30/11/2009

Vilella, de Honduras: Obama "negociou" Zelaya

por Heloisa Vilella, no R7

Acho que esse é o recado que a situação de Honduras envia para toda a região. E isso não é visão de brasileiro, ou de sul-americano.

É um legítimo representante da diplomacia americana que expressou a decepção com a nova equipe da Casa Branca.

Robert White foi embaixador americano em vários postos. Entre março de 1980 e março de 1981, serviu em El Salvador.Tempos difíceis. Era o começo da sangrenta guerra civil que durou 12 anos.

Na época, criticou a ultra direita e denunciou militares e grupos paramilitares de estavam cometendo atrocidades. Claro, foi chamado de volta assim que Ronald Reagan assumiu a presidência.

O ex-embaixador é presidente do Centro de Política Internacional e escreveu um artigo sobre a situação de Honduras que começa com a seguinte frase:

“Agora é possível reconstruir, com um bom grau de precisão, como a administração Obama transformou um triunfo diplomático iminente em uma derrota negociada”.

Ele deixa claro que os Estados Unidos trocaram o apoio que vinham dando a volta da ordem democrática, em Honduras, pela aprovação de duas indicações para o corpo diplomático (uma delas o futuro embaixador no Brasil) que a direita radical estava bloqueando no Congresso.

E o que é pior, ele descreve, para quem ainda não tinha percebido, como o Departamento de Estado enganou Manuel Zelaya, fazendo o presidente crer que havia realmente um acordo com os golpistas liderados por Roberto Micheleti.

Zelaya acreditou que os Estados Unidos zelariam pelo cumprimento do acordo. Pura ficção. Os gringos, mais espertos, deixaram a linguagem do acordo vaga o suficiente para permitir que nunca fosse levado a cabo.

O ex-embaixador conclui: “O resultado desta diplomacia cínica e amadora não poderia ser pior”.

Mas é o último parágrafo do artigo do diplomata americano que mostra para onde vai a relação dos Estados Unidos com o resto do hemisfério, que tanto acreditou nas promessas de mudança do candidato democrata:

“É triste contemplar como a administração Obama se atrapalhou com um desafio para o qual tinha o apoio de todo o hemisfério. Não é a toa que o Presidente Lula acusou o Presidente Obama de estar revertendo a promessa de uma nova relação com a América Latina”.

Eu só acrescentaria um dado a mais. Durante a campanha eleitoral, já havia sinais de que os novos ares nem sempre se traduziriam em novas práticas.

O candidato Obama publicou um documento traçando as linhas mestras da política para a América Latina que adotaria, caso fosse eleito.

E um dos parágrafos dava apoio à operação do exército da Colômbia em território equatoriano, em março de 2008. A plataforma de Obama não levou em conta o repúdio unânime da região à operação militar colombiana.

E agiu agora, mais uma vez, sem dar a menor pelota para a unidade diplomática contra o golpe de estado que se formou na OEA. Ou seja, não foi uma grande surpresa.

Aqui, um excelente artigo, em inglês, do ex-embaixador Robert White.

FONTE: viomundo
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Opinião


Como na era Bush

por Luiz Carlos Azenha

A Organização dos Estados Americanos tem 35 integrantes. Cuba está em processo de readmissão. Honduras está suspensa.

Os Estados Unidos sempre mandaram na OEA. Pelo poder econômico e militar que representam.

Ainda assim, no processo de Honduras, o governo Obama conseguiu o mísero apoio de três outros países: Costa Rica, Colômbia e Peru.

Os Estados Unidos são, sem qualquer sombra de dúvida, o maior poder militar e econômico do mundo.

Nas Nações Unidas, frequentemente dão apoio isoladamente a Israel, que descumpe resoluções da própria ONU.

Houve um momento em que se imaginou que o governo Obama iria apostar no multilateralismo e abandonar o "go it alone" de George W. Bush.

Mas Obama, até agora, é Bush light.

Recuou do fechamento de Guantánamo, do banimento das minas terrestres e, em Honduras, desprezou a esmagadora maioria. Por mais que a direita brasileira faça esforço para reconhecer o resultado eleitoral em Honduras, o fato concreto é que a diplomacia americana está perdendo de 29 a 4.

Nesse caso, o Brasil não está isolado. Isolados, ou quase, estão os Estados Unidos. Como na era Bush.

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