Anti-Jô Soares
Por Mário Bortolotto*
Tô doente e meu humor não anda bom. Então, insone e rabugento, resolvo assistir o Programa do Jô. É claro que meu humor não vai melhorar.
Então vejamos. O Jô Soares entrevistou a Mel Lisboa. Pelo pouco que conheço, gosto dela. É uma garota tranqüila. Participou da montagem de um texto meu no Rio de Janeiro. Uma montagem feita na base da brodagem, sem grana, etc. Mas na entrevista ela não falou muita coisa. A Fernanda D'Umbra escreveu um post no blog dela (com link aqui) falando sobre o fato das atrizes não serem exatamente levadas a sério em uma entrevista.
Vendo a entrevista da Mel, tenho que concordar com a Fernanda. O Jô só ficava falando o quanto ela era bonita e querendo saber sobre as fotos da Playboy. Na real, não conheço intimamente a garota e não sei se ela tinha algo realmente importante a dizer, mas o que eu sei é que o entrevistador não ajudou em nada. Assim fica difícil. Quero ver a hora que uma atriz tiver a manha de dizer algo do tipo: “Ok, você já falou como eu sou bonita. Agora que tal me fazer alguma pergunta decente?”
Mas isso é típico do Jô. Quando vai um rockeiro lá, ele só fica querendo saber das tatuagens do cara ou do corte de cabelo excêntrico. Acho que o cara também tinha que ter a manha de dizer: “Tá legal, cara. Agora que tal a gente falar um pouco da minha música?” Desse jeito fica difícil.
Mas voltando a entrevista da Mel, ela disse que suas fotos na Playboy foram inspiradas na interpretação que Ornella Mutti fez da personagem Cass no filme Crônica do Amor Louco baseado na literatura de Charles Bukowski. Ela não disse exatamente tudo isso. Eu que tô dizendo.
Mas, enfim, não é isso que eu quero falar. O que acontece é que aí o Jô colocou uma cena do filme no telão e demorou pra reconhecer o filme. Sei lá, acho que o ponto dele tava dormindo. O que eu acredito é que quanto mais o sujeito ganha dinheiro, menos tempo ele vai tendo pra procurar se informar. Porra, o filme é um clássico. Pra mim, é a mesma coisa que passar uma cena de Gene Kelly dançando com o Guarda-Chuva e o figura não reconhecer de que filme se trata. Desculpa aí.
E aí ele entrevistou o Celso Frateschi (nosso secretário de Cultura). Eu não sou exatamente o mó entusiasta do trabalho que o Celso vem fazendo na Secretaria, mas o Jô podia ter deixado o cara falar um pouco. Parece que o Jô tava perturbado com um patrocínio que ele perdeu, sei lá. E aí chamou o Secretário e ficou monologando. Chato pra caralho.
E não esquecer que antes o Jô fez questão de dizer que a Maria Adelaide Amaral tinha dito que o Celso era um excelente ator. Na boa, o Jô devia ir mais ao teatro. O Celso é realmente um excelente ator, mas já tá há um tempão na estrada. Como é que um cara que se diz tão informado quanto o Jô nunca viu um trampo do Celso? E olha que o cara ainda faz TV de vez em quando. Será que o Frateschi tem que mandar um video book com o trabalho dele pro programa do Jô?
E aí ele entrevistou um cara que escreveu um livro sobre o Elvis Presley. No final, Mr. Jô fez questão de fazer sua análise sobre o trabalho de ator de Elvis deixando claro que o Rei do Rock como ator era muito ruim. Mas não conseguia falar nenhum nome de filme que o Elvis fez. E na hora que passou o trechinho de um no infalível telão, era justamente um filminho bobo (Girls, Girls, Girls), com Elvis dançando com uma garota, me parece que mais numas de mostrar o quanto o apresentador estava certo. Porra, sabe que eu não acho o Elvis realmente um grande ator.
