Cara amiga Deusdeth, recebi o texto do Ferreira Gullar publicado na Folha, obrigado pelo envio
Tive o (des)prazer de visitar um daqueles manicôminos antigos, tipo o velho Pinel
Refiro-me ao Adauto Botelho, fui levado lá por um colega que era enfermeiro, o Cidmar, isto na década de 80.
O impacto diante do que vi foi tremendo, uma multidão de senhores e senhoras gordos, jogado sopa uns nos outros, muitos acorrentados.
Nos quartos uns acorrentados e levando eletrochoque.
Até hoje não me esqueci, mesmo sabendo que tal hospício já foi demolido.
Quem ganha com o velho sistema:
As fábricas de remédio e os médicos interessados em faturar e faturar cada vez em cima das doenças mentais.
Atualmente o sistema é outro, em muitos bairros existem núcleos de aasistencia aos que sofrem de transtornos mentais, espécies de oficinas para onde eles vão, trabalham, criam
Não tem o menor cabimento uma pessoa como Gullar defender o modelo que, pelo jeito, ainda não foi demolido de vez.
Dou um desconto para Gullar, sabe muito bem polemizar, para se ter uma idéia ele mantêm uma polêmica há mais de 50 anos, a sua recusa em aceitar o neoconcretismo e artistas do porte de Ligya Clarck e Hélio Oiticica
O Gullar ainda não saiu do concretismo.
Tendo uma Folha então para apoiá-lo...
Ass: José Carlos Lima
http://www.josecarloslima.blogspot.com/
ps
Para quem não sabe, a Deusdet do Carmo Martins Martins participa há muitos anos da luta antimanicomial
Uma pessoa e tanta
Acabo de receber esta mensagem de Deusdet
Em 12/04/2009 21:57, Deusdet do Carmo Martins Martins <> escreveu:
Segue abaixo assinado para começar a coleta de assinaturas, para entrega às autoridades durante as comemorações do 18 de maio.Feitas as coletas, Poderão ser entregues na Sede do CRP - Av. T-2, nº 803 - S. Bueno - entre as av. T- 8 e T9.Deusdet
FÓRUM GOIANO DE SAÚDE MENTAL18 de maio – Dia Nacional da Luta AntimanicomialREFORMA PSIQUIÁTRICA – Parou Por quê?Nós, abaixo assinado, diante da morosidade no processo da Reforma Psiquiátrica no estado de Goiás e especialmente de sua estagnação na cidade de Goiânia – GO, exigimos a retomada deste, com investimentos reais em Saúde Mental: ampliação da rede substitutiva ao hospital psiquiátrico com a criação de CAPS III (24 horas) e centros de convivência, bem como a contratação, capacitação e supervisão de profissionais da área.Goiânia, maio de 2009.Nº de documentoNomeAssinatura
Em 12/04/2009 19:47, Deusdet do Carmo Martins Martins < deusdetm@gmail.com > escreveu:
FERREIRA GULLAR
Uma lei errada
Campanha contra a internação de doentes mentais é uma forma de demagogia
ACAMPANHA contra a internação de doentes mentais foi inspirada por um médico italiano de Bolonha. Lá resultou num desastre e, mesmo assim, insistiu-se em repeti-la aqui e o resultado foi exatamente o mesmo.
Isso começou por causa do uso intensivo de drogas a partir dos anos 70. Veio no bojo de uma rebelião contra a ordem social, que era definida como sinônimo de cerceamento da liberdade individual, repressão "burguesa" para defender os valores do capitalismo.
A classe média, em geral, sempre aberta a ideias "avançadas" ou "libertárias", quase nunca se detém para examinar as questões, pesar os argumentos, confrontá-los com a realidade. Não, adere sem refletir.
Havia, naquela época, um deputado petista que aderiu à proposta, passou a defendê-la e apresentou um projeto de lei no Congresso. Certa vez, declarou a um jornal que "as famílias dos doentes mentais os internavam para se livrarem deles". E eu, que lidava com o problema de dois filhos nesse estado, disse a mim mesmo: "Esse sujeito é um cretino. Não sabe o que é conviver com pessoas esquizofrênicas, que muitas vezes ameaçam se matar ou matar alguém. Não imagina o quanto dói a um pai ter que internar um filho, para salvá-lo e salvar a família. Esse idiota tem a audácia de fingir que ama mais a meus filhos do que eu".
Esse tipo de campanha é uma forma de demagogia, como outra qualquer: funda-se em dados falsos ou falsificados e muitas vezes no desconhecimento do problema que dizem tentar resolver. No caso das internações, lançavam mão da palavra "manicômio", já então fora de uso e que por si só carrega conotações negativas, numa época em que aquele tipo hospital não existia mais. Digo isso porque estive em muitos hospitais psiquiátricos, públicos e particulares, mas em nenhum deles havia cárceres ou "solitárias" para segregar o "doente furioso". Mas, para o êxito da campanha, era necessário levar a opinião pública a crer que a internação equivalia a jogar o doente num inferno.
Até descobrirem os remédios psiquiátricos, que controlam a ansiedade e evitam o delírio, médicos e enfermeiros, de fato, não sabiam como lidar com um doente mental em surto, fora de controle. Por isso o metiam em camisas de força ou o punham numa cela com grades até que se acalmasse. Outro procedimento era o choque elétrico, que surtia o efeito imediato de interromper o surto esquizofrênico, mas com consequências imprevisíveis para sua integridade mental. Com o tempo, porém, descobriu-se um modo de limitar a intensidade do choque elétrico e apenas usá-lo em casos extremos. Já os remédios neuroléticos não apresentam qualquer inconveniente e, aplicados na dosagem certa, possibilitam ao doente manter-se em estado normal. Graças a essa medicação, as clínicas psiquiátricas perderam o caráter carcerário para se tornarem semelhantes a clínicas de repouso. A maioria das clínicas psiquiátricas particulares de hoje tem salas de jogos, de cinema, teatro, piscina e campo de esportes. Já os hospitais públicos, até bem pouco, se não dispunham do mesmo conforto, também ofereciam ao internado divertimento e lazer, além de ateliês para pintar, desenhar ou ocupar-se com trabalhos manuais.
Com os remédios à base de amplictil, como Haldol, o paciente não necessita de internações prolongadas. Em geral, a internação se torna necessária porque, em casa, por diversos motivos, o doente às vezes se nega a medicar-se, entra em surto e se torna uma ameaça ou um tormento para a família. Levado para a clínica e medicado, vai aos poucos recuperando o equilíbrio até estar em condições que lhe permitem voltar para o convívio familiar. No caso das famílias mais pobres, isso não é tão simples, já que saem todos para trabalhar e o doente fica sozinho em casa. Em alguns casos, deixa de tomar o remédio e volta ao estado delirante. Não há alternativa senão interná-lo.
Pois bem, aquela campanha, que visava salvar os doentes de "repressão burguesa", resultou numa lei que praticamente acabou com os hospitais psiquiátricos, mantidos pelo governo. Em seu lugar, instituiu-se o tratamento ambulatorial (hospital-dia), que só resulta para os casos menos graves, enquanto os mais graves, que necessitam de internação, não têm quem os atenda. As famílias de posses continuam a por seus doentes em clínicas particulares, enquanto as pobres não têm onde interná-los. Os doentes terminam nas ruas como mendigos, dormindo sob viadutos.
É hora de revogar essa lei idiota que provocou tamanho desastre.
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