16/06/2018

Vivemos num pais em que o presidente se chama miShell e, a PGR, de Raquel DOJ ou: Precisamos aprender o beabá do imperialismo


Na imagem: integrante da Casa Grande ataca a Senzala durante a caravana de Lula à Região Sul


Ás vezes penso se estou morando no Iraque do início deste século, sob dominio dos corsários americanos
E tenho me perguntado se não foi programado pelos EUA, ou seja, por pura sacanagem, as duas mais altas autoridade do paises, se chamarem:

Presidente: miShell
PGR: Raquel DOJ....kkkk

Pois é....
Vivemos num pais em que, para deleite dos invasores e da rapinagem, parte da população vivia lutando pela prisão do seu melhor presidente, aquele que ousou tornar esse pais importante no concerto das nações...

Vivemos numa pais em que os meios de comunicação travam uma guerra santa diante da revelação de que o Papa Francisco pretende visitar Lula na prisão e, para isso, envia um emissário: enquanto os midia centram fogo no Papa, o pais, por conta da Lava Jato, tem sua engenharia nacional destruída graças ao que o juiz Sérgio Moro, preposto do Império, chamou de "desnacionalização! quando na verdade é pura rapinagem a destruição da indústria de defesa e entrega aos gringos: o  pré-sal,  a Petrobras, a Embraer, os,minérios, a  Base de Alcantara,  o maior aquífero do planeta, a Eletrobrás....só para citar alguns dos nosso bens estratégicos que, apesar de entregues, o dólar sobe, os direitos sociais são desmontados, o pais se dissolve....

Interessante se notar que  o "nosso"  presidente se chama miShell.....e a PGR de Raquel DOJ...rssss

Vivemos num pais em que não se sabe o que é agressão imperialista e, muito menos, o que é defesa do interesse nacional

Vivemos num pais e que se ovaciona o DOJ, aliás, temos que explicar o que é DOJ*

DOJ, é o Departamento de Estado dos EUA que, seja sob governo Democrata ou Republicano, não muda sua politica imperialista, os americanos sim, sabem o que é defesa do interesse nacional e, por anos e anos de prática, sabem como converter os povos de um pais em autossabotadores: Lula está pagando pela ignorância nacional....e pela sabedoria americana....

Para entender isso, é recomendável a leitura de autores que abordam o imperialismo, claro, atentos para o fato de que falar sobre o nosso tema fundamental é proibido nestes 500 anos de nossa existência, aliás, o Golpe até inventou um tal "Escola Sem Partido" para colocar na cadeia o professor que ouse ensinar a realidade dos fatos aos alunos....

