietária de uma incorporadora, que recebeu grandes investimentos do banco Pine, fechado nos Estados Unidos e no Panamá por lavagem de dinheiro. Estão no nome de Temer alguns imóveis incorporados pela empresa da família de Yunes. Yunes é também primo do criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado de Temer, hoje empenhado em evitar a prisão do presidente.
Tenentes
Gustavo da Rocha Vale – subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria da Casa Civil (Eliseu Padilha). Cresceu no conceito da organização quando elaborou o parecer que fundamentou a decisão de Michel Temer, então interino, de tirar da presidente Dilma Rousseff o direito de usar aviões da FAB. No caso do edifício de Salvador objeto de interesse de Geddel, também agiu para tentar convencer o ministro da Cultura a ceder ao pleito.
Marcelo Caetano – Secretaria da Previdência Social no Ministério da Fazenda, é quem dá a cara para explicar a reforma que destroça a previdência pública. Antes de aparecer com sua cabeça iluminada para explicar até onde queria baixar o facão, reuniu-se com empresários de fundos de previdência privada.
Sargento
Mílton Ortolan – era o secretário executivo do Ministério da Agricultura quando estourou o escândalo do lobista Júlio Froes. Foi o primeiro a cair, mas não foi desamparado. Joesley Batista conta que, a pedido de Temer, passou a pagar-lhe 20 mil reais por mês. O ministro Wagner Rossi caiu em seguida, mas também não ficou ao léu. Joesley, atendendo a Michel Temer, lhe garantia um mensalão de 100 mil reais. Nenhum deles disse de quem partiu a ordem para manter no Ministério da Agricultura um homem da mala (outro, não Loures, ver tópico Júlio Fores). Ortolan voltou para sua cidade de origem, Americana, onde tinha sido secretário municipal e hoje dirige uma entidade espírita.
Franco-atiradores
José Baptista Lima Filho – era coronel da Polícia Militar quando Temer assumiu a Secretaria de Segurança Pública pela segunda vez, no governo Fleury. Desde então, segundo investigação da Polícia Federal, se tornou operador de Temer. Ricardo Saud, diretor da JBS, diz que ele também foi mula, mas do próprio presidente. A empresa lhe entregou 1 milhão de reais em propina que deveria ser encaminhada ao próprio Temer. Está em nome de Lima uma fazenda em Duartina, interior do Estado, para onde Temer costuma ir com frequência. Em uma ocupação depois do golpe, militantes do MST encontraram na fazenda documentos destinados a Temer. Na empresa onde o coronel Lima dá expediente, a Polícia Federal encontrou documentos relacionados à reforma da casa de parentes de Temer e também a offshores – empresas de paraíso fiscal.
Arlon Vianna – é chefe de gabinete do escritório regional da Presidência da República em São Paulo e biombo de Michel Temer no Estado. Todos os pedidos dirigidos a Temer que guardem relação com São Paulo passam por ele. Arlon é tesoureiro do PMDB no Estado e suas ações podem ser interpretadas como as intenções de Temer. Por exemplo, Temer autorizou a candidatura de Marta Suplicy a prefeita de São Paulo, em 2016, depois que ela deixou o PT. Mas Temer trabalhou mesmo foi por João Doria, do PSDB. A evidência é que Arlon, longa manus de Temer, colocou seu pessoal para trabalhar por Doria e divulgou notas pela rede social que detonavam Marta, em plena campanha. Para os peemedebistas, era a senha: Temer está com Doria. Agora se sabe que Arlon fazia mais do que operar politicamente para Temer. Ele cuidou da reforma da casa da sogra de Temer.
Júlio César Froes Fialho – Lobista, sem cargo no serviço público, despachava no interior do Ministério da Agricultura, na gestão de Wagner Rossi, em 2011. É um mistério sua presença lá. Wagner Rossi, o ministro, é de Ribeirão Preto, Mílton Ortolan, seu secretário executivo, de Americana, e Júlio morava em Sorocaba, onde Michel Temer tinha uma forte base eleitoral. Mas Rossi e Ortolan assumiram a culpa. Segundo testemunhas, Júlio Froes chegou a distribuir dinheiro vivo a assessores que atendiam seus pleitos, especialmente na comissão de licitação. Ao ser entrevistado, agrediu o repórter da Revista Veja, com socos que quebraram um dente. Mais tarde, se descobriu que Júlio Froes já tinha cumprido pena de três anos de cadeia por tráfico de drogas. Júlio também não foi desamparado. Alguns meses depois, o prefeito de Votorantim, cidade vizinha de Sorocaba, nomeou a mulher de Júlio para um cargo de assessoria. Antes de ser flagrado, Júlio também promovia cursos em câmara municipais do interior de São Paulo, para ensinar “boas práticas” legislativas.
Edgar ou Edgard – Na gravação que o diretor da JBS Ricardo Saud fez de suas conversas com Rodrigo Rocha Loures, aparece o nome de Edgar ou Edgard, que poderia ser outra mula de Michel Temer, já que o coronel Lima já estaria muito visado.
No círculo próximo de Michel, existe o Edgard Silveira Bueno Filho, que foi assessor de Michel Temer, quando este era chefe da procuradoria do Estado, no governo Montoro.
Quando Michel foi para a Secretaria de Segurança Pública, Edgard o acompanhou e ali permaneceu até ser nomeado por José Sarney para uma vaga de desembargador no Tribunal Regional Federal em São Paulo, que estava sendo criado. Servia a dois Temer. Michel, na Procuradoria e na Secretaria de Segurança, e Feud, irmão mais velho de Michel, advogado, de quem Edgard foi formalmente sócio. O escritório tinha como sócio o tio de Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, o criminalista que defende Temer.
Depois de se aposentar do Tribunal, Edgard foi advogado de Roberto Elias Cury num processo em que este representa os interesses de uma família proprietária de um imóvel desapropriado pela União para abrigar o Tribunal Regional Federal, o mesmo em que Edgard havia sido desembargador.
Cury cobrava da União 210 milhões pela desapropriação em 2001, dez vezes mais o valor de mercado. Cury, o cliente de Edgard, ex-assessor de Michel, era nada menos que o maior credor de indenizações do poder público, não só da União.
Por uma área na Serra do Mar, ele cobrou 1,2 bilhão de reais, por se apresentar como proprietária de terrenos desapropriados para implantação do Parque Estadual da Serra do Mar, criado no governo Montoro, no qual Temer foi chefe da Procuradoria do Estado e tinha como braço direito Edgard Silveira Bueno Filho.
A Procuradoria é que dá a palavra final nos processos de desapropriação. Quando o escândalo do prédio do Tribunal veio à tona, o jornalista Frederico Vasconcellos lembrou da ligação de Edgard com Michel Temer. Diz Frederico, no meio de uma matéria, para apontar o elo político de Edgard:
— Bueno (Edgard) já dividiu escritório de advocacia com o deputado federal Michel Temer (PMDB-SP).
Seria este o Edgard indicado por Rodrigo Rocha Loures para sucedê-lo na tarefa de carregar as malas de dinheiro de Temer?
Esta é uma boa pista para a Polícia Federal seguir, se dela sobrar algum delegado independente depois que se colocou em curso o plano de Aécio Neves (líder da outra organização) para abafar a Lava Jato.
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