03/10/2010

A desqualificação do voto dos pobres

Com a palavra, Maria Rita Khel

Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

(...)


O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

Aqui o texto na íntegra:A desqualificação do voto do pobre

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O eleitor, por Maria Cristina Fernandes

by luisnassif
Do Valor
A hora e a vez de Sua Excelência
É um eleitor que consome mais informação e, potencialmente, demanda mais do poder público. Paradoxalmente, o ingresso desses emergentes à informação e ao consumo também aumenta a ansiedade em relação à manutenção dos seus ganhos e os torna suscetíveis à volatilidade eleitoral, como demonstram as planilhas das últimas semanas.
São esses eleitores que carregarão, para uma eleição futura, o que Wanderley Guilherme dos Santos em artigo neste Valor (29/09) definiu como o germe do conservadorismo: dada a percepção de que mobilidade social pode estar se aproximando de seu limite, a preservação das conquistas pode acabar sendo a barganha eleitoral mais atraente.
O eleitor aprendeu a votar por cálculo porque nesse amadurecimento das eleições consecutivas já viu de tudo. Acreditou no voluntarismo de punhos cerrados, na moeda que redimiria o país e naquele que viria de baixo para passar a história a limpo. Deu-se conta de que seu voto construiu aventureiros, prorrogou ilusões e varreu para baixo do tapete verdades inconvenientes. Mas descobriu também que votando ajudou a derrotar a inflação e fomentar políticas públicas pela melhor distribuição de renda.
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