1- Jessé Souza:  Elite do Atraso, da Escravidão à Lava Jato



Em A elite do atraso – Da escravidão à Lava Jato, Jessé Souza quer fazer o que, em sua opinião, nenhum intelectual da esquerda jamais fez: explicar o Brasil desde o ano zero. Isso porque se ideias antigas nos legaram o tema da corrupção como grande problema nacional – conforme defende no livro -, só mesmo novas concepções sobre o país e seu povo poderiam explicar, de uma vez por todas, que as raízes da desigualdade brasileira não estão na herança de um Estado corrupto, mas na escravidão.
Para tanto, o sociólogo confronta uma das principais obras do pensamento social brasileiro, Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda – responsável por utilizar pela primeira vez a ideia de patrimonialismo para definir a política nacional. Jessé compreende que o conceito – segundo o qual o Estado brasileiro seria uma extensão do “homem cordial” que não vê distinções entre público e privado – serve para legitimar interesses econômicos de uma elite que manda no mercado, este sim a real fonte de corrupção e poder.
Doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha) e professor da UFABC, Jessé Souza é autor de 27 livros, incluindo A ralé brasileira: quem é e como vive(2009), A tolice da inteligência brasileira (2015) e A radiografia do golpe (2016). Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre 2015 e 2016, coordenou pesquisas de amplitude nacional sobre classes e desigualdade social. Em entrevista à CULT, o sociólogo critica a existência de uma interpretação dominante sobre o Brasil e aponta os motivos pelos quais a sociedade brasileira em 2017 não passa de uma continuidade da sociedade escravocrata de 500 anos atrás.
No livro você afirma que Sérgio Buarque de Holanda inaugurou uma forma de pensar o brasileiro como negatividade que se estende ao Estado, visão que teria influenciado de Raymundo Faoro a Sergio Moro. Por que essa chave de leitura tem tanta força?
Essa ideia foi montada para defender interesses econômicos. Às vezes me espanto como não se percebeu isso antes. Quando a elite paulistana perde o poder político para Vargas em 1930 – e perde para um movimento de classe média, que estava se formando no país naquela época -, ela começa a organizar um poder ideológico para condicionar o poder político a atuar conforme as suas regras. Isso foi dito, articulado, pensado. Esse pessoal já tinha fazendas de café, as grandes indústrias em São Paulo, já tinha controle sobre a produção material e aí constroem as bases para o poder simbólico – e a sociedade moderna vive desse poder simbólico. Essa elite cria a Universidade de São Paulo, que vai formar professores de outras universidades e que vai produzir conceitos importantes para que essa elite, tirando onda de que está fazendo o bem, faça efetivamente todo mundo de imbecil para que seus interesses materiais e políticos sejam preservados.
Que conceitos são esses?
São duas ideias que nos fazem de imbecis. Uma delas é a do patrimonialismo, em que há uma distorção da fonte do poder social real,  como se o Estado fosse montado para roubar, vampirizar e fazer o mal – e como se nada acontecesse no mercado. Embora seja uma instância de poder importante, no capitalismo quem comanda o poder é o mercado. Há uma tradição inteira, 99 de 100 intelectuais até hoje professam esse tipo de coisa. Sérgio Buarque inaugura [esse pensamento no Brasil], depois Raymundo Faoro dá uma profundidade histórica e Fernando Henrique Cardoso transforma isso em teoria; o programa político do PSDB é todo retirado de Raízes do Brasil. Mas também influenciou a esquerda. Sérgio Buarque foi um dos fundadores do PT, fez todo mundo de imbecil, da direita à esquerda. E como a esquerda não tem uma concepção autônoma de como a sociedade funciona, de como o Estado funciona, ela chega ao poder com um plano econômico alternativo, mais inclusivo, e acha que as pessoas por alguma mágica vão perceber que aquilo é bom pra elas. A esquerda nunca fez o que a direita e a elite fizeram.
Por que a esquerda nunca articulou uma narrativa contrária a essa?
Porque foi incapaz. Porque não foi inteligente, porque se deixou imbecilizar. Porque o tema do patrimonialismo é tratado como crítica social: “Olha, estamos descobrindo quais são as mazelas brasileiras, um gene da corrupção de 800 anos que nos toma a todos”. Isso significa que o Estado [teoricamente] vampiriza e não deixa as forças “emancipadoras” do mercado agirem – como se o mercado, em algum lugar do mundo tivesse sido emancipador por si próprio. Os países campeões do liberalismo como Inglaterra e Estados Unidos têm uma estrutura de Estado extremamente forte, foram protecionistas – e depois dizem a outros países serem o que eles mesmos nunca foram. Isso deu esse charme – o “charminho crítico”, como eu chamo – a esse tipo de ideia como o patrimonialismo, que muitas vezes a esquerda comprou.
O segundo conceito chave, também inventado na Usp, foi o populismo, que torna suspeito e criminaliza tudo aquilo que vem das classes populares – inclusive qualquer liderança associada a elas, que são também estigmatizadas e suspeitas de estarem manipulando a tolice “inata” dessas classes. Eu estudei por décadas os muito pobres e eles são muito mais inteligentes do que a classe média. Eles veem a política como o jogo dos ricos em que todo mundo rouba enquanto a classe média se deixa engambelar por esse tipo de coisa. A classe média foi montada para ser idiotizada, é uma espécie de capataz da elite entre nós.
Na história do pensamento social brasileiro nenhum intelectual chegou perto de romper com essas duas ideias, na sua opinião?
Florestan Fernandes saiu um pouco disso porque estudou dilemas e conflitos de classe; Celso Furtado foi outro genial que percebeu coisas importantes que não têm nada a ver com esses esquemas. Mas esses caras não reconstruíram a história do Brasil como um todo. Foi essa a ambição que eu tive nesse livro porque eu percebi que, para atacar esse negócio e dar nele um nocaute, é preciso fazer o que eles [a elite] fizeram: explicar o Brasil desde o ano zero. O que foi, como foi, por que somos hoje o que somos e o que isso implica para o nosso futuro. Eu tentei fazer o que esses caras não fizeram, apesar de termos tido críticos que discutiram aspectos parciais de modo extremamente importante. Mas se não reconstruirmos o todo, as lacunas do que construímos apenas parcialmente serão invadidas pela teoria dominante, daí Florestan usar o patrimonialismo e essa bobagem toda.
Esse pessoal diz que nosso berço é Portugal e que de lá vem a nossa corrupção – uma coisa que me dá raiva de tão frágil, já que corrupção é um conceito moderno que implica a noção de soberania popular que é coisa de 200 anos. O nosso berço é a escravidão, que não existia em Portugal a não ser para os muito ricos. Não era fundante, era marginal, nunca foi mais de 5%, enquanto nós fomos montados nela. Essa teoria sobre o Brasil, que se põe como científica, no fundo não vale um centavo furado. É montada a partir de ilusões do senso comum, como se a tradição cultural fosse transmitida pelo sangue. São instituições concretas que nos moldam, é a forma da família, da escola que faz com que sejamos o que somos.
No livro você comenta que um dos principais problemas do Brasil é que aqui não houve nenhum tipo de reflexão acerca da escravidão. Quais são os efeitos práticos disso na sociedade brasileira, hoje?  
Literalmente tudo. Primeiro há a naturalização da miséria e do sofrimento alheio. Todas as sociedades já foram um dia escravocratas, apenas a Europa, no Ocidente, quebrou com a herança escravista do mundo antigo. Isso significa que embora a pessoa seja socialmente inferior a você, ela não será tratada como uma coisa, mas como um ser humano. E com as lutas sociais por igualdade, são produzidos processos coletivos de aprendizado na qual a dor e o sofrimento do outro podem ser revividos em cada um. Nós, por outro lado, mantivemos essa subhumanidade. Nós não nos importamos com a dor e com o sofrimento dos pobres, as evidências empíricas são claríssimas como a luz do sol, inegáveis para qualquer pessoa de boa vontade. A polícia mata pobres indiscriminadamente – e faz isso porque a classe média e a elite aplaudem. Houve recentemente essa coisa completamente absurda e bárbara das matanças nos presídios, e a classe média aplaudiu. São provas de que temos, como sociedade, ódio aos pobres. Isso veio da escravidão, em que havia uma distinção muito clara entre quem é gente e quem não é. Por isso, não nos importamos com o tipo de escola e de hospital que essa classe vai ter, por exemplo, o que é uma enorme burrice porque estamos criando inimigos, ressentimento. A Alemanha fez um esforço extraordinário para incorporar os 17 milhões que viviam na Alemanha Oriental, tornando seu mercado mais forte, mas aqui a gente simplesmente joga no lixo esse tipo de coisa porque nunca criticamos a nossa herança escravocrata, porque acreditamos nessa baboseira de herança portuguesa da corrupção. Raymundo Faoro tratava a existência de senhores de escravos como algo banal, quando na verdade o senhor de escravo deve estar no centro [da análise], já que todas as outras instituições vão se montar a partir daí. É uma continuidade absurda de 500 anos e nós somos cegos a isso.
Como essa continuidade aparece?
A família dos muito pobres repete há 500 anos a família dos escravos e eles ainda fazem o mesmo tipo de serviço que faziam antes, são escravos domésticos. Fazem parte de famílias desestruturadas, uma vez que na escravidão não se estimulava que o escravo tivesse família porque era preciso humilhá-lo, abatê-lo. Exatamente como acontece hoje. A escravidão só prospera com o ódio ao escravo e o Brasil de hoje é marcado por uma coisa central que só um cego não vê, o ódio ao pobre. A humilhação do pobre. O PT caiu não por causa da corrupção – que pode ter existido, é bom ver as provas -, mas porque tocou no grande pecado de ter diminuído um pouquinho a distância entre as classes. A distância desses 20% para os 80% é a pedra de toque para esse acordo de classes absurdo no Brasil.
O único país que se assemelha a nós no planeta é a África do Sul. Vivemos um apartheid aqui. Governos de esquerda caem, acontecem golpes de Estado toda vez que tentam diminuir essa distância entre as classes. Com isso você constrói dois planetas dentro de um mesmo país, é isso o que temos hoje. Como a classe média não pode transformar esse seu ódio ao pobre em mensagem política – porque isso seria canalhice e temos essa influência cristã -, ela utiliza o pretexto da corrupção já dado pelos nossos intelectuais no tema do patrimonialismo. Todas as elites estudaram em todas as universidades essa mesma bobagem, todo jornal repetiu e repete em pílulas essa mesma imbecilidade, fazendo com que as pessoas internalizem isso como uma verdade absoluta.
Você afirma no livro que a crise atual do Brasil é “também e principalmente uma crise de ideias”. Partindo disso, quanto dessa crise a gente pode colocar na conta da própria esquerda, já que ela nunca se mobilizou para produzir outra interpretação do Brasil?
Ela nunca se mobilizou, isso é uma fraqueza e eu acho que temos que mudar isso. Eu decidi transformar a minha vida nisso, por exemplo. Tem que começar em algum momento. Eu tive sorte porque morei muito tempo fora do Brasil e de algum modo peguei um olhar externo. Tem um grande filósofo que diz que o que propicia o conhecimento é o fato de você conhecer aquele lugar, mas estranhá-lo, ou todas as coisas viram naturais. E se tudo é natural você não interroga, não há dúvida.
Um estudo recente do Instituto Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto Datafolha mostra que, numa escala de 0 a 10, a sociedade brasileira chega num índice de 8,1 na predileção por posições autoritárias, principalmente entre jovens de 16 a 24 anos. Como interpreta esse dado?
É de fácil explicação. A partir de 1980 há um partido que nasce de baixo para cima. Nunca havia existido isso entre nós, um partido que congrega trabalhadores rurais e urbanos – eu tenho muitas críticas ao PT, mas é inegável que ele foi uma inflexão importante nessa história da escravidão. E ele passa a representar uma demanda por igualdade nessa sociedade perversamente desigual. Quando você afirma que esse partido é uma organização criminosa – usando no fundo aquela ideia do populismo, de que tudo o que vem das classes populares é estigmatizado – você está afirmando que a igualdade não é um fim, mas um mero meio, uma estratégia de assalto ao Estado. Ora, para onde vai a raiva justa dos 80% dos excluídos se ela não pode ser expressa de modo político e racional? Vai ser expressa de modo pré-político, ou seja, violência pura. A Globo e a Lava Jato criaram Jair Bolsonaro, só o cego ou o mal intencionado não vê. Esse namoro com o autoritarismo tem a ver com o ataque midiático, esse conluio entre Rede Globo e Lava Jato, e eu espero que esse pessoal pague por isso um dia.  
No limite, essa chave de leitura inaugurada por Sérgio Buarque serve para justificar golpes de Estado e a Lava Jato, por exemplo?
Sim, a Lava Jato não tem nada a ver com acabar com a roubalheira. Até porque a roubalheira aumentou, isso é visível agora que temos no governo uma turma da pesada. É claro que a corrupção dos políticos existe, mas é uma gota no oceano. Esses caras são meros lacaios do mercado, os office-boy, é o que o nosso presidente é. Se você disser que o sistema inteiro é corrupto e que ele foi montado assim para que o mercado pudesse comprá-lo, aí você estaria esclarecendo alguma coisa, mas quando se diz que apenas um partido, aquele das classes populares, rouba, isso é uma mentira e um crime.
Vê saídas para essa tendência autoritária observada na sociedade brasileira?
Não tem nenhum outro modo, os seres humanos precisam ter ideias, sem ideias não dá para ir a lugar algum. É claro que isso tudo pode ficar ainda pior, a gente pode chegar a formas fascistas, mas o que a elite quer é dinheiro, se for por uma ditadura militar, se for matando gente, não tem nenhuma importância. Fato é que nesse instante de crise estamos com as vísceras à mostra e isso é uma oportunidade de vermos a podridão desse esquema que foi montado por essa elite usando e imbecilizando não só a classe média, e retirando a possibilidade de levarmos a vida de modo reflexivo. O que esse pessoal nos tirou foi a possibilidade de aprendizado da sociedade brasileira baseado na reflexão. E isso é impagável.
2-  Luiz Alberto Moniz Bandeira 

