05/10/2009

Heloisa Villela, em Honduras: "Nada me chocou mais do que o encontro dos deputados brasileiros com Micheletti"

Por Conceição Lemes - no blog do Luis Carlos Azenha

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Viomundo – Na quinta-feira, os deputados federais Roberto Jungman (PPS-PE), Claudio Cajado (DEM-BA), Bruno Araújo (PSDB-PE), Maurício Rands (PT-PE), Ivan Valente (PSOL-SP)e Janete Pietá (PT-SP)estiveram em Tegucigalpa. Conversaram com parlamentares locais, com o presidente deposto e Manuel Zelaya. No final, os quatro primeiros se reuniram durante quase duas horas com Roberto Micheletti. Esse encontro fazia parte da agenda?

Heloisa Villela – Não. Por isso mesmo os deputados Ivan Valente e Janete Pietá se recusaram a participar. Os dois ficaram irritadíssimos, pois o encontro não estava previsto e que não era o combinado. Testemunhei os seis parlamentares no elevador discutindo, mas o Ivan e a Janete não conseguiram convencer os outros. E acabou acontecendo aquele encontro.

Viomundo – Eles viram que você estava no elevador?

Heloisa Villela – O Raul Jungman, do PPS, percebeu que o cinegrafista da Record, Joaquim Leite Neto, estava gravando, e só dizia assim: "Ivanzinho, por favor". E o Ivan balançava a cabeça.

Viomundo – Na matéria que foi ao ar no JR, a imagem que me marcou foi a do Micheletti e dos parlamentares rindo. Foi esse mesmo o clima do encontro? Os quatro apertaram a mão manchada de sangue do Micheletti?

Heloisa Villela – O tom amistoso e a troca de gracinhas foram irritantes. Não houve cobrança e sim bate-papo. Perguntei ao Micheletti se a presença deputados brasileiros significava um reconhecimento do governo. Ele disse que os parlamentares não tem esse papel, mas completou: "Espero que eles me ajudem". Eles não só apertaram a mão do Micheletti como pousaram para foto, todos juntos.

Viomundo – Como eles defenderam a visita ao Micheletti?

Heloisa Villela – Que graças à visita ao Micheletti, eles conseguiram a garantia de que a integridade da embaixada brasileira jamais será violada. Isso não é correto. Essa garantia já havia sido dada, por Micheletti, há dias. Eles também disseram que, na conversa, pediram que as linhas de telefone da embaixada fossem restabelecidas e que o golpista prometeu fazer o favor. Nossa... que favor!

Viomundo – É verdade que o encontro foi regado a vinho e comidinhas?

Heloisa Villela – Infelizmente, é. Na hora acabou o encontro, eu disse ao Mauricio Rands, que tinha sido informada há poucos minutos da provável transferência dos camponeses para um presídio de segurança máxima, onde some muita gente. E perguntei como ele se sentia ao apertar a mão do representante do governo que estava fazendo isso. Ele não respondeu. Não se referiu a direitos humanos, direitos civis, nada. Ficou apenas repetindo o discurso ensaiado de véspera. E pior. Disse que a OEA vai negociar também com os golpistas. Quando comentei que a OEA tem mandato para isso, ele saiu sem dizer mais nada. Uma decepção...

Viomundo – Na sua permanência em Honduras, qual o acontecimento que mais te chocou?

Heloisa Villela – Nada me chocou mais do que esse encontro dos deputados brasileiros com o Micheletti. Nem o cerco policial e militar à embaixada brasileira. Na verdade, uma barricada humana, que fica ali dia e noite. A grande maioria deles, meninos de 18 a 20 anos que vem do interior para garantir um sustento trabalhando na polícia e nas forças armadas. Aposto que muitos estão com o Zelaya. O Tenente Molina, porta-voz da polícia, disse abertamente que está com o presidente Zelaya. Mas ver nossos representantes fazendo aquele papelão, para jogar para a platéia no Brasil ou tentar com isso criticar o governo brasileiro, que não negocia com golpistas, realmente me deixou superchocada. Confesso, tremia de raiva na hora que fiz a primeira pergunta ao Rands.

Viomundo – Você esteve frente a frente com o Micheletti. Que impressão ficou?

Heloisa Villela – A impressão que tive foi a que já tinha antes de ir para Honduras. Ele pode ser alto, baixo, gordo, magro, jovem, idoso. Não importa. É um político que sempre desejou a presidência e nunca chegou lá pelo voto. Agora que usurpou o poder, não quer largar o osso. Se conta piada ou é carrancudo, não faz a menor diferença. Ele, agora, é apenas isso: o chefe da gangue que deu o golpe de estado em Honduras.

Aqui a entrevista completa


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Mino: A glória e a infâmia

Atualizado em 05 de outubro de 2009 às 08:19 | Publicado em 05 de outubro de 2009 às 08:18

A glória e a infâmia

Por Mino Carta, na Carta Capital

Há coisas do Brasil louvadas mundo afora, e não me refiro às ações da Petrobras e da Vale. Falo do refúgio dado pela embaixada brasileira em Tegucigalpa ao presidente José Manuel Zelaya. Há coisas do Brasil verberadas País adentro. Falo da mesma posição que o resto do planeta aprecia e que já começa a provar seu acerto.

Coisas nossas, diria o sambista. Típicas. Clássicas. Com raras exceções, a mídia nativa condena irreparavelmente o presidente Lula e o Itamaraty, réus por terem garantido abrigo a um presidente deposto por mais um golpe de Estado nesta América Latina ainda tão distante da contemporaneidade. Ou, se quiserem, de um ideal de contemporaneidade.

Aqui o texto completo
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Chicaneiros e Sofistas - por Miguel do Rosário, em seu blog



(Leonel Obando, artista hondurenho)


Depois de Merval Pereira, do Globo, ter citado artigo de Dalmo Dallari no qual o jurista defende o golpe em Honduras – dizendo que não foi golpe -, a Folha de São Paulo, reproduz o texto na edição deste sábado. Com um detalhe importante: o artigo vem publicado na própria seção Mundo, ao lado das notícias, e não na parte reservada às opiniões.

O fato de Dallari ser ligado ao PT é um trunfo. A mídia conservadora está sempre à cata de petistas cujas opiniões lhe seja útil. Recentemente, Dallari também elogiou o espancamento de estudantes e professores da USP, durante os conflitos decorrentes de uma greve, e suas palavras também pareceram cair como maná dos céus para editorialistas meio acuados na posição desconfortável de isentar ou defender o governador José Serra.

Desta vez, novamente, a opinião dallariana soa como trombeta salvadora, principalmente para aqueles que, como Merval Pereira, apostaram seu prestígio na defesa de um golpe condenado mundialmente.

Acontece que o artigo de Dallari é um amontoado de besteiras.

Aqui o texto completo
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