11/09/2009

Aula da Inquietação

“Os sonhos movem a ciência”, afirma Miguel Nicolelis

Cientista convidado para a Aula da Inquietação quebrou protocolos e emocionou o público de 2,5 mil pessoas que participou do encontro


Priscilla Borges - Da Secretaria de Comunicação da UnB

De um encontro impossível com um hóspede inquieto, estudantes, professores e funcionários da Universidade de Brasília ganharam inspiração. Descobriram que probabilidades e improbabilidades podem falhar. Ouviram um respeitado cientista afirmar com veemência que a mola propulsora da ciência e das transformações da sociedade nada mais é que o sonho.

Em quase duas horas de bate-papo com a comunidade acadêmica, o cientista paulistano Miguel Nicolelis arrancou aplausos, sorrisos e lágrimas das 2,5 mil pessoas que assistiram à segunda Aula da Inquietação, encontro que marca o início do semestre na universidade. Depois de ser ovacionado pela plateia enquanto o reitor José Geraldo de Sousa Junior o apresentava, ele surpreendeu o público quebrando protocolos.

O paulistano de 48 anos decidiu se aproximar dos estudantes e professores aglomerados nas arquibancadas do Teatro de Arena. “Como hóspede inquieto, meu primeiro ato de inquietação será descer do palanque e conversar ao lado de vocês”, informou o chefe do prestigiado laboratório de Neuroengenharia da Universidade de Duke, da Carolina do Norte, Estados Unidos.

"Tenho uma boa e uma má notícia. A boa é que o primeiro passo foi dado, vocês estão aqui, parabéns. A má é que essa era a parte mais fácil", avisou. "O difícil começa agora: vocês entraram em um lugar que foi construído por brasileiros que não estão aqui, vocês representam sonhos de quem nunca poderá estar aqui. Humildemente, representando esses brasileiros, só espero uma coisa de vocês: que tentem alcançar o impossível”, provocou.

Nicolelis lembrou aos presentes que todos estavam diante de um acontecimento que, pensado em termos de probabilidades, jamais poderia acontecer. Gente dos mais variados estados – ele fez questão de perguntar onde nasceram as pessoas que ouviam atentamente a palestra – reunida em uma cidade que foi considerada por muitos impossível de ser construída. “A probabilidade é zero, mas nós estamos aqui. A ciência nos ensina exatamente isso: não existe sonho impossível”, afirmou.

Alcançar objetivos, como ele mesmo lembrou, significa percorrer dificuldades. Nicolelis pediu aos alunos que não desistissem dos próprios sonhos diante das críticas ou das dúvidas de quem estivesse por perto. “As pessoas têm medo daqueles que continuam sonhando com o impossível. Se vocês tiverem medo, não tentem dissuadir o próximo que quer seguir esse caminho. Mesmo o fracasso vale a pena. Rejeitem a mediocridade”, recomendou.

Roberto Fleury/UnB Agência

REALIDADE – Nicolelis criou um Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra em Natal, no Rio Grande do Norte. Apelidado de campus do cérebro, está trazendo de volta para o país pesquisadores brasileiros que viviam no exterior e ensinando às crianças carentes da periferia da cidade a beleza da ciência.

Na opinião do cientista, essa é a primeira geração que tem a verdadeira chance de transformar o Brasil em exemplo para o mundo. “A ideia, que chamamos de Brasília Científica, foi considerada delirante. Agora, 1 mil crianças estão estudando em uma escola de ciência infanto-juvenil. Em breve, serão cinco mil e queremos chegar a um milhão”, contou.

“O primeiro mundo faliu em todos os sentidos - financeiramente, eticamente e moralmente. O primeiro mundo agora é aqui e será construído por vocês, caso vocês optem por aceitar o desafio”, instigou. A plateia o aplaudiu de pé ao final da aula.

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