 As Relações Perigosas: Brasil- Estados Unidos



3- Luiz Alberto Moniz Bandeira 

Formação Do Império Americano

Sinopse:

Em Formação Do Império Americano, Luiz Alberto Moniz Bandeira apresenta um estudo profundo e abrangente tanto de história como de ciências políticas, no qual demonstrou que a prática não confirmou a teoria de que o imperialismo representava ‘o prelúdio da revolução social do proletariado’, e que estava ‘às portas de sua ruína, maduro até a ponto de ceder o posto ao socialismo’, tal como Lenin acreditava; foi confirmada, no entanto, a hipótese de Karl Kautsky, que previu em 1914 o advento de uma outra etapa – a do ultra-imperialismo.


Tal etapa previa que as potências industriais, assim como as empresas do mercado, terminariam por se unir e formariam uma espécie de cartel, deixando de competir pelas armas; e as guerras, para o consumo do material bélico, passariam a ocorrer somente com ou nos países mais atrasados, na periferia do sistema capitalista.



Orientado pelo princípio de que o conhecimento do presente depende do conhecimento do passado, ou seja, do conhecimento histórico, Moniz Bandeira analisa o processo de internacionalização/globalização do capitalismo e sua evolução para o ultra-imperialismo, sob a hegemonia dos Estados Unidos, consolidada após duas grandes guerras mundiais nas quais a Alemanha saiu derrotada e a Grã-Bretanha e a França extremamente enfraquecidas.



Com base na própria documentação americana, o autor esquadrinha as mais solertes e ilícitas manobras de líderes políticos e chefes de governo, assim como desvela conexões entre a política doméstica e a internacional nos Estados Unidos e os procedimentos adotados na formação e expansão do império.



Pretextos foram manufaturados para a deflagração de guerras; a ameaça da União Soviética e do comunismo foram amplificadas sob o contexto da Guerra Fria, a fim de fomentar o armamentismo e finalmente instalar, após o colapso do Bloco Socialista, uma ditadura planetária, visando a superar a contradição fundamental entre a dimensão econômica do capital, globalizado, e a estreita dimensão territorial dos Estados nacionais.



