08/10/2011

A crítica simplista da arte contemporâna

No Luis Nassif Online, interessantes comentários sobre a arte contemporânea.
A polêmica surgiu a parte  deste texto(clique aqui) de Mino Carta.

Comentários do post "Desabafo: Os Gênios da Fumaça"

Por Fernando Lamanna

O movimento dito contemporãneo das artes plásticas é um assunto complexo e terreno de disputas. Acusar os artistas, curadores e galerias de serem cúmplices da "decadência" do mundo moderno é o argumento mais tolo, mais simplista e ingênuo que já vi. Quem viu o último filme do Woody Allen consegue fazer algumas analogias com as idéias do Mino. No filme, o escritor volta aos anos 20 de Paris e  elege essa década como a década perfeita, tempo em que gostaria de ter vivido. O presente sempre será um tempo pior do que o passado. A renascimento sempre será muito melhor do que o modernismo. Representar a figura humana à perfeição, como ninguém melhor que Michelangelo faz, sempre será melhor do que criar imagens abstratas, aquelas horríveis do cubismo de Picasso.

A crítica é simplista porque ignora uma miríade de acontecimentos históricos que influem nas artes e vice-versa: a invenção da fotografia e do cinema, a revolução russa, as guerras mundiais, a industrialização, a corrida espacial, a computação, a eletrônica ... O Mino deveria saber que existe um elo direto de ligação entre o cubismo de Picasso e o design do carro que ele dirige.

te um elo entre o construtivismo de Malevitch e o primeiro satélite russo. É muito fácil falar mal da arte contemporânea por ela ter abandonado a representação, porque nós nem sequer entendemos o modernismo, nós não temos consciência do que foi esse movimento na modelagem do mundo em que vivemos. Eu acho de muita má fé que, por ignorância, acuse-se a arte contemporãnea de "decadente"..

Por Pedro Germano Leal

Apesar do meu respeito pelo Mino Carta, ele comete um grave erro de raciocínio neste texto (que, me perdoem, é muito ruim). Explico:

1. Se o Mino reconhece que seu pai lhe ensinou que "a arte é um fenômeno sociológico”, a resposta para sua pergunta ("já não se fazem gênios como antigamente?") é óbvia: haver gênios (na arte) é algo que depende de um contexto socio-cultural. Quer dizer, o Mino oferece, como premissa, o que seria a própria conclusão do raciocínio;


2. A própria noção da arte como um fenômeno social faz cair por terra essa noção de genialidade. Não que Michelangelo ou Da Vinci não sejam geniais (na acepção mais comum da palavra), mas a idéia de alguém que é simplesmente 'iluminado' nada tem a ver com a compreensão de sua genialidade enquanto resultado de uma série de fatores que vão além de sua própria habilidade, mas da maneira com que seu contexto se apropriou dela, e a enalteceu (tal como ocorreu com esses artistas). A atribuição do rótulo de 'genialidade' pode ser dada tanto por uma elite contemporânea, quanto por um cânone que elege seus escolhidos. Entre os poetas italianos, acredito que Andrea Alciato foi o mais influente da Renascença, e no entanto, nem ocorreu ao Mino citá-lo: ele é hoje quase desconhecido (não existe sequer uma tradução completa de seus Emblemas para o português, por exemplo). Isto quer dizer que ele não era um gênio? Como se assim o consideraram grandes poetas do séc. XVI ou XVII?

3. Quer dizer, todo esse endeusamento do ato da criação artística, por parte do Mino, é profundamente confuso. Nada tem a ver com uma aproximação histórica ou sociológica da arte. É mais próximo do senso comum do que da crítica ou história da arte; para muitos, foi uma revolução ver o artista como um trabalhador, e não como alguém que simplesmente 'ganhou um dom divino' - e é por isso que o texto do Mino me parece ainda mais confuso;

4. Poderíamos nos perguntar: não existem gênios por aí? Eu enumeraria centenas, a depender do critério, que não ostentam este título por razões sociológicas, e não artísticas. Podemos estar diante, portanto, de um apelo ao absurdo: como o Mino não conhece (apesar da sua tentativa simplória de enumerar alguns artistas), não existe! Ora! Não é assim que a banda toca.

Para manter-me neste espírito itálico, e também pretender alguma cultura, deixo para o Carta o lembrete de um amigo romano: Ne ultram crepidam, Minus!

FONTE: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-critica-simplista-da-arte-contemporana

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