Mas o cara tinha carisma. Com um pouco mais de trabalho e fazendo os filmes certos eu acho que o Elvis levava jeito. Os primeiros filmes são bem legais. Jô não conseguia lembrar de nenhum. Acho que ele só viu a fase do Hawaii que é tudo a mesma merda. Bem, então lá vai, vou fazer o trabalho que o ponto do Jô devia ter feito: Love Me Tender, Loving You, Jailhouse Rock e o ótimo King Creole, com direção de Michael "Casablanca" Curtiz. Ainda teve o bom Flaming Star, citado pelo escritor no programa do Jô e logo repudiado pelo apresentador.
E o mais engraçado é ver que essa análise é feita justamente por um cara que apresenta um programa de entrevistas mas fala mais que o entrevistado. É comediante, mas não tem a menor graça. Alguém ri daquelas piadas que ele conta no começo do programa? Diz que é artista plástico (caramba). Escreve uns livros ruins pra cacete. E aí, Mirisola, quando é que você vai falar da literatura do Jô? Esquece o Chico Buarque um pouco e redireciona sua artilharia. O cara tá merecendo. Daqui há pouco ele também ganha algum premio que devia ser seu. Toca trompete, mas convenhamos, toca mal pra caralho. Só mesmo contratando uma banda pra tocar com ele.
Lembro de uma entrevista com o João Donato e o Jô insistindo que o João tocava um determinado instrumento (não me lembro se era sax). O João, grande músico que é e em sua simplicidade retrucou: "Não, Jô. Eu não toco, não. Quer dizer, toco assim, como você toca trompete. Nada sério". O clima de constrangimento foi um show à parte. Não é por nada não, mas tá difícil assistir o programa do cara.
FONTE: http://www.digestivocultural.com/
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Entrevista de Bortolotto à Etcetera, revista eletrônica de arte e cultura
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Etc - Pra finalizar, você tem um blogue na rede, como vê a internet ?
MB - Eu adoro internet, fico às vezes a madrugada inteira navegando, substituiu a televisão, porque eu era bem tvmaníaco e como eu não tenho tv a cabo ficava complicado porque tem muita bosta na televisão. Eu sou um pouco insone, então ficava às vezes em frente à tv só "zapiando" e ficava de saco cheio disso. Agora com a internet é muito bom, adoro ler blogues de amigos, tenho o meu, linko todos os de amigos meus e adoro descobrir blogues novos interessantes.
Clique aqui para ler a entrevista na íntegra* Mário Bortolotto nasceu em 1962, em Londrina-PR. Estudou em seminário e na adolescência iniciou sua carreira artística no teatro e na literatura. Participou de inúmeros festivais de teatro pelo Brasil, sempre com o Grupo Cemitério de Automóveis, do qual é fundador (em 2007 o grupo completou 25 anos de existência). Em 2000 ganhou o Prêmio APCA pelo conjunto da obra e o Prêmio Shell de melhor autor por sua peça Nossa vida não vale um Chevrolet. Desde 1996 mora e trabalha em São Paulo, capital.
Com um estilo calcado em histórias em quadrinhos, cinema, blues, rock e o universo beatnik, o escritor cria espetáculos com estilo próprio. Além de atuar, escrever e dirigir seus espetáculos, participa como vocalista e compositor das bandas Saco de Ratos Blues e Tempo Instável. Gravou o cd de blues Cachorros gostam de Bourbon com composições suas.
Quase todas as peças escritas por Mário Bortolotto já foram publicadas, por editoras pequenas, num total de quatro livros. Também publicou um livro de poesia, Para os inocentes que ficaram em casa, além dos romances Mamãe Não Voltou do Supermercado e Bagana na Chuva.
Em 2006, lançou o livro Atire no Dramaturgo, uma coletânea de textos publicados em seu blog Atire no Dramaturgo, no qual escreve diariamente desde 2004.
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