Daí a necessidade da guerra perpétua, infinita, e a relevância de se fomentar um clima de permanente intimidação e constante terror.




4-  Luiz Alberto Moniz Bandeira 

 Brasil - Estados Unidos: a rivalidade emergente (1950-1988) 


                                                                              Clique para ampliar






A obra de referência Brasil - Estados Unidos: a rivalidade emergente (1950-1988) ganha edição revista e ampliada pelo professor Luiz Alberto Moniz Bandeira. O estudo revela que a “tradicional amizade” entre os dois países sempre constituiu um estereótipo ideológico manipulado com o objetivo de influenciar a política exterior do Brasil.

Baseado em ampla documentação, Moniz Bandeira mostra como o relacionamento entre as duas potências das Américas nem sempre foi suave e tranquilo. No século XIX, o Brasil suspendeu três vezes (1827, 1847 e 1869) as relações diplomáticas com os Estados Unidos, e não aceitou, passivamente, sua hegemonia, ainda que, até a primeira metade do século XX, dependesse das exportações para o gigante norte-americano.

As necessidades da industrialização, impulsionada pelo presidente Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), agravaram as contradições com os Estados Unidos, o que concorreu decisivamente para o golpe militar de 1964. O “breve e aberrante interlúdio”, conforme o embaixador americano John Crimmins qualificou o governo do marechal Humberto Castelo Branco, por seu “alinhamento automático” com os Estados Unidos, e os interesses econômicos do Brasil determinaram o reaparecimento das contradições. Os atritos chegaram ao seu ápice com a assinatura do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha (1976) e a ruptura do Acordo Militar com os Estados Unidos, pelo governo do general Ernesto Geisel, em 1977.

Brasil - Estados Unidos: a rivalidade emergente (1950-1988) não constitui uma obra isolada. Ela é parte de um conjunto, que começa com Presença dos Estados Unidos no Brasil (Dois séculos de histórias) e no qual se integram As relações perigosas: Brasil - Estados Unidos (De Collor a Lula); Brasil, Argentina e Estados Unidos –Conflito e integração na América do Sul (Da Tríplice Aliança ao Mercosul); e Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque), entre outras;

Entrevistas:

1- Moniz Bandeira à Revista CULT

Moniz Bandeira: A teoria e a práxis se realimentam mutuamente e se corrigem

 O  cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira tem grande parte de sua vida dedicada à pesquisa acadêmica e à militância política. Na década de 1960, foi filiado ao Partido Socialista Brasileiro e, após o golpe militar no Brasil, asilou-se no Uruguai juntamente com seu amigo João Goulart. Na clandestinidade, volta ao Brasil, onde é preso por dois anos a pedido do Centro de Informações da Marinha. Após sua saída da prisão, dedica-se intensamente à carreira acadêmica. Leciona em diversas universidades até aposentar-se pela UnB.
Com mais de 20 livros publicados no Brasil e no exterior, entre eles Formação do império americano – Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque (Civilização Brasileira, 2005),  foi eleito Intelectual do Ano de 2005, vencedor do Troféu Juca Pato. A sua mais recente obra, Fórmula para o caos – A derrubada de Salvador Allende (1970 -1973)  (Civilização Brasileira, 2008) foi lançada simultaneamente no Brasil e no Chile. A expressão “fórmula para o caos”, usada por Henry Heckscher, chefe da CIA em Santiago na época do governo de Salvador Allende, designa o conjunto de operações encobertas para impedir a sua posse e, depois, para o golpe que resultaria em sua deposição.
Moniz Bandeira mora na Alemanha, de onde nos concedeu a entrevista.
CULT – O senhor desenvolveu intensa atividade política, foi perseguido pelo regime militar, asilou-se no Uruguai acompanhando o presidente João Goulart, viveu clandestinamente e esteve dois anos (1969-1970 e 1973) como preso político. Fazendo uma retrospectiva de sua vida, o que guarda desse período?
Moniz Bandeira – Guardo muitas lições. Não há melhor forma de conhecer e compreender um fenômeno político do que participando dos acontecimentos. A teoria e a práxis se realimentam mutuamente e se corrigem. Confesso que vivi, como disse Pablo Neruda, e isto enriqueceu muito a minha personalidade. Cultura não se adquire apenas com a leitura de livros, nos gabinetes, mas, em larga medida, com a experiência, participando das lutas do seu tempo. Cultura permanece, apesar de que, com a idade, a memória possa esmaecer.
O Brasil é o único país da América Latina em que nenhum torturador foi preso. O que o país deve fazer com os crimes da ditadura?
Não faz sentido pretender a revisão da lei de anistia, reabrir feridas cicatrizadas, depois de quase 30 anos. E não se pode comparar o regime militar no Brasil com o que foi implantado na Argentina e no Chile, onde houve milhares mortos e desaparecidos. No Brasil houve torturas, abuso dos direitos humanos, mas em escala muito menor que nesses outros países. Claro que não podem ser justificados, mas uma lei de anistia não pode ser parcial. Se houve anistia para os que se rebelaram, empunharam armas contra a ditadura, sequestraram diplomatas e outros crimes políticos, a lei não podia excluir do benefício os que empreenderam a repressão. É preciso não confundir a facção militar que implantou a ditadura com as Forças Armadas brasileiras, que são um instrumento do Estado-nação, sua coluna vertebral, necessário à defesa de sua soberania.
O regime militar brasileiro tentou exportar a ditadura? Estava – organizadamente – ligado às outras ditaduras?
A tendência das Forças Armadas para intervir, como instituição, no processo político da América Latina, a partir de 1960, não decorreu apenas de fatores endógenos, inerentes aos países da América Latina. Constituiu muito mais um fenômeno de política internacional continental do que de política nacional argentina, equatoriana, brasileira etc., uma vez que fora determinada, em larga medida, pela mutação que os Estados Unidos estavam promovendo na estratégia de segurança do hemisfério, redefinindo  as ameaças, com prioridade para o inimigo interno, e difundindo, através, particularmente, da Junta Interamericana de Defesa, as doutrinas de contrainsurreição e da ação cívica. O golpe de Estado no Brasil, em 1964, foi encorajado pelos Estados Unidos, da mesma forma que em outros países da América Latina, explorando, é claro, as contradições sociais e políticas internas. O governo militar no Brasil deu apoio, com base na mesma doutrina, às outras ditaduras implantadas em países da sua vizinhança, como Bolívia, Chile e Uruguai. Esse assunto eu estudo em meu último livro Fórmula para o caos – A derrubada de Salvador Allende(1970- 1973), lançado agora pela Civilização Brasileira e, no Chile, pela Random House Mondadori.
O senhor foi amigo de João Goulart. O que fizeram com ele e nunca foi revelado?
Há centenas de documentos que a CIA ainda não desclassificou. A questão da morte de João Goulart deve ser esclarecida, ante a denúncia de que foi assassinado. É uma denúncia sólida e consistente com o que foi agora revelado pelo agente da polícia preso no Uruguai. João Vicente, o filho de Goulart, está empenhado em esclarecer essa questão, e sabe que conta com todo o meu apoio, como seu amigo.
Qual é o dever de memória de uma nação?
Hegel, nas aulas sobre a filosofia da história, disse: “Recomenda-se aos governantes e estadistas o ensinamento através da experiência da história. Mas o que a experiência e a história ensinam é que os povos e governos nunca aprenderam qualquer coisa da história nem se comportam de acordo com suas lições”. Esse é o problema, a memória do Brasil é demasiadamente fraca.
O senhor sempre manteve profunda atividade intelectual e tem uma obra importante. Por que vive na Alemanha e qual é o seu método de trabalho?
Vivo na Alemanha porque estou vinculado a este país por muitos motivos, inclusive matrimonial. Minha esposa é alemã. Além do mais, minha formação intelectual foi profundamente marcada pela cultura anglo-germânica, pela literatura inglesa e pela filosofia alemã. Desde meus 15 anos de idade, comecei a ler Byron, Shakespeare, Goethe, Schiller, Hegel, Nietsche, Kant, Marx e muitos outros escritores ingleses e alemães. A Alemanha, aliás, foi o primeiro país que visitei na Europa, ao 24 anos, e sua história e política sempre me fascinaram. Quanto à equipe de pesquisadores, no momento, não conto com nenhuma. Contei, sim, quando escrevi O feudo – A casa da torre de Garcia d’Ávila (da conquista dos sertões à independência do Brasil), porque tive recursos. Mas a pesquisa é um trabalho acumulativo. Cada vez que pesquisei para um livro, nos diversos arquivos, encontrei material que me interessava e guardei para usá-lo quando necessário. Sobre o Chile, desde 1973, quando ocorreu a queda de Allende, venho guardando informações, recortes de jornal, os relatórios das investigações feitas pelo Senado dos Estados Unidos, entre 1974 e 1975, documentos da CIA desclassificados por pressão do professor Peter Kornbluh, livros, etc. Felizmente, pude agora recorrer à documentação que o Itamaraty desclassificou, atendendo à minha solicitação, com base legal, pois o prazo de 30 anos já havia passado.
Como o senhor conheceu Salvador Allende?
Conheci, ligeiramente, durante uma visita que ele fez a João Goulart, em Montevidéu, em 1964, alguns meses depois do golpe militar no Brasil. Allende era candidato à presidência do Chile e dizia que lá era difícil um golpe de Estado porque o exército era legalista.
Qual a influência dos “Chicago boys”, seguidores das teses de Milton Friedman, para a recuperação da economia chilena?
O que os “Chicago boys” fizeram foi destruir a indústria que havia no Chile. O Chile continua a depender das exportações de cobre, cuja receita em larga medida se destina aos gastos com as Forças Armadas. É um modelo perverso, apesar de que tenha promovido certa modernização no país.
A única experiência do século 20 de tentativa de realização para um socialismo democrático foi a proposta por Salvador Allende. Ele foi eleito pelo voto, não tirou o peso do congresso, não fez uma revolução. Caso tivesse conseguido exercer seu pensamento político, o mundo, hoje, seria diferente?
O projeto de implantar o socialismo no Chile, ainda que por via pacífica, “com vinhos e empadas”, era, sob todos os aspectos, inviável. Ele tentou mudar o modo de produção capitalista, o que era inteiramente impossível em um país isolado, economicamente atrasado e dependente do mercado externo, não apenas para a colocação do cobre, principal suporte de sua economia, como até para a importação de alimentos. Esse foi o calcanhar de Aquiles: tentar realizar um projeto inviável tanto por fatores internos como externos.
Em que sentido os episódios de maio de 68 influenciaram a experiência chilena?
O que inspirou basicamente a experiência que Allende tentou realizar, por via pacífica, foi a revolução cubana. E é claro que os episódios de maio de 1968 haviam criado um clima.
Fórmula para o caos mostra que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a junta militar chilena, enviou para lá militares e abriu o caixa do Banco do Brasil, com uma linha de crédito de US$ 200 milhões. O senhor pode falar sobre isso?
Durante a Guerra Fria, envolvendo a América do Sul, era inevitável que, de acordo com as doutrinas disseminadas pelo Pentágono através da Junta Interamericana de Defesa, as Forças Armadas brasileiras, através de seus serviços de inteligência, interviessem em outros países, como Uruguai, Bolívia e Chile, para reprimir o que concebiam como ameaça comunista. Ocorreu um entrelaçamento entre a política internacional e a política nacional em todos os países da América Latina e de outras regiões.
Nas décadas seguintes ao golpe no Chile, jornais destacaram o general Augusto Pinochet como bom gestor econômico e enalteciam o regime militar para a economia chilena. Recentemente, o prefeito do Rio de Janeiro César Maia, que esteve exilado no Chile, escreveu uma matéria sobre os episódios. Fórmula para o caos é revelador. O senhor acredita que agora, finalmente, a história está contada?
Não levo a sério nada que César Maia escreve. O que sei é que a mãe dele, a Sra. Dalila Ribeiro de Almeida Maia, procurou o embaixador Câmara Canto e disse que César Maia estava arrependido, “inteiramente desencantado com a política e o esquerdismo”, desejava voltar ao Brasil e estava disposto a assinar “qualquer tipo de compromisso”, que o governo militar quisesse, no sentido de seu “arrependimento”, sua “firme intenção de abandonar” quaisquer atividades políticas que o governo militar quisesse. Há um telegrama do embaixador Câmara Canto informando essa gestão ao Itamaraty. Trata-se do telegrama n° 1136, secreto, com distribuição para a Divisão de Segurança e Informações (DSI), datado de 1 de dezembro de 1973.
2- Pedro Augusto Pinho
à Pátria Latina

“O dia em que o morro descer e não for carnaval

 Não vai nem dar tempo de ter o ensaio geral” (Wilson das Neves)

Pedro Augusto Pinho*   
No Brasil e nas nações em geral temos duas histórias: a narrada pelos colonizadores e a vivida pela população.
Para que possamos distingui-las claramente, alguns conceitos são necessários.
A SOBERANIA
O mais importante deles é a soberania.
O que é ser nação independente? É a que tem soberania. Mas que soberania? Não é só apresentar-se como um País, reconhecido pela autonomia formal com que ocupa assento em foros internacionais. Esta soberania, que adjetivaremos política, só é efetiva se a ela acrescentarmos as soberanias econômica, tecnológica e social.
A soberania econômica está na capacidade de produzir tudo que é indispensável para a existência de seu povo e poder, sem ressalva alguma, determinar quantidades e qualidades a serem produzidas. Vê-se, por conseguinte, que além de estreita vinculação com a soberania tecnológica, a soberania econômica caminha com a industrialização nacional. Um país exportador de produtos primários, de seus recursos naturais não processados e industrializados, não é nação independente.
A soberania tecnológica é a que possibilita um país produzir tudo que o proteja e defenda dos interesses estrangeiros. Um país, neste século XXI, que não tiver controle nacional de todas as fontes de energia, de toda tecnologia para  produção, transmissão e recepção da informação – por exemplo: construir drones para fins militares, apenas com seus próprios recursos e desenvolver seus sistemas e linguagens na informática – de produzir seus veículos aeroespaciais e capacidade de explorar e administrar todos seus recursos naturais, não é nação independente.
Por fim, mais em primeiro lugar na importância das soberanias, a soberania social, isto é, um país sem escravos, um país de cidadãos. O que é ser cidadão? Não é apenas comparecer periodicamente à urna eleitoral; isto é a participação, que um cidadão livremente exercerá. Cidadão é ser um par, um igual, que não se submete a nenhum outro para viver, aprender e se expressar. Daí que a cidadania é uma construção permanente, um dever de Estado, e, como é óbvio, vai garantir a existência, a consciência e a vocalização de todos seus nacionais. Um país onde exista miséria, não é nação independente.
A COLÔNIA BRASILEIRA DE 1500 A 1920
Podemos distinguir, em nossa história, quatro fases coloniais.
A primeira, a única que pode ser encontrada em todos os livros de história, é do Brasil colônia de Portugal. Este período começa em 1500 e termina mais ou menos em 1808.
Nele lutou-se pela independência política. E produziu seus heróis e traidores, sendo os mais conhecidos Tiradentes e Joaquim Silvério dos Reis, respectivamente. Mas não foram os únicos. Como não tenho objetivo de ser exaustivo, apenas recordarei a Conjuração Baiana, de 1798, onde se luta pela soberania social ao lado da soberania política. Seus heróis foram Lucas Dantas, Manoel Faustino, Luis Gonzaga, João de Deus e o escravo Antônio José, envenenado na prisão.
O segundo período colonial brasileiro foi da submissão à Inglaterra. Ele começa com a chegada da família real portuguesa ao Brasil e termina, aproximadamente, com os movimentos tenentistas dos anos 1920.
O mais notável e triste caso de heroísmo e traição foi a Cabanagem, ocorrido entre 1835 e 1840. Com a vinda da corte portuguesa, a Inglaterra e Portugal assinaram Tratados de Aliança e Amizade e de Comércio e Navegação. Estes documentos concediam aos ingleses vantagens alfandegárias e comerciais que prejudicavam os que já haviam se estabelecido no Brasil. A Província do Grão-Pará, afastada das metrópoles, formara, na expressão do historiador Renato Guimarães, “com índios, mestiços e negros, a grande massa trabalhadora, calada durante séculos, mas não esquecida da brutalidade do tratamento nas aldeias e senzalas”.
Ideais das revoluções americana e francesa, chegados ao Grão-Pará, fermentaram os pensamentos libertários que a invasão da Guiana Francesa (1808 a 1817) pelos portugueses só fez aguçar. Diversos intelectuais, comerciantes, religiosos participaram deste movimento: Cônego Batista Campos, os irmãos Vinagre (Antônio, José, Manoel, Raimundo e Francisco), os imigrantes cearenses Geraldo, Manuel e Eduardo, Felix Antônio Clemente Malcher e Eduardo Francisco Nogueira Angelim. O grande traidor foi o padre Diogo Antônio Feijó que, reunido com representantes da França e da Inglaterra, além de Francisco de Andréa, barão de Caçapava, promoveu dos maiores assassinatos de nossa história. Naquela pouco povoada área, 30 mil pessoas foram dizimadas, sem cômputo dos índios, nunca conhecido. E com o cinismo que os colonizadores sempre trataram os colonizados, o dia que formalizou o fim da Cabanagem foi denominado “Dia da Pacificação”.
A Inglaterra desenvolveu um sistema colonizador baseado na dívida e na dominação política. No caso brasileiro, o Império fez as vezes da ocupação política, onde a Guerra do Paraguai, sem qualquer interesse nacional brasileiro, é o mais doloroso exemplo. Morremos para que a Inglaterra não tivesse opositor industrial na América do Sul. O caso de Delmiro Gouveia (1863/1917) é outro exemplo, na mesma linha de aniquilamento pelo colonialismo inglês.
Dois historiadores ingleses, Peter J. Cain e Antony G. Hopkins, escreveram alentado “British Imperialism 1688-2015”, com 3ª edição pela Routledge, NY/London, em 2016. Dedicam ao Brasil alguns tópicos. Sobre o período desta nossa era colonial, escrevem, em tradução livre. “Não surpreende que o Brasil tenha sido praticamente conhecido como um protetorado inglês durante a primeira fase de sua independência”. E, com franqueza (ou canalhice?), afirmam que “malgrado a longa associação com a monarquia brasileira a City não prolongaria seu sentimento a ponto de apoiar um perdedor”.
Também estes historiadores britânicos ressaltam que, na segunda década do século XX, os capitais ingleses estavam perdendo influência para a crescente presença dos Estados Unidos da América (EUA).
Fecho este tópico com as referências de heróis e traidores. Do citado “British Imperialism 1688-2015” transcrevo, em tradução livre: “Os ministros brasileiros em Londres eram tão anglófilos que Lord Salisbury ironizava se algum ainda poderia falar português”. Sobre André Rebouças afirmar que “os benéficos efeitos do capital estrangeiro, principalmente originado em Londres, graças à sabedoria da raça anglo-saxã, eram um tesouro para o mundo”.
Mas não se espante com estas sabujices, caro leitor. O tão elogiado Joaquim Nabuco, segundo Cain e Hopkins, teria afirmado: “quando eu entro na Câmara (de deputados britânicos ) sou inteiramente tomado pela influência do liberalismo inglês, como se trabalhasse sob as ordens de Gladstone. É o resultado de minha educação política: eu sou um inglês liberal, no parlamento brasileiro”.
A COLÔNIA BRASILEIRA DE 1920 A 1995
Por todo este período o Brasil foi dominado pelos EUA. Algumas considerações são importantes para compreendermos as mutações e os acordos dentro da elite brasileira. O conceito de elite que uso é bastante restrito, designa as forças mais significativas do poder, que orientam os governos e se associam ao exterior para os golpes nos governos nacionalistas e populares.
A industrialização foi, por toda parte, conduzida pelo Estado. Nos EUA, que mais fortemente influenciou o Brasil, foi o Estado que garantiu, com as obras de infraestrutura – principalmente, mas não somente, ferroviárias – a indústria siderúrgica, mecânica, elétrica e tantas outras que proporcionaram uma acumulação de capital, com o qual os EUA, primeiro a oeste do próprio território, depois na expansão pela Ásia e Oceania, construisse o Imperialismo Estadunidense. O outro modelo de industrialização, também conduzido pelo Estado, só diferia do estadunidense pela distribuição dos lucros.
Os lucros, nos EUA, eram dirigidos a uma pequena parte da população, que denominaremos capitalistas. Na industrialização soviética, os lucros eram apropriados pelo Estado e serviam para as políticas nacionais.
No caso dos EUA, todos que não fossem os capitalistas tinham pouca influência no poder, nos modelos socialistas o poder estava no partido político e mais precisamente em sua cúpula.
O projeto industrial brasileiro começa com a influência estadunidense na jovem oficialidade – os tenentes – e se opõe à elite rural, associada da Inglaterra. Diversas variáveis também interferem para que se desague esta disputa na Revolução de Trinta. Neste movimento havia o não estruturado projeto industrial desenvolvimentista e a primeira tentativa de resolver a questão da escravidão deixada pelo Império Brasileiro. A continuidade dos males da escravidão e sua própria permanência são, ainda hoje, empecilho ao atingimento da soberania brasileira.
O início da II Grande Guerra, levando os impérios coloniais do Atlântico Norte a reestruturarem suas pautas de prioridades, possibilitou uma aglutinação dos poderes nacionais no projeto desenvolvimentista. Assim a tentativa de reconstruir a colonização inglesa pelo poder fundiário paulista, em 1932, não ganhou adesão e foi derrotada.
Tão logo encerra a guerra, e como já recomendara o assessor dos governos dos EUA, o industrial e depois banqueiro, Nelson Rockefeller, os EUA voltam ao seu projeto colonial.
Se no período inglês, o nacionalismo, o patriotismo era combatido, com desmoralizações e assassinatos; no período estadunidense, o inimigo será a outra filosofia industrial: o socialismo. Comunismo será identificado à peste bíblica e se criará – lembrar que a comunicação de massa explodia (propaganda de produtos, televisão, Hollywood, revistas multicoloridas e discorrendo sobre todos os assuntos) – o mito ideológico e o discurso (que se tornará fonte de riqueza) do anticomunismo. Como em toda guerra, e os EUA serão extraordinariamente belicosos, visto inclusive como qualidade a ser conquistada, a verdade é a primeira vítima. A campanha anticomunista irá misturar o Estado, a industrialização nacional e a autonomia brasileira, com total prejuízo para nossa soberania.
Surgem os golpes de estado, preparados e financiados pelas instituições estadunidenses especializadas: 1945, 1954, 1964. Todos para impedir a soberania econômica e tecnológica brasileira.
São os traidores da Pátria, neste período colonial, quase sempre aqueles ligados à economia e às finanças: Eugênio Gudin (veja sua atuação contra o interesse brasileiro na exploração do petróleo boliviano e na criação da Siderúrgica de Volta Redonda), Octavio Gouveia de Bulhões e Roberto de Oliveira Campos (defendendo legislação de interesse das empresas estrangeiras e manipulando câmbio e dados da economia brasileira) e outros. Na lista dos heróis temos Getúlio Vargas, estadista que ainda hoje assombra os entreguistas nativos, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Leonel Brizola.
Um momento controvertido deste período colonial foi o governo militar de 1964 a 1985. Não o discutirei aqui, mas tenho a compreensão que neste período tivemos três posturas distintas na questão da soberania: do governo Castello Branco, do governo Costa e Silva ao governo Ernesto Geisel e do governo João Figueiredo.
Pela complexidade e por estar nos atingindo no cotidiano atual, deixarei algumas considerações sobre o período colonial de influência estadunidense para tratar do banca.
A COLÔNIA BRASILEIRA A PARTIR DE 1995: O DOMÍNIO DA BANCA
Denomino banca o sistema financeiro internacional, pois são os bancos sua face mais visível. Pela primeira vez em nossa história não estamos subordinados a um poder ou império nacional. Estar colonizado por um sistema cria novas formas de analisar e agir.
Sair às ruas contra um tanque e ainda mais se for um tanque de outro país é primário. Levar às ruas contra um sistema que parece ser único e compulsório, não tem rosto nem endereço e faz a mais completa e profunda lavagem cerebral em todos é uma tarefa titânica. Daí este colonizador se denominar, pomposamente, nova ordem mundial.
Algumas considerações sobre sua origem. Se o planejamento na era do capital industrial era combatido como coisa de Estado totalitário, ação de comunista, mas do qual nenhum poder imperial descartava, na ação da banca é fundamental.
A banca não tem um único benefício para oferecer, mas tem todos os malefícios para proporcionar, até a seus serviçais. Tudo se transforma num jogo. Lembram que toda área econômica do governo FHC só tratava de aposta? Não era uma simples forma de expressão, mas, como todo homem da banca, a especulação é o modo corrente de agir. Assim, ao mudar um objetivo ou um parâmetro econômico, eles diziam: estou apostando nisso ou naquilo.
A banca tem origem no colonialismo financeiro inglês, mas ganhou nova dimensão e forma com o neoliberalismo – Thatcher e Reagan – com o qual aglutinou interesses lícitos e ilícitos da gestão internacional do capital financeiro – globalização. Desta maneira a banca está no controle de empresas industriais, das grandes petroleiras, do tráfico de drogas, nas migrações provocadas pelas guerras, na comunicação de massa e mesmo em Estados Nacionais.
Seu modelo concentrador de renda coloca os próprios capitais que a formam em disputa. Desde quando acompanho, por fontes indiretas, suas movimentações, já pude observar que capitais que eram importantes oito, dez anos antes, se desfaziam ou fluíam para outras áreas.
O Brasil não foi expressivo para a banca depois do retorno à democracia parlamentar e com a prova dos testes eleitorais de Fernando Collor e Fernando Cardoso. Ela pode constatar que o núcleo do poder brasileiro permanecia o mesmo do início do século XX: escravista e rentista, ou seja, um aliado seguro.
A descoberta do petróleo no pré-sal, o aumento das reservas de nióbio, os aquíferos e a possibilidade de controle das águas potáveis e antes da construção da consciência cidadã (que as políticas públicas dos governos do Partido dos Trabalhadores poderia atingir) fez com que fosse planejado o golpe de 2016.
Este começou na doutrinação e na corrupção do poder judiciário pois a experiência do uso de militares não deixara a banca satisfeita. Houve governos que buscaram executar o projeto industrial desenvolvimentistas dos tenentes de 1920.
O atento leitor não terá dificuldade de associar o desmonte da indústria brasileira, os programas de privatização, a criminalização das empresas privadas e estatais com as sentenças ou engavetamento de processos, em todos os níveis do poder judiciário.
Também facilmente verificará a classe média entorpecida, incapaz de vislumbrar seu umbigo, agindo contra seus próprios interesses de médio prazo. Também, como muitos analistas apontam, o ódio ancestral ao escravo – que produziu a riqueza transferida pelo Império aos cofres ingleses – e a extrema pobreza, a miséria mostrando a perigosa realidade social brasileira, que desnuda a ação autodestrutiva desta classe. Não discordo destes analistas, mas acrescento a didática colonial que serve como um véu a encobrir e mascarar o conhecimento do Brasil, de seus heróis e seus inimigos ou traidores.
Embora esta digressão não termine aqui, já podemos colocar a questão: qual o sentido da intervenção militar no Rio de Janeiro?
Como sempre uma soma de estímulos e ações que vão desde a visão de longo prazo da banca à mesquinharia da inveja do carro novo do vizinho.
Primeiro temos que reconhecer que vivemos, hoje, sob um governo totalitário. O que é isto? Segundo o grande pensador contemporâneo Noam Chomsky, é quando o governo controla as pessoas pelos cassetetes ou fabricando consciência através da propaganda, da criação de ilusões, e marginalizando o povo em geral, reduzindo-o a alguma forma de apatia. Não é a perfeita descrição nossa de cada dia?
Mas por que uma prova a mais para o legislativo e o judiciário? De início, e em se tratando da banca, para explicar a nova e substantiva transferência de recursos do público para o privado. Isto irrigará ainda mais os jardins que fluem para banca.
Mas há a questão da inveja, como apresentei. Ela está nas eleições de 2018 que podem mudar o cenário político brasileiro e, portanto, devem ser “reorganizadas” e, se não houver outro meio, canceladas. A intervenção no Estado, que nem é o mais violento da “Federação”, justificaria sua ampliação. Também se procura envolver as Forças Armadas, em especial o Exército, de onde tem surgidos  pronunciamentos críticos ao governo golpista. Houve quem visse igualmente a penetração do Primeiro Comando da Capital (PCC) de São Paulo em outras áreas do País, especialmente o Rio de Janeiro. Há sentido quando constatamos o envolvimento de senadores ligados ao golpe e outras pessoas de proa neste governo ligadas, de algum modo, à criminalidade organizada de São Paulo e ao tráfico de drogas.
Poderíamos continuar explorando possibilidades ou, na linguagem da banca, especulando. Mas creio que já temos a lição aprendida: é indispensável a união de todos os que lutam pela soberania nacional, esquecendo feridas antigas, para finalmente assegurarmos nossa verdadeira independência.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado 

Outros links

Moniz Bandeira, em entrevista à Carta Maior

A CIA se tornou uma organização paramlitar
"A CIA se converteu em uma organização paramilitar", diz Moniz Bandeira Em entrevista à Carta Maior, o historiador e cientista político Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira aponta a ação clandestina de forças especiais dos Estados Unidos, Inglaterra e França nos conflitos da Líbia e Síria e critica a política externa do governo Barack Obama que usa os direitos humanos para justificar intervenções em qualquer parte do mundo. "A CIA mais e mais se torna uma força paramilitar, deixando de ser uma agência de espionagem e coleta de inteligência. Os drones, aviões sem pilotos, teleguiados pela CIA, já mataram, desde 2001, mais de 2.000 supostos militantes e civis em vários países", afirma Moniz Bandeira.
A ousadia de Lula desencadeou a guerra híbrida dos EUA contra o interesse nacional

https://josecarloslima.blogspot.com/2018/03/a-ousadia-de-lula-desencadeou-guerra.html


Guardar no escaninho do Spin Imperil

Um comentário:

leonardo-pe disse...

Lula com sua BURRICE, preferiu dar consumo as famílias sem a devida politização das massas. Hugo Chavez na Venezuela não foi trouxa. assim que foi Libertado do Cativeiro, fez uma maciça politização das massas culminando com a cassação da RIV Tv(emissora que apoiou o golpe em 2002,depois fracassado!).aqui o PT, queria o apoio da grande imprensa e classe media mesmo se humilhando. Dilma conseguiu ser pior. se ridicularizou mais ainda. e não foi por falta de avisos. o resultado é esse que estamos vendo. uma sociedade cada vez mais idiota. uma imprensa que racha de rir da nossa cara e um partido,uma ex presidente e um ex presidente ridicularizados! pior é Lula querer ser candidato quando era pra ter sido em 2014!